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Comportamento

Mato Grosso do Sul não tem folga, mas colaborou com feriado paulista

Hoje é feriado em São Paulo, mas o Sul de Mato Grosso teve sua parcela de participação nessa data

Bárbara Cavalcanti | 09/07/2021 17:54
Momuneto do Obelisco, em São Paulo, é mausoléu para estudantes que lutaram na revolução. (Foto: Governo do Estado de São Paulo)
Momuneto do Obelisco, em São Paulo, é mausoléu para estudantes que lutaram na revolução. (Foto: Governo do Estado de São Paulo)

Hoje, dia 9 de julho, é feriado no estado de São Paulo em celebração à Revolução Constitucionalista de 1932. A data marca o início do levante de grupos em oposição ao governo de Getúlio Vargas e a favor da Constituição. Durante quase três meses, civis se armaram e enfrentaram o Governo Federal, apesar de ter resultado em derrota.

Mas, mesmo sendo feriado somente no estado de São Paulo, pois foi lá que o movimento teve sua liderança e onde foi palco do conflito, o sentimento de insatisfação com o governo Vargas não foi exclusivo do estado paulista. Inclusive, o antigo Mato Grosso teve sua contribuição no movimento, e o Lado B foi atrás de saber mais sobre essa participação nessa história.

O historiador Ricardo Souza da Silva, mestre em História pela UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados) explica que líderes na região do Sul de Mato Grosso aproveitaram o momento político de 1932 para expressar sua insatisfação com o governo estadual oficial da época.

“O governo Vargas, depois que ele deu o golpe de estado e assumiu a presidência em 1930, foi marcado por medidas governamentais ditatoriais. Uma delas eram os “Presidentes de Província”, o que hoje equivale aos governadores, que eram cargos nomeados pelo próprio Getúlio Vargas e que eram seus aliados. Assim, líderes da região do sul do Mato Grosso, alegavam que esse governo estadual negligenciava a parte sul do estado economicamente”, detalha.

Com o movimento em São Paulo, essas lideranças aproveitaram “o embalo” revolucionário para tentar criar um governo paralelo ao oficial situado em Cuiabá, que tinha no cargo Lêonidas Antero de Melo.

Cartaz revolucionário que convocava civis para a revolução. (Foto: Repródução Wikipédia)
Cartaz revolucionário que convocava civis para a revolução. (Foto: Repródução Wikipédia)

Uma das lideranças desse movimento revolucionário no sul do Mato Grosso era o General Bertoldo Klinger. Criou-se uma ideia de governo alternativo, em que o médico e prefeito de Campo Grande, Vespasiano Martins, assumiria o cargo de novo governador no lugar de Leônidas. Nesse plano, a sede do governo inclusive sairia de Cuiabá e passaria a ser a própria Campo Grande.

“A esperança era que São Paulo saísse vitorioso, derrubasse Getúlio e passasse a reconhecer Vespasiano Martins como governador de Mato Grosso”, explica Ricardo.

É então que as versões históricas começam a ir em direções opostas. De acordo com Ricardo, não há documentos que comprovem qualquer participação do movimento revolucionário da região do Sul de Mato Grosso, que não seja meramente política.

“Há escritores sul-mato-grossenses que advogam que, nesta época, os líderes do sul de Mato Grosso promoveram a divisão do Estado e a criação de uma nova unidade da Federação denominada “Estado de Maracaju”, na porção Sul”, explica.

É o que defende um artigo assinado Maria Madalena Dib Mereb Greco, publicado no site do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul no ano passado.

De acordo com o artigo, o sul de Mato Grosso participou enviando tropas, materiais bélicos e até alimentos ao estado vizinho. Três Lagoas servia de “sede” para treino militar de voluntários para então serem enviados à São Paulo.

Ilustração de Mapa da época com frentes de batalha da revolução. (Foto: Reprodução Instituto Histórico e Geográfico de MS)
Ilustração de Mapa da época com frentes de batalha da revolução. (Foto: Reprodução Instituto Histórico e Geográfico de MS)

“Toda trajetória da Revolução Constitucionalista de 1932 foi relatada pelo jornal O Diário. Desde a mobilização militar, transcrição dos telegramas dos comandos que aderiram ao chamado de Bertoldo Klinger, às relações de voluntários civis que formaram colunas, [...], doação de cavalos e bovinos para transporte e alimentação, confecção de roupas e distribuição de remédios pelos voluntários da Cruz Vermelha”, enumera o artigo publicado.

Ainda de acordo com o artigo, esse movimento revolucionário inclusive foi o que germinou a questão divisionista que na década de 70 veio à tona com a divisão do estado e a criação de Mato Grosso do Sul.

“Para o sul-mato-grossense, a sua participação reacendeu a questão divisionista e mostrou a capacidade de articulação política desta parte do estado e criou um espírito de coesão entre seus habitantes”, defendem as palavras de Maria Madalena no artigo.

Já Ricardo destaca que, de acordo com o registro do discurso do próprio Vespasiano Martins durante a reunião para a ideia de criação de um governo paralelo ao oficial, ele mesmo não faz menção a querer separar o estado, mas sim apenas criar um outro, valorizando a parte sul, mas ainda governando o Mato Grosso como um só.

“A historiografia acadêmica local já demonstrou que isso não passa de uma versão fantasiosa, pois o Estado de Maracaju nunca existiu”, opina.

O episódio do 9 de julho ficou marcado na história do Brasil de uma forma ou de outra, pois foi um marco existir um movimento civil articulado armado de tamanha proporção e organização em oposição ao Governo Federal ditatorial. São Paulo acabou perdendo para o Governo de Vargas, mas o sentimento revolucionário perpetuou.

Para o advogado André Borges, a data é inspiradora. Ele é um dos entusiastas da data e da participação do sul do Mato Grosso. Em suas redes socias, expressou sua admiração e diz que o sentimento é de satisfação relembrar da história.

"Ficou disso tudo um forte vínculo entre nós e os paulistas. É bom fazer alianças com gente forte e de vanguarda. Uma lástima é que essa data não é comemorada por aqui”, declarou.

O feriado foi instituído em 1997 em São Paulo e pela cidade, há diversas homenagens aos voluntários que se alistaram ao Exército Constitucionalista e decidiram enfrentar a ditadura Vargas, mesmo sem experiência militar.

Um dos mais famosos, o Monumento do Obelisco aos Heróis de 32, localizado no Parque Ibirapuera, é um mausoléu que abriga os corpos dos estudantes Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo, que foram mortos durante um dos protestos contra o Governo.

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