No Dia da Saúde Mental, conto a minha história com a depressão
Dia 10 de outubro é comemorado o Dia da Saúde Mental. Confesso que antes da depressão, eu também não saberia da data
Entre todas as datas que a gente comemora neste feriadão, uma em específico me chamou a atenção, principalmente porque senti que ela, mais uma vez, passou batida. Dia 10 de outubro é comemorado o Dia Mundial da Saúde Mental. Confesso que antes de conviver com a depressão, eu também não saberia.
Foi em 2017 que os primeiros sinais de depressão apareceram. Logo eu, uma pessoa tão sorridente, tão alegre, tão tagarela, tão intensa. E ela veio num período que eu também julgava como sendo de felicidade absoluta, havia acabado de descobrir que estava grávida. E eu queria muito o bebê, assustei pela pressa com que ele veio, esperava que fosse demorar um pouquinho mais, mas era o que eu queria. E ainda assim, eu fiquei reclusa.
Passado uns dias, não queria sair de casa, não saía do quarto, encontrava "alento" sabe onde? Deitada no chão do quarto, entre a cama e a janela. Não respondia mensagens de WhatsApp, não queria ver ninguém, embora estivesse recebendo tanto carinho de amigos e familiares pela notícia da primeira gestação. Perceberam que havia algo de errado e me levaram pela mão ao psiquiatra. Foram três tentativas de remédios até que eu me adaptasse. Paralelo a isso eu sentia muito medo de ficar sozinha, tinha pavor de lugares cheios e de chuva. Tive crises de pânico que só passavam dentro de um abraço, do meu marido, que não podia sair de perto de mim.
Na terceira medicação, me adaptei. Fui encaminhada também para a terapia e aí comecei a reagir. Deixei um trabalho e fui viver esta nova fase. Pela primeira vez em anos eu não tinha obrigações a não ser descobrir o que me fazia feliz.
A depressão piorou no nascimento do bebê, somada ao puerpério, e ali eu percebi o quanto falamos pouco sobre a saúde mental das mães. Meu "escape" foi justamente escrever que mãe ama, mas também reclama, daí o nome da coluna que começou em posts de desabafos nas redes sociais. Fui muito julgada por reclamar, como se a gente não pudesse em nenhum momento da maternidade reclamar. Tínhamos só de agradecer por sermos mães, diante de tantas mulheres que tentam viver essa maternidade. Meu respeito e amor a elas, mas uma coisa não exclui a outra. Não é porque me tornei mãe que virei santa e tudo tem que ser recebido como benção.
Na minha caminhada pela saúde mental encontrei parceiros e tanto, que já citei aqui, como a Keyth, psicóloga. A minha psiquiatra tem uma cara de menina e um abraço de mãe, daqueles capazes de juntar nossos pedacinhos e ela consegue fazer isso até pelo telefone, já que hoje as consultas são assim pela pandemia.
E foi ela quem me lembrou que este seria um assunto para ser descrito hoje, quando escreveu "Dia Mundial da Saúde Mental ou Eu tive depressão pós-parto". Estou falando da Nathalia da Ros, médica psiquiatra e mãe, que escreveu o texto abaixo no seu Instagram.
"Dia Mundial da Saúde Mental ou Eu tive depressão pós parto – Dois títulos diferentes?Não, são a mesma coisa, a mesma batalha. Desde 2010, quando decidi estudar Saúde Mental, tentei aprender tanto com o cérebro quanto com o coração.
Mas nada me ensinou mais do que ser a paciente. Tive gestação e parto sem problemas. Permaneci em acompanhamento psicológico como sempre faço, desde 2007. Tudo certinho.
E, de repente, meu cérebro fritou. Eu não era eu. O sistema bugou de tal maneira que meus familiares não me reconheciam. Fiquei confusa, cheia de sentimentos ruins, e sem controle do meus pensamentos.
Mas lá no fundo, em algum lugar, tinha uma mente sadia e informada. Que soube ver o perigo e sinalizou: Ei! Tem alguma coisa errada, maior que o natural pra esse momento. E eu fui pedir ajuda, tratei e sarei. Não sem culpa e dificuldade em admitir que estava acontecendo comigo, mas fui.
Uai, eu não sou psiquiatra? Como tive doença mental?
Quando eu falo que ninguém está livre, NINGUÉM ESTÁ LIVRE.
Que a informação salva, A INFORMAÇÃO SALVA!!
Por isso, VIVA O DIA MUNDIAL DA SAÚDE MENTAL!!!!
Lutemos por esse dia, falemos a respeito disso, que seja normalizada a atenção à mente.
Acredito que não sou a mesma, sou melhor após tudo que passei. Mais humana, mais resiliente, mais gentil.
Acredito no tratamento e na vida normal.
🌷 Homenagem à minha filha, por ser a melhor mestre de todas."
Não tenha vergonha de admitir que está com depressão. Não tenha vergonha de pedir ajuda. Depressão não é frescura, muito menos "vazio" que pode ser "curado" em igreja. É doença que exige tratamento e acompanhamento profissional. Se tem alguém perto de você que está merecendo atenção, se coloque à disposição para ouvi-lo sem julgamentos e procurar um médico. Todo mundo precisa cuidar da sua saúde mental.
Tem uma história de mãe para contar? Manda pra mim: paulamaciulevicius@gmail.com.