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Levantando poeira, pai e filhos vão de picape pelos "Sertões" do Brasil

Comportamento

Levantando poeira, pai e filhos vão de picape pelos "Sertões" do Brasil

Únicos de MS, os Fontoura formaram a equipe esportiva "Pantaneiros" e embarcaram na expedição do rali mais famoso do país

Raul Delvizio | 01/11/2020 08:19


Pai Alexandre com o filho caçula Davi posam para o clique (Foto: Arquivo Pessoal)
Pai Alexandre com o filho caçula Davi posam para o clique (Foto: Arquivo Pessoal)

Enquanto outros têm a paixão por dirigir na tranquilidade de uma boa estrada duplicada, toda asfaltada e lisinha, com visibilidade perfeita, para Nuan, Davi e seu pai Alexandre, quanto mais poeira levantar, no meio do mato for e com desafios de lama, água, pedra e curvas acentuadas tiver, melhor será. Não é à toa que mais uma vez embarcaram juntos para o rali mais famoso do país.

Em família, a equipe "Pantaneiros" é a única de Mato Grosso do Sul no Sertões 2020, na categoria "Light" – isto é, "nem de velocidade, nem regularidade, mas um desafio de puro roteiro". Os três farão o trajeto de quase 3,5 mil quilômetros em 10 dias "pé na estrada" nas sete etapas/"bolhas" estipuladas pela organização.

Chão de terra, buraco, lama e água fazem parte do roteiro da prova (Foto: Arquivo Pessoal)
Chão de terra, buraco, lama e água fazem parte do roteiro da prova (Foto: Arquivo Pessoal)
Neste ano, Nuan também vai ser o piloto "mestre" por trás do volante (Foto: Arquivo Pessoal)
Neste ano, Nuan também vai ser o piloto "mestre" por trás do volante (Foto: Arquivo Pessoal)

A saída já aconteceu ontem (1º), no autódromo Velocittà em Mogi Guaçu, São Paulo, com destino final até o município de Barreirinhas, nos Lençóis Maranhenses. Tempo de estrada é o que não vai faltar, mas o que dizer da emoção durante a prova? Enquanto levantavam poeira na estrada, o Lado B fez um bate-papo via rádio com eles.

"É pura adrenalina correndo no sangue a cada segundo. Por exemplo, estamos a cerca de 20 km da 'bolha' de Brasília, mas não sabemos nada ainda, a cada momento vamos descobrindo o trajeto em tempo real. Nada é divulgado antes, é tudo na hora. O bom que aqui dentro do carro o esquema é família unida, não só na paixão pelo esporte, mas na vida", comenta o piloto do "Pantaneiros", Nuan Fontoura, de 22 anos.

Desde bem pequenos, os irmãos Nuan e Davi sempre tiveram o "pé" fincado na lama – sobre as rodas de um quadriciclo (Foto: Arquivo Pessoal)
Desde bem pequenos, os irmãos Nuan e Davi sempre tiveram o "pé" fincado na lama – sobre as rodas de um quadriciclo (Foto: Arquivo Pessoal)
Aventura off-road faz parte da infância dos dois rapazes (Foto: Arquivo Pessoal)
Aventura off-road faz parte da infância dos dois rapazes (Foto: Arquivo Pessoal)

Junto ao irmão Davi, navegador e co-piloto, os dois fazem time com o pai Alexandre, que é o chefe de equipe. O papel do irmão caçula, de 19 anos, é crucial na prova: é ele quem vai conduzindo o trajeto e dá suporte visual à Nuan. "Sou os olhos do maninho", disse.

"Somos mais do que pai e filhos no Rally dos Sertões. É questão de confiança e cumplicidade. Confio minha vida aos dois e eu faço o mesmo com a deles. Sempre vivemos juntos e intensamente. Quando morávamos na chácara, tínhamos a mesma interação de hoje. Somos amigos um do outro, uma equipe na vida", diz o pai coruja.

