Haja memória: para comemorar 99 anos, Ivete lançou segundo livro
Histórias vão desde seu casamento por procuração até episódios com antropólogos
Para comemorar os 99 anos de vida, Ivete Bastos Bucker lançou, em Campo Grande, seu segundo livro de memórias com histórias que vão desde seu casamento por procuração até episódios com antropólogos em aldeias indígenas. Com ajuda do filho e de netos, “Retalhos de Uma Vida” saiu das contações em rodas de família e se transformou nas páginas impressas.
“Ali, eu conto os acontecimentos da minha vida, do meu movimento diário. Conto com sinceridade o que eu vivi”, Ivete resume. De acordo com a autora, o livro foi escrito tanto para que as histórias não fossem perdidas quanto para sair da rotina, “na idade em que eu estou, fica difícil encontrar alguma coisa para fazer, algo que te dê alegria. Por isso, fui fazendo crochê, um bordado e o livro”.
Ao contrário da audição que foi afetada pelas décadas acumuladas, a memória da quase centenária permanece praticamente intacta. Relatos que trazem detalhes sobre a vida cotidiana de 1944, quando se apaixonou por seu marido Hélio, e foram reescritas nos últimos quatro anos comprovam isso.
Mesmo tendo se aproximado mais uma vez da escrita recentemente, Ivete tem o nome estampado como autora em outros três livros, sendo que um deles também é de memórias. Dois volumes de “Um Pracinha Entre os Índios” foram escritos em conjunto com o marido Hélio Jorge Bucker, enquanto “Nas Pegadas de Rondon” foi a obra em que a Ivete incluiu suas memórias.
Filho da autora, Ricardo Bucker, de 73 anos, explica que as memórias foram sendo amarradas com orgulho. “Ela sempre contava tudo para a gente, então sempre incentivei muito. São acontecimentos interessantes e ela conta tudo de novo se precisar”, diz.
No último dia 9, a mãe completou os 99 anos e, conforme Ricardo explica, a publicação do livro foi parte das comemorações.
Retalhos de Uma Vida
Intitulado “reviravolta”, o primeiro capítulo do livro narra como a história de amor com Hélio começou em uma estação de trem no Rio de Janeiro. Dando origem às memórias seguintes, o romance foi inserido como o fato principal da narrativa.
Ivete tinha 21 anos e estava a caminho da casa de seu pai. Desencantada com namoros, ela conta que não conseguia se apaixonar por nenhum homem ao ponto de pensar em casamento, mas, quando viu Hélio, suas ideias desapareceram. “Já estava há mais ou menos uns quinze minutos na estação de Cascadura, sentada no banco, quando vejo aproximar-se um rapaz alto, todo de branco, uma simpatia [...]”.
Como em um filme de romance sobre amor à primeira vista, a história traz os pensamentos da autora em um diálogo consigo mesma. “Meu Deus! Que coisa estranha! O que se passa comigo? Não consigo desviar os olhos desse rapaz! E ele nem percebe a minha presença! Ele continua a passear de lá para cá como se eu nem existisse. No entanto, se me pedisse em casamento agora mesmo, diria que sim com toda a convicção”.
Ivete conta que ao entrar no vagão com o rapaz desconhecido, seus olhares se cruzaram e toda a viagem seguiu com sorrisos. Ao descer em sua estação, imaginou que o romance seria finalizado, mas Heitor finalmente a direcionou as primeiras palavras, “há algum inconveniente em falar contigo?”.
Os dois conversaram por mais de uma hora e o diálogo se transformou em encontros durante todas as noites da semana, que se seguiram secretamente. Com 15 dias, Ivete contou sobre o namoro ao pai, que permitiu o avanço para o casamento.
Por servir ao exército e estar com viagem marcada para a Itália, quando a 2ª Guerra Mundial se desenvolvia, Hélio deixou uma procuração com seu irmão e foi assim, apenas com a presença de Ivete, que os dois se casaram.
Já em outro capítulo, quando os dois estavam novamente unidos no Brasil, Ivete conta sobre um episódio com o antropólogo Darcy Ribeiro. Para seu filho Ricardo, essa é uma das histórias mais peculiares apresentadas no livro.
Conforme relatado por Ricardo, seu pai trabalhou por muito tempo na Funai (Fundação do Índio) e Ivete o acompanhou durante todo o tempo. “Em um dos casos sobre a vida em aldeia, ela conta que conheceu Darcy enquanto ele fazia um trabalho de antropologia. Na época, a sede em que eles ficavam estava sofrendo com percevejos e minha mãe conseguiu acabar com os insetos. Ela trabalhou muito e acabaram ficando amigos”, diz.
Com a história de amor e episódios do casal, a história faz uma viagem no tempo e mostra que os 99 anos de Ivete, de fato, precisam ser comemorados. Para adquirir o livro, os leitores podem entrar em contato com a Editora Life através do número (67) 99297-4890.
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