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Comportamento

Entre trens e espetinhos, lá se vão 50 anos de seu Jair na Esplanada

Jair trabalhou 29 anos na Estação Ferroviária, aposentado montou um espetinho no mesmo local que já funciona há 20 anos

Lucas Mamédio | 20/06/2020 07:41
Atrás de Jair o lugar onde trabalhou na época da ferrovia, ao lado a casa onde trabalha vendendo espetinho (Foto: Paulo Francis)
Atrás de Jair o lugar onde trabalhou na época da ferrovia, ao lado a casa onde trabalha vendendo espetinho (Foto: Paulo Francis)

Numa casa ao lado do Armazém Cultural, perto da Feira Central, algumas mesas estão postas em uma varanda. Uma churrasqueira acesa faz a gente pensar, claro, que alguém está fazendo um churrasquinho no final de semana. Mas não.

Nessa casa encontramos mais uma das belas histórias que compõem a trajetória da Esplanada que, felizmente, não acabou com o fim das passagem dos trens.

Construída no começo do século XX, a Estação Ferroviária de Campo Grande foi importante motor de desenvolvimento para a região até o ano de 1996, quando passou por uma privatização e, pouco tempo depois, teve suas operações encerradas.

Seu Jair diz que tem umas das clientelas mais fiéis de Campo Grande (Foto: Paulo Francis)
Seu Jair diz que tem umas das clientelas mais fiéis de Campo Grande (Foto: Paulo Francis)

Se por um lado muitas histórias apenas passaram, algumas foram construídas todas ali, e continuam mesmo depois de nenhum trem passar pelo local, com é o caso seu Jair Vieira de Souza.

Hoje Jair está 67 anos, dos quais 29 passou trabalhando como coordenador de logística do terminal. Ele comandava os quase 10 trens de carga que passavam todos os dias, fora os com passageiro.

Seu Jair na década de 90 com amigos. De frente, ele é o segundo da direita para a esquerda (Foto: Arquivo Pessoal)
Seu Jair na década de 90 com amigos. De frente, ele é o segundo da direita para a esquerda (Foto: Arquivo Pessoal)

“Entrei na ferrovia com mais ou menos 30 anos de idade. Dali em diante minha vida se resumia aquilo, meus amigos, minha família, tudo”, explica Jair.

Muitos ferroviários, inclusive Jair, moravam ao redor do terminal em casas que pertenciam à companhia. Depois de encerrada as atividades, essas casas foram oferecidas aos ex-trabalhadores que podiam optar por um financiamento a fim de não precisarem se mudar ou abandonar o local.

Jair optou por ficar e, tendo que arcar com os custos da moradia, a mensalidade da faculdade de um filho que se iniciava e mais as outras demandas normais de uma vida adulta, teve a ideia de montar um espetinho na frente de casa.

Nascia aí o “Estação do Espeto CG”, empreendimento que dava continuidade a história de seu Jair com a Esplanada. “Eu nunca tinha mexido com nada disso, não tinha experiência, mas precisava de alguma renda extra”.

E lá se vão 19 anos, uma casa quitada, um filho formado em enfermagem e outra filha quase se formando em odontologia, tudo com o dinheiro do espetinho do seu Jair.

Todas as manhãs era ali ao lado que seu Jair saía para trabalhar (Foto: Paulo Francis)
Todas as manhãs era ali ao lado que seu Jair saía para trabalhar (Foto: Paulo Francis)

“Tenho uma das clientelas mais fiéis de Campo Grande, mesmo na pandemia não tive tanta queda, pois implantei o delivery, são pessoas que compram de mim há anos”.

Muitos amigos de Jair continuam também morando nos arredores da esplanada porque tomaram a mesma decisão que ele, de ficar com a casa que era da companhia. “Fiz muito amigos nos meus 29 anos de ferrovia, aqui somos quase como uma família”.

O espaço é bem caseiro e aconchegante mesmo. No cardápio espeto de contrafilé com bacon é uma das estrelas junto com o espeto da linguiça de Maracajú.

“Apesar do espetinho, claro, nós temos nosso carro chefe aqui que é o arroz com feijão. Não fazemos muito, por isso sai como se fosse de casa mesmo”, diz Jair.

Seu Jair, esposa e filha (Foto: Paulo Francis)
Seu Jair, esposa e filha (Foto: Paulo Francis)

O bom de fazer pauta de comida é que sempre rola uma boquinha livre. Melhor ainda quando a comida é deliciosa. Gula é pecado para alguns, mas pecado pra mim é não comer tudo que seu Jair pôs na mesa pra gente comer.

“Fico até emocionado de ver como esse lugar me deu quase tudo. Minha felicidade é saber que no final da minha vida vou estar perto do lugar onde sempre vivi e trabalhei”.

O espeto de seu Jair fica na Rua Dr. Temistocles, 49,  paralela a rua Mato Grosso. O número para contato é (67) 9699-8881.

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Contrafilé e linguiça de Maracajú são os espetinhos mais famosos juntos com o arroz e o feijão, é claro (Foto: Paulo Francis)
Contrafilé e linguiça de Maracajú são os espetinhos mais famosos juntos com o arroz e o feijão, é claro (Foto: Paulo Francis)


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