Fotografias mostram a rotina de quem escolheu ser drag queen em Campo Grande
O olhar sob uma realidade até então desconhecida para a jornalista e fotógrafa Cristina Livramento, de 42 anos, a instigou a começar em um projeto que pretende acompanhar o dia a dia das drag queens em Campo Grande.
As fotos mostram muito além das cores e o brilho que salta aos olhos durante um show. Cristina fotografa enquanto as drags se movimentam, cruzam o olhar no espelho, ajeitam a peruca, se atentam aos traços da maquiagem e por fim demonstram que ser drag queen é muito mais intenso, vai além da superprodução ou das horas firmes em cima de um salto 15.
A ideia nasceu após saber que uma das drags estudava com a filha. "Eu não sabia que tinha drag em Campo Grande, eu estava totalmente por fora disso e vi que tinha um cenário muito interessante, que havia uma distância e isso me chamou atenção", revela.
Depois de muito tempo dentro das redações, com a câmera nas mãos ela saiu em busca de desvendar histórias e retratar emoções. "Onde eu pudesse trabalhar cara a cara com a pessoas. Eu queria estar dentro da realidade e acompanhar mais a fundo", descreve.
E o cenário que muitas vezes não surpreende no primeiro olhar, revelou uma imensidão de sonhos de quem diariamente batalha para conquistar a satisfação de ser o que quiser. "Eu digo que é você retomar um sonho. Estar com elas é você voltar acreditar que é possível ser feliz e que ninguém tem nada a ver com isso", pontua.
No contato mais próximo, Cristina descobriu que muitas drags nem sequer têm retorno financeiro o que a deixou ainda mais curiosa sobre a insistência em um mundo cheio de barreiras e a ignorância que teima em alinhar drag queens com prostituição. "E eu não sei da onde as pessoas tiram isso, eu imagino que seja por falta de conhecimento. Quando a gente vê, é como se pudesse sentir na pele. Na prática, elas precisam é ter persistência e coragem", diz.
Cristina descreve o sonho, que muitas vezes exige o suor, o cansaço, a dor nós pés, uma noite inteira de trabalho para custear sozinhas os próprios sonhos. "A maioria acaba trabalhando em vários lugares e ainda por cima trabalha a noite como hostess. Elas pegam ônibus, saem de longe para conseguir guardar dinheiro, porque todo mundo tem um sonho e quer viver esse sonho, só que tudo tem um preço", ressalta.
A força nesse caminho é mais uma inspiração para quem luta contra todo o tipo de discriminação. "Duas que eu conheci resolveu se abrir para a família e coragem começa daí. Afinal é preciso enfrentar o preconceito dentro da própria família", comenta.
Nas fotos, Cristina mostra mais conteúdo do que técnica. A fotógrafa diz que só quer contribuir, sem maiores pretensões. "Fico contente porque esse registro pode proporcionar um novo olhar sobre o ser humano, independente da identidade sexual, religião ou cor. Saber que as pessoas estão dispostas a quebrar paradigmas". finaliza.
Todas as fotos e os relatos de Cristina sobre o cenário das drags em Campo Grande estão no Tumblr.