Mônica é uma cinquentona que não tem medo de ser a “mulher galinha”
Aos 55 anos, ela luta para empoderar mulheres, destruir pensamentos machistas e mostrar que as cinquetonas precisam viver
A chegada dos 40, 50 ou 60 anos há muito tempo deixou de ser “sinônimo” de velhice. Mas para muitas mulheres, não adianta ter sido aprovada em todo tipo de exame médico e ser mulher ágil, descolada e bem-disposta, elas vão se sentir fora do clã das bem-sucedidas. Isso porque o mundo ainda impõe que envelhecer é difícil e quem um dia esteve no time das novinhas e agora migrou para o das velhas não tem mais espaço.
Aos 55 anos, Mônica Fernandes sabe bem disso. É claro, o envelhecimento, as mudanças do corpo e as marcas que fazem parte do tempo, às vezes, são difíceis para quem se ilude com a juventude a vida toda. Mas ela sabe também que não dá para cobrar o discurso da mulher quarentona ou cinquentona radiante diante de tanta gente dizendo que mulher velha não tem vez.
Justamente por isso ela deu a volta por cima e se tornou a mãe feminista que empodera mulheres e não tem medo de falar tudo o que uma cinquentona pode ser. Também neurocoach e escritora, em seu Instagram com mais de 12 mil seguidores ela se apresenta mesmo como “mulher inteira na meia idade”.
Por lá ela fala de tudo, do envelhecimento ao direito da mulher de ter orgasmos intensos em qualquer fase da vida. Sem papas na língua, diz que tem “obsessão por trabalhar a cabeça de mulher machista” e não tem medo de ser uma “mulher galinha”. E nos próximos parágrafos ela explica detalhadamente o porquê.
“Sempre fui muito encorajada por meus pais a gostar de quem eu sou. Tive este privilégio de ter liberdade de expressão e sempre me posicionar na vida, isso, é claro, me deu a segurança necessária para a formação desta mulher bem resolvida que sou hoje. Mas nem sempre foi assim”, conta.
“Tive fases de perdas, decepções, de quase desistir de mim. Já fui fumante, gordinha depressiva e achava a vida muito sem sentido. Um dia, cansei de ter dó de mim, e quis mudar tudo. Fiz uma faxina e joguei fora o que me fazia mal, de alimentos a pessoas. Comecei a trabalhar com grupos de mulheres e percebi que nossos problemas eram tão iguais. E como o resultado deu muito certo, quis ajudar outras mulheres a se sentirem plenas como eu".
Com a chegada dos 50 anos e a sensação de estar perdida no mundo das mulheres “mais velhas”, Mônica diz que só tinha duas saídas. “Ficar sentada no sofá chorando e vendo a vida passar ou fazer disso um triunfo. Escolhi a segunda opção, porque percebi que sempre teria os 50, 60 e nada mudaria isso".
Mônica passou a ouvir mulheres e relatos de desespero. “Com a chegada da idade, inicialmente, elas se apavoram. Acho que a menopausa, principalmente, bate muito forte na gente. É uma bandeira de que sua vida reprodutiva chegou ao fim e aí vem o medo do possível fim da vida sexual, libido, ser desejada. Ficamos assustadas com a possibilidade de perder nossa identidade feminina”, explica.
Mas depois da preocupação inicial, Mônica ensina às mulheres que muitos símbolos sexuais são mulheres com 50 anos ou mais. “E a medicina com suas harmonizações e reposições hormonais são uma superajuda para continuarmos jovens fisicamente e emocionalmente. Então a frase os 50 são os novos 30, nunca valeu tanto. É possível ter saúde, vitalidade, beleza e energia nesta fase".
O abismo no afeto – Outra grande dificuldade é o abismo encontrado por muitas mulheres na casa dos 50 para as relações afetivas. “Vivemos em tempos líquidos, ninguém mais se namora, só fica. O sexo deixou de ser conexão e passou a ser um esbarrão ocasional de corpos, infelizmente. E isto é para todo mundo, para todas as idades. No caso da mulher de 50, é bem mais grave: Elas têm a coragem de abandonar casamentos longos, enfadonhos e mornos, justamente porque estão cheias de energia, querendo, finalmente, curtir a vida. Mas quando vão para a pista, querendo namoro e envolvimento, encontram uma imensa lacuna”.
Mônica expõe que os homens na mesma faixa etária estão casados (e dificilmente tomam a iniciativa de romper um casamento ruim) ou com mulheres mais novas. “Sobram os homens de 30, que gostam muito, diga-se de passagem, desta mulher despojada de 50, e assim, as que são bem resolvidas e mais corajosas assumem romances com esses homens mais novos e fica tudo bem".
Vida sexual e a “mulher galinha” – O que Mônica mais ouve é a dificuldade das mulheres de sua idade com a própria sexualidade. Poucas entendem que são responsáveis pelo próprio prazer e merecem toda liberdade sexual. “Isso por dois fatores: a mulher continua a se sacrificar para agradar o homem, até na cama, mesmo não sentindo prazer, que é uma cultura de subserviência machista, passada de mãe para filha. E esta mesma mulher tem muito pouco conhecimento de seu corpo, sem masturbação, toques íntimos e preliminares. E quando a vida sexual de uma mulher não é gratificante e satisfatória, com o evento da menopausa tudo se torna ainda mais difícil”.
E justamente por isso Mônica ensina mulheres a serem as “galinhas” que o mundo machista usa para descrever as bem resolvidas. “A 'boa moça', que sempre obedeceu a mamãe e nunca se permitiu ser tocada, hoje é, fatalmente, aquela mulher reprimida sexualmente. Já a menina tida como 'galinha', que nunca obedecia às regras de sua mãe e sempre se rendia as deliciosas carícias de suas intensas paixões, é hoje, a mulher bem-amada e resolvida que ama o sexo e a vida e sabe como encontrar o prazer em qualquer nuance de sua existência".
Feliz e realizada, Mônica diz que deseja estimular e ajudar milhares mulheres. “Ofereço em meus treinamentos e palestras, o caminho para esta percepção aguçada, de se ter como prioridade e assim, ter toda a roda da vida funcionando com fluidez, pois encontrando a nossa essência, nos reconectamos, incondicionalmente com o universo, e assim nos tornamos felizes de verdade na meia idade”, finaliza.
Curta o Lado B no Facebook e no Instagram. Tem uma pauta bacana para sugerir? Mande pelas redes sociais, e-mail: ladob@news.com.br ou no Direto das Ruas através do WhatsApp do Campo Grande News (67) 99669-9563.