Na praia Porto das Dunas, em Aquiraz (CE), os três fizeram este registro após completarem o intenso percursso de 2019 (Foto: Arquivo Pessoal)
Na praia Porto das Dunas, em Aquiraz (CE), os três fizeram este registro após completarem o intenso percursso de 2019 (Foto: Arquivo Pessoal)

Aventura off-road sempre marcou os Fontoura. Poderia ter sido coisa de pai pra filho, mas nessa história foi o contrário. Desde criancinha, Nuan e Davi brincavam de quadriciclo motorizado – já iam pegando o "gostinho" pela lama e terra – enquanto outros estavam a tirar a rodinhas da bicicleta.

"Me lembro de tudo. Tinha uns 4 anos, aprendi primeiro a andar de quadriciclo pra só depois pegar o jeito da bike. Passado alguns anos, venho acompanhando o trabalho de Cristian Baumgart, piloto 'fera' de rali. Assim como ele, sempre quis participar da prova, e esta já é minha segunda. Aliás, meu primeiro Sertões com carteira de motorista. Se houver necessidade, posso muito bem pegar no volante", brinca.

Os dois rapazes com os irmãos Baumgart, super ganhadores da prova (Foto: Arquivo Pessoal)
Os dois rapazes com os irmãos Baumgart, super ganhadores da prova (Foto: Arquivo Pessoal)

Poeira no sangue – Alexandre conta que vem acompanhando as corridas do Sertões desde 2012, mas realmente só embarcou com os filhos no ano de 2017, quando tiveram a notícia que a prova passaria por Coxim, Aquidauana e finalizaria em Bonito. Assim, acompanhando parte da prova, tiveram o primeiro contato próximo.

Só em 2019 participaram efetivamente de todo o percurso. Saindo de Campo Grande, passaram pelos quilômetros desse "Brasil a ser descoberto" – nas palavras de Alexandre –  até chegar nas praias e dunas de Aquiraz, no litoral cearense.

"Passamos pelos cânions de Bom Jesus no Piauí, além de lugares e paisagens incríveis. Conhecemos tantas pessoas no caminho, que moram corajosamente no interior do interior do país, no meio do nada. O evento tem essa estrutura gigantesca tanto pra gente quanto pra elas, contando com a oferta e auxílio de vários trabalhos e serviços gratuitos voltados à essas comunidades", explica Alexandre.

No ano passado, Nuan também comandou o volante e o pai fazia a navegação (Foto: Arquivo Pessoal)
No ano passado, Nuan também comandou o volante e o pai fazia a navegação (Foto: Arquivo Pessoal)
Parte da edição de 2019 passou pelos incríveis cânions de Bom Jesus do Piauí (Foto: Arquivo Pessoal)
Parte da edição de 2019 passou pelos incríveis cânions de Bom Jesus do Piauí (Foto: Arquivo Pessoal)

A prova movimenta cerca de 30 equipes, com mais 2 mil pessoas no total da organização. Por causa da pandemia de covid-19, este ano o percurso vai ser "direto", sem as paradas turísticas – apenas as de descanso e translado. Mas para os Fontoura, isso não será um problema: o importante é estarem juntos, fazerem a desafio acontecer e, principalmente, poder contar um com o outro.

"Acordamos às 4h e estamos aqui dentro do carro desde às 7h30. E ainda tem mais prova pela frente, só estamos no começo. Tudo é intenso e cansativo, tem que ter foco e muita atenção, mas nada do que estar em família não ajuda. Cada vez mais, pelo off-road, nossos laços vão estreitando no decorrer de muita estrada", finalizaram.

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Sertões 2020 percorrerá quase 3,5 mil quilômetros em 10 dias de viagem (Foto: Marcelo Maragni)
Sertões 2020 percorrerá quase 3,5 mil quilômetros em 10 dias de viagem (Foto: Marcelo Maragni)
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