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Comportamento

Literatura faz criançada esquecer da vida complicada durante algumas horas

Um Pé de Livro é projeto que nasceu para levar uma nova perspectiva de mundo às crianças

Thailla Torres | 11/03/2019 08:53
Livros pendurados encantam até crianças que ainda não sabem ler. (Foto: Luciano Justiniano)
Livros pendurados encantam até crianças que ainda não sabem ler. (Foto: Luciano Justiniano)

“O Menino que Aprendeu a Ver”, livro de Ruth Rocha, conta a história de João, um garotinho que não sabia ler e, quando aprendeu, conseguiu enxergar o mundo diferente. É basicamente esse o resultado de um projeto sul-mato-grossense criado em 2018 que leva educação, carinho e brincadeiras às crianças.

Idealizado pelas educadoras e voluntárias Marilza Silva e Walkiria Angélica Santos Bitonti, através do Ipedi (Instituto de Pesquisa da Diversidade Intercultural), o projeto chamado “Um Pé de Livro” não só transforma o mundo das crianças como emociona adultos.

As atividades de leitura para crianças chegam a diversos bairros de Miranda, no Pantanal de Mato Grosso do Sul. São crianças que, mesmo bem pequenas, já parecem diferenciar a infelicidade diante da falta de quase tudo em casa. No projeto, em um varal de histórias, elas vão conhecendo outro mundo, bem mais colorido e mágico.

Marilza ao lado das crianças. (Foto: Luciano Justiniano)
Marilza ao lado das crianças. (Foto: Luciano Justiniano)
Walkiria, também realizada com o projeto. (Foto: Luciano Justiniano)
Walkiria, também realizada com o projeto. (Foto: Luciano Justiniano)

“Vocês vão servir comida?”, perguntou uma mãe que trouxe a tiracolo um grupo de meninos e meninas desconfiados e curiosos. Chama a atenção das crianças o colorido dos bancos, as figuras das capas dos livros, o tapete cuidadosamente colocado para dar aconchego na hora da leitura. Chama a atenção de Marilza e Walkiria o pedido da mulher.

Diante da resposta negativa, a equipe até pensou, inicialmente, que ela iria embora com suas crianças, afinal, como incentivar a cultura e a leitura para quem sente fome.

Mas ela não foi embora. Ficou e, com as crianças, participou das rodas de leitura, de brincadeiras e esqueceu, por algumas horas, o vazio da barriga. “Ela até ajudou a gente a carregar as coisas e colocar no carro e se despediu agradecendo”, conta a coordenadora do projeto Um pé de livro, Marilza Silva.

A situação é similar em muitas famílias da região, como na de um menino de 8 anos que chegou na roda, em uma tarde de 7 de setembro, com a avó. Ele ficou do início ao final participando de tudo até que disse: “Eu vou ser doutor”, lembra Walkiria. “E o que mais me tocou foi a avó, sempre dizendo que um neto iria ajudá-la, já que enfrentavam um problema com a dependência química de um familiar dentro de casa. Naquele momento você percebe o poder transformador da educação para esse menino, que pode ver um mundo diferente para aquela família”.

Após a leitura, crianças se divertem com as brincadeiras. (Foto: Luciano Justiniano)
Após a leitura, crianças se divertem com as brincadeiras. (Foto: Luciano Justiniano)

Ao longo do projeto, Marilza e Walkiria perceberam que o tocar os livros e as fazendo leituras é uma oportunidade única para as crianças se desconectarem dos problemas e a realidade dura. “Somos carentes de projetos que envolvem leitura, encantamento, o brilho nos olhos das crianças. Um projeto simples, mas de grande valor para a comunidade”.

O projeto veio de encontro com a vontade que Marilza sempre teve de fazer algo pelo bairro em que mora. Através de um convite de Walkiria, as duas escrevem o projeto que foi patrocinado pela organização Brazil Foundation, com mentoria do Ipedi.

“O projeto se fortaleceu graças a Marilza e também a minha paixão por leitura. Eu digo que minha utopia de vida é que todas as crianças tenham contato com o mundo letrado. Não servir comida, mas servir livros, nos faz refletir sobre a realidade do mundo e a necessidade extrema de educação que pode tirar todas as crianças de uma vida difícil”.

Os livros não mudam a realidade das crianças do dia para noite, no entanto, é no brilho dos olhos que as professoras enxergam a diferença. “A gente leva o gosto pela Literatura. São livros bonitos e que encantam mesmo o público que ainda não sabe ler. As crianças chegam ali com sede de ler, diferentemente de uma sala de aula, ali eles prestam atenção”, conta.

Depois do tempo de leitura, as professoras realizam brincadeiras ritmadas com as crianças que ficam ainda mais animadas com o uso do microfone. “eu não sabia que um microfone fazia tanta diferença. Eles adoram ouvir a própria voz e até quem sente vergonha de falar em público acaba se soltando”.

(Com a colaboração do jornalista Anderson Benites Carneiro)

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