Nas redes, mulheres incentivam a coragem de publicar foto sem filtro
Campanha “Se amar sem filtros” chama atenção nas redes para a aceitação e amor próprio
Quantas vezes vamos tirar uma foto no Instagram em um momento espontâneo, posado, sozinha ou com amigos, mas, antes de mais nada, colocamos aquele filtro para “realçar” a nossa beleza? Nada contra os filtros , o problema está em quando não conseguimos mais nos amar e até nos vermos sem eles. Pensando nisso, cada vez mais mulheres estão aderindo à campanha “Sem filtros” como um processo de aceitação e amor próprio.
“Use seu cabelo, se mostre para os seus olhos... Solte o freio, acerte em cheio, diga a que veio: gosto quando você se parece com você”. A música Se Parece Com Você, de Alzira Espíndola, fala sobre a necessidade de nos aceitarmos e também de tomarmos consciência sobre a gente mesmo.
A psicóloga e doula Carol Oruê começou a usar os filtros nos stories do Instagram pela praticidade de aparecer em casa sem precisar se arrumar. Porém, ela percebeu que, toda vez que abria a câmera para gravar vídeos e se via sem os filtros, se incomodava com sua imagem real. “Não reconhecia pequenos detalhes do meu rosto natural, que não via por estar sempre usando os filtros”, relata.
![A doula e psicóloga Carol Oruê parou de usar filtros no Instagram para se "conhecer" de novo. (Foto: Arquivo Pessoal)](https://cdn6.campograndenews.com.br/uploads/noticias/2021/03/04/10zobebus0gpn.jpeg)
Ela se lançou o desafio de não usar mais filtros. Apesar de parecer individual, a campanha “Sem filtros” no Instagram e outras redes sociais toma adesão de milhares de mulheres, incluindo a postagem de fotos com “peles de verdade”, com as hashtags #SemFiltro e também #SemMaquiagem, que chegam a 8.4 milhões de publicações e 89.2 mil publicações, respectivamente.
“Quanto mais usamos e abusamos de filtros, mais insatisfeitos ficamos ao olharmos no espelho. Não nos reconhecemos, desaprendemos a nos olhar com verdade. Sofremos com essa comparação”. A fala é da psicóloga e mestre em psicologia Regi Morais, que avalia como as comparações provocadas pelos filtros geram inseguranças que a gente acaba não percebendo.
Carol, por fim, percebeu isso. “A simples textura da minha pele, minhas pequenas rugas e sinais de expressão, o tom natural da minha pele, minhas pintas, coloração dos dentes... Tudo mudava muito quando estava usando os filtros, e quando via meu rosto real, me incomodava”.
A doula, que tem uma filha de três anos, afirma que percebeu a pressão estética inclusive em cima da criança, vinda de falas sutis de pessoas próximas. “Comecei a refletir sobre que exemplo de relacionamento com a própria imagem e corpo eu quero dar para minha filha e para as mulheres ao meu redor”.
Por mais que os filtros ajudem numa questão estética, a falta de reconhecimento e a ditadura da beleza vem crescendo nos meios das redes sociais, que ditam uma beleza que, se até então era irreal, agora fica disponível por meio dos filtros – pelo menos durante o clique da foto.
Carol afirma que, por mais que as pessoas levem os filtros na brincadeira, acabam se acostumando e não se veem mais sem eles.
“Filtros que prometem uma pele perfeita, sem manchas ou acnes, olhos de cores diferentes, maçãs do rosto afinadas e até mesmo cílios volumosos, nos colocam diante de grandes perigos”. A psicóloga e mestra em psicologia Regi Morais explica que isso pode gerar transtornos mentais e físicos, como ansiedade, depressão, transtornos alimentares, busca excessiva por procedimentos estéticos e até mesmo o chamado Transtorno Disfórmico, quando a pessoa tem um foco obsessivo em um defeito que acredita ter na própria aparência.
![A psicóloga e mestre em psicologia Regi Morais fala sobre a importância de debater a pressão estética (Foto: Arquivo Pessoal)](https://cdn6.campograndenews.com.br/uploads/noticias/2021/03/05/2ck1v3b4it7ow.jpg)
Regi indica que, caso a pessoa tenha dificuldade nesse processo, busque auxílio psicológico. “Recomendo também deixar de seguir perfis que não contribuem para nossa autoestima, mas sim apresentam um ideal de perfeição. A perfeição estética não retrata nosso valor. O nosso valor está em sermos quem somos, e não moldado a uma imagem artificial que os filtros nos trazem”.
“No começo foi bem difícil, me sentia vulnerável e cheia de imperfeições. Com o tempo, me acostumei comigo de novo e voltei a ver minha beleza natural e todos os meus detalhes com muito orgulho. Nossos corpos e imagem carregam uma história e é muito bom sentir que nossa história pode ser contada de verdade”, finaliza Carol.
Curta o Lado B no Facebook e no Instagram. Tem uma pauta bacana para sugerir? Mande pelas redes sociais, e-mail: ladob@news.com.br ou no Direto das Ruas através do WhatsApp do Campo Grande News (67) 99669-9563.