Mariana partiu aos 22 anos, mas teve festa de aniversário cheia de lembranças
A imagem da "menina dos olhos claros, alegre e vaidosa" também virou tatuagem.
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Mariana Morel partiu cedo, mas deixou pela casa as lembranças silenciosas da sua passagem. Os retratos na parede mostram uma menina sorridente de cabelos vermelhos que encara os visitantes com o olhar de quem nunca teve medo da vida e sempre soube celebrá-la, imagem eternizada na mente de quem chegou a conviver com ela e que de tão inspiradora, levou a mãe e o irmão a marcarem na pele, em formato de tatuagem, o amor pela jovem.
Para a família, esta segunda-feira (18) teve significado duas vezes especial. Além do dia da semana em que costumavam passar juntos, também foi a data em que Mariana completaria 22 anos. Ao entardecer, iluminados pela luz dos últimos raios de sol, 150 balões brancos encheram o céu com mensagens de amor transformadas no adeus que os familiares e amigos não tiveram tempo de dar.
Pouco antes da homenagem, a mãe Silvana Morel, de 48 anos, e o pai Afonso Pereira Lira, de 55 anos, se preparam para receber os convidados e trazem de volta a presença da filha em memórias e saudade. “Ela sempre gostou do movimento, desde criança ela gostava de chamar a atenção e interagir com as pessoas. Nós sempre tivemos lanchonete, quando criança a Mariana adorava dançar aquelas músicas da Rouge e atraia todos os olhares de quem estava nas mesas em volta e nunca teve vergonha”, relembra Silvana.
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Mariana mantinha uma conta no Instagram e um canal no Youtube, com centenas de seguidores, principalmente adolescentes que se inspiraram nela, mas há 5 meses a digital influencer teve os sonhos interrompidos de maneira inesperada, depois de uma inflamação no pâncreas, que em 3 dias a levou à morte. Em sua última postagem, o que surge é a tatuagem feita com a mãe, as frases “amor que não se pede” e “amor que não se mede”. “Esse aqui é o amor mais poderoso do mundo. O de mãe e filha! Minha melhor amiga, te amo!”, postou.
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Sem se intimidar com a equipe de reportagem, Pinguinha a gata que Mariana adotou ainda criança chega de mansinho, antes de tomar as atenções para si com um miado arrastado, profundo e muito parecido com um lamento. De acordo com Silvana, a gata nunca mais entrou no quarto da dona, mesmo com todos os móveis dispostos exatamente no mesmo lugar. “Um mês antes de tudo o que aconteceu, ela começou a seguir a Mariana para onde quer que ela fosse, desde pequena ela sempre foi muito apegada e as duas até dormiam juntas. Quando ela saía de casa a gata parecia chamar de volta, em um miado muito parecido com esse. Levamos a Pinguinha ao veterinário, fizemos exames, mas não era nada físico, só entendi que ela estava se despedindo muito tempo depois”.
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Pouco tempo depois de Pinguinha, quem chega é o irmão de Mariana, Renato Morel. Ali, sob o olhar alegre das fotos da irmã penduradas na parede, se senta no sofá e é logo recebido pela gata. No braço esquerdo de Renato, um balão traçado em tons de azul, vermelho, amarelo, preto e branco, acompanhado da palavra “freedom”, liberdade em inglês. Ao lado, como um acréscimo ao desenho original, o nome da irmã e data em que ela deixou esse mundo. “Essa foi a primeira tatuagem que a Mariana fez, um dia antes de completar 18 anos. No dia do enterro dela, eu reproduzi o desenho como uma forma de marcá-la na minha pele”. Quase 10 anos mais velho que Mariana, Renato é a figura de irmão protetor, que enquanto os pais trabalhavam na lanchonete até de madrugada, foi o responsável por impedir a irmã “cabeça quente e teimosa” de aprontar.
Afonso ouve a conversa com lágrimos nos olhos, mais calado que a esposa, para ele a principal lembrança da filha era a importância que dava à família. “Ela marcava presença na casa toda, assistíamos a TV juntos, almoçávamos juntos, saíamos e fazíamos viagens juntos. Ela nunca foi uma menina de ficar trancada no quarto escondida das pessoas, ela tinha a hora de fazer as coisas dela, mas estávamos sempre juntos”, conta.
Pela união, o aniversário de 15 anos de Mariana marcou a família que se lembra com orgulho da decisão da adolescente de trocar a tão sonhada viagem para a Disney pelo Rio de Janeiro, para que ninguém precisasse ficar para trás. “Ela falava em conhecer a Disney desde os 12 anos, juntamos dinheiro, mas pelo valor o combinado é que ela iria sozinha. Nós pagaríamos uma excursão e ela iria sozinha, quando chegou a época de organizar as coisas, ela me procurou e disse que não queria ir, que só viajaria se pudéssemos ir, então ela resolveu conhecer o Rio de Janeiro”, conta Silvana.
Os dias longe de Mariana tem sido cinzentos, o ânimo que Silvana tinha em acordar cedo, preparar o café da manhã e acompanhar a filha a academia parece ter desaparecido. Hoje, ela e o marido ficam na cama até mais tarde, sem vontade de sequer abrir as cortinas e ir em frente. Cercados pela dor, o casal ainda busca entendimento em tudo o que aconteceu, além da saudade, resta a gratidão pelo pouco tempo em que tiveram a tão esperada “menina dos olhos claros” em suas vidas.
Silvana teve Renato ainda jovem, aos 16 anos e para ela era importante planejar o futuro com cautela, por isso ela e a Afonso escolheram ter apenas dois filhos. “Durante a gravidez, a Silvana estava ansiosa, porque queria muito uma menina e logo após o parto ela já faria a laqueadura e não poderia mais ter filhos. Ela ficou muito preocupada e mal dormiu na noite anterior ao ultrassom, mas eu tinha certeza de que seria a minha menina de olhos claros”, afirma Afonso.
Por poucos segundos, a família parece completa como se Mariana fosse entrar pela porta a qualquer momento e continuar a narrativa por conta própria. Com um estilo “It girl” inconfundível, Mariana sempre foi apaixonada por moda, costumava acompanhar blogueiras de São Paulo e do Rio de Janeiro, cidades em que sempre sonhou em morar e usar as tendências pelas ruas de Campo Grande, muito antes que as peças estivessem em evidência por aqui também. Vaidosa, ela escolheu transformar a dedicação a própria beleza em profissão e em janeiro do ano passado se formou em Estética, mesma época em que começou a fazer planos para morar fora com o namorado, Silvana conta que o plano dos dois era ir trabalhar nos Estados Unidos, onde ela realizaria também o desejo de cursar moda e viver disso.
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Todos os anos, o dia 18 foi um dia em que a celebração e a alegria eram obrigatórios, Silvana sempre cuidou de cada detalhes das festas, planejando a decoração e enchendo as mesas dos docinhos favoritos de Marina.
Pela primeira vez, a data pareceu uma lembrança distante para a família, que ainda assim resolveu não deixar passar em branco e reunir gente querida para agradecer a existência da jovem, sob os olhos da imprensa e cliques dos smartphones, tudo da maneira como ela mesma teria feito. “Eu acredito que de onde ela está, ela sente tudo o que eu faço, estou fazendo para ela, para a família e para os amigos, para todos que gostavam dela”, diz a mãe, deixando claro que ainda faltam muitos aniversários para ela, quem sabe, superar a perda.
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