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Comportamento

Neste domingo lembre-se do título, da máscara e de que você é mãe

Vote em mães e contribua para colocar nos espaços de poder mulheres que possam construir políticas que abracem a maternidade

Paula Maciulevicius Brasil | 15/11/2020 09:29
Na montagem: Manuela D'Ávila amamentando em plena sessão da Assembleia do Rio Grande do Sul e ao lado, durante campanha passada à vice-presidência com a filha Laura no colo.
Na montagem: Manuela D'Ávila amamentando em plena sessão da Assembleia do Rio Grande do Sul e ao lado, durante campanha passada à vice-presidência com a filha Laura no colo.

"É preciso um mundo em que mulheres ocupem espaços públicos e que a ausência das crianças seja tão marcante quanto sua presença. Porque pra cada homem poderoso com filhos ausentes existe uma mulher trancada em casa depois do expediente", Manuela D'Ávila, no livro Revolução Laura.

Você pode até não gostar das pautas que Manuela D'Ávila, hoje candidata à prefeitura de Porto Alegre, defende. Mas deve se recordar da foto que correu o mundo em 2016: dela amamentando a filha enquanto falava na sessão da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, quando era deputada estadual. A imagem representa tanto quanto a fala que destacamos no início desta coluna: é preciso um mundo em que mulheres ocupem espaços públicos.

Muitas das reclamações que eu mesma faço e ouço das outras mães depende de mudanças nas políticas públicas. Creche, amamentação, licença maternidade, rede de apoio, opções de lazer e cultura, maior cobertura de vacinas pelo SUS... A lista é extensa, e neste domingo de eleições, o Mãe também reclama fez um levantamento "formiguinha", de quantas candidatas a uma cadeira na Câmara Municipal são mães. Começamos vendo nome por nome das mulheres e procurando informações nos materiais de campanha. Das 258 candidatas aptas, pelo menos 158 são mães.

Neste domingo, contribua para colocar nos espaços de poder mulheres que possam construir políticas públicas que abrace a maternidade. (Foto: Kísie Ainoã)
Neste domingo, contribua para colocar nos espaços de poder mulheres que possam construir políticas públicas que abrace a maternidade. (Foto: Kísie Ainoã)

Não existem dados no TRE (Tribunal Regional Eleitoral) de quem é mãe, embora a informação seja tão importante quanto a declaração de bens, por exemplo. As confirmações da maternidade foram feitas com as candidatas e os próprios partidos.

Jornalista e mãe da Clara, Thais Pompeo foi uma das mulheres com quem a coluna conversou durante a campanha. Ela queria saber quem eram as candidatas mulheres na disputa. "Eu nunca tinha pensado em candidata ser mãe ou não, mas agora que você está falando, muitas coisas me vieram à cabeça", admite.

Thais reforça que depois que se tornou mãe viu o quanto é preciso evoluir nas políticas públicas para mulheres, maternidade e crianças em geral. "Desde a licença maternidade ser apenas de quatro meses e seis meses optativos, sendo que a maioria das instituições privadas não adquirem, nisso a gente percebe que é uma coisa claramente feita por homens, uma vez que sabemos, a OMS [Organização Mundial de Saúde] e pediatras defendem o aleitamento materno exclusivo até os seis meses", argumenta.

Num contexto em que mulheres já são assediadas, sofrem preconceito e ganham menos que os homens, Thais levanta que se deixarmos de ser mães, a humanidade para, não é mesmo?

"Se tivermos mais mulheres pensando tudo isso, vamos encontrar soluções melhores, mais criativas e inovadoras garantindo uma maternidade saudável, uma criação emocional e afetiva saudável para as crianças. A gente precisa de políticas públicas mais contemporâneas e que consigam atender a todos de maneira geral", sustenta Thais.

O maior exemplo de mãe na política para a professora da UFMS nos cursos de Ciências Sociais, Economia e Turismo, Mara Aline Ribeiro, é Manuela D'Ávila. Logo no início da conversa, ela recorda que quando foi candidata a vice-presidência na chapa com Fernando Haddad, Manuela levava a filha em todos os compromissos e agendas.

Além da carreira extensa de Mara Aline como professora, inclusive do mestrado de Estudos Fronteiriços, a professora é mãe de três filhos. "Brinco que tenho filhos de mamando à caducando, desde os 32 anos, 29 e 12. Tenho todos os viveres da maternidade", explica.

A percepção do voto em mulher sempre esteve presente na vida dela. "Desde que eu pude votar, com 18 anos, procurei fazer uma construção a partir do voto feminino, mas confesso que nunca pensei a partir da relação com a maternidade. No entanto, é de super importância essa percepção para além do que está posto, porque para muitas mulheres a maternidade vem de forma assustadora e repentina", afirma Mara.

Quando o assunto é maternidade, um dos nomes que mais levanta a bandeira pelas mulheres mães é a professora, empresária e uma das fundadoras do coletivo Aldeia Materna, Camila Zanetti. Na visão dela, é muito difícil ter uma percepção real das necessidades do outro quando você não passa pelas mesmas experiências que ele. Ela também faz questão de elencar que Mato Grosso do Sul não tem nenhuma mulher na cadeira do legislativo como deputada estadual.

"Os homens, por não terem o mesmo mapa de olhar que as mulheres, não conseguem enxergar as necessidades que elas têm, que normalmente tem muito a ver com família, criança e com as demandas sociais, porque elas estão mais inseridas neste meio. Se você olhar nos pontos de ônibus, por exemplo, 80, 90% são mulheres, assim como usuários de creches e que usam o sistema público de saúde preventivamente. Se você olhar até mesmo para a economia colaborativa ou necessidades do coletivo dentro de um bairro, você vê que quem mais fala e sabe que lugares precisam majoritariamente são mulheres", contextualiza.

Desta forma, Camila explica o quanto é difícil para um homem compreender a importância de se ter uma creche noturna ou que abra mais cedo, por exemplo.

"Por isso nós precisamos de mulheres e mulheres mães, porque elas conseguem englobar todas as experiências muito melhor do que um homem branco, de classe média. Ela consegue perpassar por experiências que ela teve desde menina, desde a adolescência até a fase adulta e depois como mãe. Isso enriquece muito mais o olhar para quem tem essa experiência, longe de ser preconceito, porém um qualificador gigantesco o de ter alguém que nos represente tendo a mesma experiência que nós", descreve Camila.

Neste domingo, vote em uma candidata mãe. Contribua para colocar nos espaços de poder mulheres que possam construir políticas públicas que abracem a maternidade. Bom voto!

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