Filha que casou com padrasto vira livro como vítima de drama familiar
Sabe aquelas histórias que nem Manoel Carlos imaginaria escrever um dia? Pois é, essa é a história de uma família de Dourados
Filha que traiu a mãe, padrasto que assediou enteada, drama, confissão, perdão. O escritor douradense Enágio Fagner revela em seu primeiro livro, “Sempre forte”, temas que marcaram a dramática e conflituosa vida de sua mãe e sua irmã, a menina que aos 14 anos saiu de casa para se casar com o próprio padrasto e teve filhos com ele. Quando todo mundo condenava a menina pela "traição", mãe e filho (irmão da menina) entenderam que a grande vítima foi ela, uma adolescente que nada sabia da vida.
A trama acompanha a história de sua mãe desde o primeiro casamento, com um homem que a fez sofrer muito e é o pai da sua primeira filha, a mesma que um dia foi um embora com o segundo marido de sua mãe e pai do seu irmão, autor do livro. Os capítulos vão se alternando entre o passado da mãe, seus sofrimentos, a luta para criar os filhos, a chegada de Enágio até o fatídico dia em que a única filha, que conheceu o padrasto aos 8 anos de idade, revela aos 14 anos que vai embora de casa porque está tendo um relacionamento com ele.
Os fatos que vão revelar um drama familiar que não é incomum, apenas, na maioria das vezes, se mantém no âmbito daqueles que a viveram na vida real, ditam a mulher forte que a mãe de Enágio sempre foi. Mas os fatos também ditam muito sobre a irmã, aquela que a vizinhança e a própria família julgaram como traidora até seus últimos dias de vida, mas que foi compreendida por um irmão e mãe que entenderam que ela também sofreu as consequências de uma violência dolorosa contra meninas, o abuso.
Nem os melhores autores de novela em seus momentos mais inspirados pensariam num roteiro desses. Logicamente que muitos já serviram fascinantes enredos, mas o livro de Enágio é constituído de fatos reais, fatos que muitas vezes ficam em silêncio para o resto da vida, permeados por mágoa, rancor e ódio. Mas na vida do homem que, hoje é empresário e comercializa açaí em Dourados, tudo foi bem diferente.
Após a morte da irmã, que teve câncer de mama aos 41 anos, Enágio que sempre gostou de escrever voltou a conversar com a mãe, a aposentada Anacleia Gonçalves de Albuquerque, 64 anos, que vive em Dourados, e cuida da mãe de 96 anos, para falar sobre o passado. O papo rendeu um pedido sincero: posso escrever um livro sobre o drama da família? A resposta, surpreendentemente, foi sim.
“Minha mãe foi uma mulher que foi construindo uma personalidade forte. Aos poucos ela tomou as rédeas da própria vida. Já a minha irmã, que era considerada a maior vilã pelas pessoas que sabiam da história, foi, na verdade, a maior vítima do meu pai. Então eu quis eternizar a história da minha irmã dentro dessas páginas e mostrar uma vida além do que as pessoas chamavam de traição”, conta o autor.
Enágio cresceu com essa história na cabeça e só após seu casamento é que decidiu encarar a escrita. Quando o livro ficou pronto, antes de mesmo de enviar para a editora, ele imprimiu um exemplar e entregou para Anacleia no Dia das Mães.
Não foi tarefa fácil, para Anacleia, ler o livro até o fim naquele segundo domingo de maio. Mas ela quase não conseguiu sair do sofá até ler a última palavra da obra. No coração, um misto de raiva e emoção. “Enágio fez a coisa certa. Falou o que não se deve deixar em silêncio. As pessoas sofrem nessa vida por não falar”, conta Anacleia por telefone sobre o que achou do livro naquele dia.
Após uma leitura minuciosa, ela destacou trechos e informações que preferiu deixar somente no âmbito da família. “Mas foram pequenos detalhes. Enágio prontamente atendeu meu pedido e o livro seguiu com toda a nossa realidade.”
É claro que para dar ainda mais emoção, o autor destaca que cerca de 20% das ações dentro do livro são pura ficção. “Mas essa relação entre mãe e filha, filha e padrasto, irmão que também é tio e irmão dos próprios sobrinhos, tudo isso é verdade e sempre fez parte da nossa história”, descreve a mãe.
Apesar do drama e do contexto que envolve temas fortes, Anacleia nunca foi contra a publicação da obra e diz que sente feliz de o filho ter dado uma reviravolta na história da irmã através do livro. “Eu e meu filho sempre fomos muito parceiros, minha nora é como uma filha pra mim, e eu sabia do respeito deles pela minha história de vida. Do outro lado estava minha filha, que independente de ter ido embora um dia com um homem que era meu marido, ela sempre continuou sendo minha filha, além de que era uma menina quando tudo isso aconteceu”.
Anacleia diz que já foi muito julgada pela própria história. “Escutei de muitas pessoas que a culpa era minha por ter colocado um homem mais novo dentro de casa e que por isso ele se apaixonou pela minha filha e ela por ele. Mas nessa história não tem uma mulher culpada, a vida, às vezes toma rumos que a gente não controla. Eu sempre disse para qualquer pessoa que você tem que lutar pela sua felicidade, mas quem sofre as consequências da sua escolha é você.”
Ao ouvir a calma com que Anacleia conta a história, surge a dúvida se ela sempre falou com disso com a mesma naturalidade. É claro que não.
“Eu tenho momentos de raiva, momentos que eu quero explodir, mas isso passa. Com a minha filha foi do mesmo jeito, ela encontrou maneiras de fazer o sofrimento passar. Ela me pediu perdão no leito de morte, mal sabia ela que uma mãe perdoa um filho todos os dias. Coisa de mãe, né. Nosso coração parece que funciona de um jeito diferente.”
E na visão da mãe o livro ficou ficou excelente por causa disso. “Se a gente for analisar, ela sempre foi terrível, ela fez tudo aquilo para me desafiar, mas havia um homem assediando uma criança com a promessa de uma vida maravilhosa. Você até pode falar que a filha não pensou na mãe e ela não pensou mesmo, mas era uma imatura, quem pensa quando é imatura?”
Outra coisa que emocionou Anacleia durante a leitura do livro foi a relação de Enágio com o pai. “Me espantei ao ler o quanto ele sentia tanta falta do pai. A gente que é mãe e faz papel de pai ao longo da vida e não deixa faltar nada, acredita que essa falta nem existe, mas ela esteve na vida do Enágio, foi uma surpresa ler isso no livro.”
A obra tem muitas surpresas, emoções e reviravoltas, não se resume ao perdão entre mãe e filho. Fala de sentimentos e uma dúvida escabrosa ao final da obra que tem deixado leitor de cabelo de cabelo em pé e gerado inúmeras mensagens destinadas ao autor do livro. “É uma história com muitas revelações fortes da vida real e inúmeras reflexões.”
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