Nas redes, mulheres incentivam a coragem de publicar foto sem filtro
Campanha “Se amar sem filtros” chama atenção nas redes para a aceitação e amor próprio
Quantas vezes vamos tirar uma foto no Instagram em um momento espontâneo, posado, sozinha ou com amigos, mas, antes de mais nada, colocamos aquele filtro para “realçar” a nossa beleza? Nada contra os filtros , o problema está em quando não conseguimos mais nos amar e até nos vermos sem eles. Pensando nisso, cada vez mais mulheres estão aderindo à campanha “Sem filtros” como um processo de aceitação e amor próprio.
“Use seu cabelo, se mostre para os seus olhos... Solte o freio, acerte em cheio, diga a que veio: gosto quando você se parece com você”. A música Se Parece Com Você, de Alzira Espíndola, fala sobre a necessidade de nos aceitarmos e também de tomarmos consciência sobre a gente mesmo.
A psicóloga e doula Carol Oruê começou a usar os filtros nos stories do Instagram pela praticidade de aparecer em casa sem precisar se arrumar. Porém, ela percebeu que, toda vez que abria a câmera para gravar vídeos e se via sem os filtros, se incomodava com sua imagem real. “Não reconhecia pequenos detalhes do meu rosto natural, que não via por estar sempre usando os filtros”, relata.
Ela se lançou o desafio de não usar mais filtros. Apesar de parecer individual, a campanha “Sem filtros” no Instagram e outras redes sociais toma adesão de milhares de mulheres, incluindo a postagem de fotos com “peles de verdade”, com as hashtags #SemFiltro e também #SemMaquiagem, que chegam a 8.4 milhões de publicações e 89.2 mil publicações, respectivamente.
“Quanto mais usamos e abusamos de filtros, mais insatisfeitos ficamos ao olharmos no espelho. Não nos reconhecemos, desaprendemos a nos olhar com verdade. Sofremos com essa comparação”. A fala é da psicóloga e mestre em psicologia Regi Morais, que avalia como as comparações provocadas pelos filtros geram inseguranças que a gente acaba não percebendo.
Carol, por fim, percebeu isso. “A simples textura da minha pele, minhas pequenas rugas e sinais de expressão, o tom natural da minha pele, minhas pintas, coloração dos dentes... Tudo mudava muito quando estava usando os filtros, e quando via meu rosto real, me incomodava”.
A doula, que tem uma filha de três anos, afirma que percebeu a pressão estética inclusive em cima da criança, vinda de falas sutis de pessoas próximas. “Comecei a refletir sobre que exemplo de relacionamento com a própria imagem e corpo eu quero dar para minha filha e para as mulheres ao meu redor”.
Por mais que os filtros ajudem numa questão estética, a falta de reconhecimento e a ditadura da beleza vem crescendo nos meios das redes sociais, que ditam uma beleza que, se até então era irreal, agora fica disponível por meio dos filtros – pelo menos durante o clique da foto.
Carol afirma que, por mais que as pessoas levem os filtros na brincadeira, acabam se acostumando e não se veem mais sem eles.
“Filtros que prometem uma pele perfeita, sem manchas ou acnes, olhos de cores diferentes, maçãs do rosto afinadas e até mesmo cílios volumosos, nos colocam diante de grandes perigos”. A psicóloga e mestra em psicologia Regi Morais explica que isso pode gerar transtornos mentais e físicos, como ansiedade, depressão, transtornos alimentares, busca excessiva por procedimentos estéticos e até mesmo o chamado Transtorno Disfórmico, quando a pessoa tem um foco obsessivo em um defeito que acredita ter na própria aparência.
Regi indica que, caso a pessoa tenha dificuldade nesse processo, busque auxílio psicológico. “Recomendo também deixar de seguir perfis que não contribuem para nossa autoestima, mas sim apresentam um ideal de perfeição. A perfeição estética não retrata nosso valor. O nosso valor está em sermos quem somos, e não moldado a uma imagem artificial que os filtros nos trazem”.
“No começo foi bem difícil, me sentia vulnerável e cheia de imperfeições. Com o tempo, me acostumei comigo de novo e voltei a ver minha beleza natural e todos os meus detalhes com muito orgulho. Nossos corpos e imagem carregam uma história e é muito bom sentir que nossa história pode ser contada de verdade”, finaliza Carol.
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