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Comportamento

Heróis diante do fogo, tem bombeiro que descobriu vocação após drama na infância

Sempre que a estiagem chega, a categoria é lembrada pelo trabalho exaustivo contra o fogo

Por Bruna Marques | 07/07/2024 09:25
O bombeiro Samuel no colo do pai, que morreu vítima de acidente de trânsito em 1993. (Foto: Arquivo Pessoal)
O bombeiro Samuel no colo do pai, que morreu vítima de acidente de trânsito em 1993. (Foto: Arquivo Pessoal)

Considerados “heróis do fogo” em tempos que o Pantanal é consumido por chamas, os militares do Corpo de Bombeiros ganham outro status quando aprecem em operações que exigem muito esforço físico e sangue frio. A maioria iniciou a carreira para ajudar as pessoas, mas tem profissional que descobriu a vocação após viver drama familiar na infância.

Bombeiro há 14 anos, o militar Samuel Ramires Júnior, 37 anos, especialista em resgate, contou que o anseio pela carreira surgiu quando ele ainda era criança. Em 1993, quando tinha apenas 6 anos, precisou se despedir do pai. Na época, seu maior herói, com quem compartilhava o mesmo nome, sofreu acidente de moto, foi socorrido por uma equipe do Corpo de Bombeiros, não resistiu aos ferimentos e morreu.

“Corpo de Bombeiros que levou meu pai até hospital, desde então eu queria trabalhar em algo que fizesse com que os pais das crianças que sofressem acidente voltassem para casa com vida. Esse sonho e foi ficando, eu cresci e em novembro de 20210 iniciei o curso de formação”, relembrou Samuel.

Antes de se tornar bombeiro, Samuel era acadêmico de Educação Física, em 2009, quando estava prestes a se formar, soube do concurso e se inscreveu. No inicio da carreira atuava na viatura de atendimento pré-hospitalar, atuando no resgate de pessoas vítimas de acidentes. “Gostei muito da área, fiz especialização e me tornei especialista em resgate. Atuei na área até dezembro do ano passado e atualmente atuo na formação dos novos bombeiros e prevenção de saúde e capacitação dos que já atuam”, explicou.

Samuel durante entrevista ao Campo Grande News (Foto: Alex Machado)
Samuel durante entrevista ao Campo Grande News (Foto: Alex Machado)

Ao longo desses 14 anos de profissão, Samuel esteve cara a cara com diversas situações tristes e chocantes, mas uma que o marcou para sempre, foi o resgate de uma criança de dois anos, que na época tinha a mesma idade que seu filho. Infelizmente, a vítima não sobreviveu.

“Eu sou pai de um menino de seis anos e quando estava fazendo estágio, uma criança de dois anos se afogou na piscina. A semelhança física da vítima era a mesma do meu filho. Fizemos toso procedimento para reanimá-lo, as infelizmente ele veio a óbito. Nesse dia eu fiz estágio até 18h, minha esposa e meu filho foram me buscar e eu fiquei meia hora chorando abraçado com ele. Aquilo ali me marcou bastante”, contou Ramires.

Quase um especialista em partos, Samuel conta que dar a vida as pessoas é muito satisfatório. “Não sei o que eu faria se eu não fosse bombeiro algo que me traz prazer e satisfação. Apesar de atuar em situação de pessoas em sofrimento, tentamos agir para diminuir a dor. Já fiz cinco partos, em um deles a mãe achou que era aborto. Chegamos a criança estava há dez minutos no sanitário, conseguimos reanimar e levar o bebê com vida ao hospital”, finalizou com orgulho nos olhos em pertencer a uma instituição tão reconhecida e respeitada pela sociedade.

Seja no combate a incêndios, em afogamentos ou salvamentos de pessoas em acidentes de trânsito, a categoria nutre admiração aos olhos da comunidade. Apesar de não se considerar “herói”, o bombeiro Rafael Evangelista Nunes Batista, 30 anos, profissional da área há 10, sabe da responsabilidade em vestir a farda da corporação.

“Eu não penso que sou herói, mas as pessoas, principalmente as crianças olham assim para nós e isso é uma responsabilidade enorme. Saber que inspiramos as pessoas é gratificante.  É uma satisfação poder fazer parte dessa instituição e junto com meus companheiros poder se alegrar, saber que de certa forma nosso trabalho é reconhecido”, expôs.

Bombeiros atuando no combate a incêndio do Pantanal (Foto: Alex Machado)
Bombeiros atuando no combate a incêndio do Pantanal (Foto: Alex Machado)

A ideia de passar no concurso e se tornar bombeiro veio da vocação e o desejo de alguma forma ser útil para a comunidade. “Eu sempre gostei de ajudar pessoas, é algo que eu já tinha em mente. A carreira era atrativa e encontrei nela realização profissional, melhoria de vida, tudo que eu precisava”, afirmou.

Rafael já ajudou a controlar vários incêndios de grandes proporções em Campo Grande e dentre eles, o que mais marcou foi a que teve como vítima Lucas Correia Queiroz, funcionário de uma tapeçaria na Rua Barão do Rio Branco, na região central da Capital.

Além do combate a incêndios, Rafael conta que atuando na área de resgate, atender ocorrências onde pessoas tentam contra a própria a vida é o que mais choca. “O que mais me marcou foi quando eu trabalhava na ambulância e atendia jovens vítimas de suicídio. Pessoas que atentava contra a própria vida. Gente da minha idade ou mais novo, enquanto no mesmo dia atendia jovens com doenças que lutavam para continuar vivos”, contou.

Nalva Souza Moraes, ex-policial militar (Foto: Alex Machado)
Nalva Souza Moraes, ex-policial militar (Foto: Alex Machado)

Mudança de corporação – Assim como Samuel e Rafael, a profissional Nalva Souza Moraes, 41 anos, que por 14 anos exerceu a profissão de Policial Militar e a três faz parte do Corpo de Bombeiros, se orgulha de fazer parte da instituição.

“Atuamos no ar, na água e no fogo. Somos heróis e isso traz uma responsabilidade muito grande. A sensação de estar fazendo algo para o bem público, se realizar profissionalmente é muito satisfatório”, garantiu.

Hoje, lotada no gabinete do comandante geral, Nalva também tem situações marcante para contar. “Tenho algumas histórias, mas uma vez teve um incêndio em prédio residencial na Rua prédio da 15 de Novembro, onde um idoso ficou preso no apartamento que pegou fogo e um bombeiro que veio voluntariamente atender a ocorrência, ele não estava de plantão, entrou e encontrou o idoso no local coberto por fumaça. Na calçada da rua ele foi entubado pela equipe médica da Ursa (Unidade de Resgate de Suporte Avançado) o que fez toda diferença para aquela vida ser salva”, finalizou que a palavra que define a nova fase de sua carreira é “realização”.

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