Filha é a maior admiradora do "homem diabólico" de Iguatemi
Da internet, Örc e Morcega se conheceram, viveram em Iguatemi e tiveram a filha que é apaixonada pela arte "assustadora" dos pais
Aflição. A palavra resume bem o sentimento de quem mal consegue ver sangue ou tem horror das agulhas. Agora imagina ter o rosto inteiro tatuado e o corpo modificado ao extremo. O iguatemiense Örc Infernall é aos 41 anos a versão brasileira do "homem orco", uma espécie de monstro diabólico de lendas medievais. Mas também é o pai gentil e carinhoso da pequena Maria.
O tatuador é esposo da Mulher Morcego, parceira no trabalho e na vida, e juntos ensinam uma baita lição para a filha: seja quem mais você quiser ser. Como qualquer outra tem direito, eles também formam uma família feliz.
"Maria tem 6 aninhos e ama tudo que vem da nossa arte. Participa de encontros, assiste algumas tattoos e ama os nossos procedimentos de modificação. É o mundo dela, e ela é o nosso mundo", admite o pai coruja.
"Nossa filha abraça, cultua e respeita a arte e a diferença, não deixa de sentir orgulho da gente como pais", expressa a mãe.
Örc fez as primeiras tatuagens aos 15 anos. Anos se passaram, e o desejo só foi crescendo de se transformar completamente na figura humana que é personagem marcante do filme “Warcraft – O Primeiro Encontro de Dois Mundos” (2016) e também popularizado nos livros "O Senhor dos Anéis" e " O Hobbit", do autor britânico Tolkien.
"Sou fascinado pelo cinza, pelo obscuro, pelos sons e tons de guerra e combates, a magia dos contos antigos, em especial a agressividade dos orcs", explica.
Por meio das operações de modificação corporal, Örc pigmentou de preto o branco dos olhos, colocou o alargador big labret (queixo) e bifurcou a língua, além de ser "dono" de 8 piercings e incontáveis tatuagens. Mais recentemente, a cirurgia definitiva instalou um par de presas na boca – transformação completa.
Morcega sempre se interessou pelo parceiro, o que antes era apenas um desconhecido na internet. Se conheceram num grupo de Facebook para os amantes da arte da modificação corporal e… bem, a história dá conta do resto.
"Lá comecei a acompanhar Örc e fiquei super fã dele e do seu trabalho. Simplesmente 'cheguei' nele e desde então estamos juntos", comenta.
Vinda de Manaus para morar nas terras sul-mato-grossenses, a tatuadora de 25 anos "aproveitou" e formou família: teve Maria, e com a filha e o marido moraram alguns anos na cidade natal dele.
"Iguatemi veio parar na minha vida assim como o Örc também, por um destino. Sempre fomos felizes lá. Claro que preconceito e os olhares tortos com a gente tem em todo lugar onde passamos, mas estamos aí para mostrar quem somos, e quebrar todos os paradigmas", considera.
A mãe garante que a filha é tão amada quanto qualquer outra criança e que, nas suas palavras, "adora estar inserida nesse universo, participa de tudo, dá até opiniões – fica ansiosa pra ver quais serão as próximas modificações".
Atualmente, o casal vive na região da Serra Pelada, no Estado do Pará, onde possuem "base". Em turnês, viajam o país – e até para além da fronteira – executando a arte que juntos têm como profissão e paixão em comum. Segundo os dois, o que mais interessa nisso tudo é justamente tornarem aquilo que quiserem ser e proporcionarem ao outro também.
"Sobrevivemos assim, trabalhamos com o que mais gostamos e fizemos muitos amigos no caminho. Vivemos bem, somos livres e realizados por nossas escolhas. Seja quem você quiser ser. O legado do livre arbítrio nos foi deixado como herança, aproveite", disse Örc.
Já para Morcega, o essencial é respeitar as diferenças. "Somos pais dedicados e damos muito amor à nossa filha. Buscamos sempre o melhor para os que nos rodeiam, e esperamos o mesmo. Torcemos sempre pela felicidade".
Curta o Lado B no Facebook e no Instagram. Tem uma pauta bacana para sugerir? Mande pelas redes sociais, e-mail: ladob@news.com.br ou no Direto das Ruas através do WhatsApp do Campo Grande News (67) 99669-9563.