Mesmo em Estado conservador, trans decidem enfrentar eleições
Com duas candidaturas coletivas e uma individual, as representantes concorrem à cadeira de deputada estadual
Considerando os índices de violência, falta de representatividade e a necessidade de agir, candidatas transexuais entraram nas eleições em Mato Grosso do Sul. Com duas candidaturas coletivas e uma individual, as representantes concorrem ao cargo de deputada estadual.
No portal Vote LGBT (confira aqui), pessoas que se afirmam como parte da comunidade usam a plataforma como meio de divulgar as candidaturas. Com apenas cinco de MS na plataforma, três são candidaturas de transexuais.
Travesti e negra, Glauber Portman é candidata solo pelo PCdoB. Já as outras duas candidaturas são coletivas e reúnem cinco pessoas.
Pelo PDT, Bruna Riquelme é a titular da candidatura e integra o Coletivo TRANSformando MS com Samantha Terena, sendo que ambas se identificam como mulheres trans. Concorrendo pelo PSDB, o Coletivo Somos tem como titular Karla Melo, mulher cisgênero, enquanto os outros dois candidatos se identificam como pessoas transexuais - Carlos Eduardo e Jhenifer Ragnaroni.
Em seus depoimentos sobre o motivo para entrar na corrida pelos votos, todas as representantes se unem pela bandeira da representatividade. E, sem ilusões, declaram que decidiram entrar na política partidária sabendo que o cenário não é dos mais convidativos.
Artista multicultural, Glauber conta que se entende como travesti e está sem sua segunda candidatura, sendo que a primeira foi para o cargo de vereadora.
Percebemos que existem poucas pessoas dentro da política que se identificam ou se afirmam como parte da comunidade LGBT. Em Campo Grande e Mato Grosso do Sul no geral, ser LGBT é algo absurdamente diferente, a gente vive num estado que é o 3º com maiores números de homofobia, por exemplo, explica Glauber.
Decidir se tornar candidata envolveu entender que medos precisariam ser enfrentados. “Temos insegurança e medo porque vivemos em uma cidade, um estado, extremamente tradicional e que está na liderança dos piores rankings pensando na segurança de um corpo preto, trans e LGBT”.
Também nesse sentido, Bruna argumenta que se cansou de ver mulheres transexuais sendo usadas apenas como exemplos em datas comemorativas como o Dia da Visibilidade Trans. “Não temos mais que sermos assunto de TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) ou matéria em página criminal, mas sim sermos referência em luta, em garra”.
Sobre as dificuldades de tentar furar as bolhas partidárias, ela comenta que apesar de saber que grande parte do cenário político é composto por homens cis, destaca as candidaturas LGBTQIA+ registradas por seu partido.
“Vejo que as pessoas trans precisam de referência, precisam se ver nos espaços públicos, precisam perder o medo de viver, combater o preconceito de frente, denunciar e não podem se calar. Eu digo que ter uma mulher trans na política aqui no nosso Estado pode não mudar radicalmente a vida de outras trans, mas precisamos mudar a visão que as pessoas cis têm de nós”, diz Bruna.
Sendo uma mulher cisgênero e representando o Coletivo Somos, Karla é cientista social e se apresenta como ativista pelos Direitos Humanos, principalmente o feminismo e a comunidade LGBTQIA+. Apesar da candidatura coletiva contar com outros dois candidatos trans, Karla foi a escolhida para ser a titular e explica que a decisão veio por ser uma pessoa com mais tempo de contato com política e gestão.
Destacando que a candidatura do coletivo também veio pensando na representatividade, ela detalha que uma das grandes questões a serem superadas é a sensação de invisibilidade que a baixa participação de minorias na política acaba expressando.
“Quem melhor pode legislar sobre pautas de mulheres são as mulheres, pautas LGBTs são LGBTs e assim sucessivamente. Infelizmente a gente não tem esse cenário na política brasileira de uma forma geral e isso causa uma falsa sensação de inexistência”, comenta Karla.
E, concordando com as candidatas dos outros partidos, ela comenta sobre como o conservadorismo segue muito presente por aqui. “Nosso Estado é extremamente conservador e reflexo disso são nossos representantes, que em sua maioria tem um perfil muito parecido”.
Nomes sociais - Expandindo os comentários das candidatas sobre uma pequena porção da comunidade trans participar das eleições por aqui, dados nacionais mostram que o cenário parece geral. Liderando o número de candidaturas com nome social, Rio Grande do Sul conta apenas com 10 pessoas, em seguida vem Rio de Janeiro com cinco, além de Distrito Federal e Bahia com três.
Enquanto isso, nove estados brasileiros não possuem nenhuma candidatura com nome social, sendo Acre, Amazonas, Ceará, Goiás, Maranhão, Piauí, Rio Grande do Norte, Roraima e Santa Catarina.
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