Nota de R$ 200 é nada para quem ganhava um milhão nos anos 80
Seu Adão Matias guarda até hoje o holerite e algumas notas de quando recebia mais um milhão de cruzeiros de salário
O lobo-guará estava quietinho no cerrado brasileiro até que o Governo Federal resolveu colocá-lo no meio de uma polêmica. Agora, o animal selvagem ameaçado de extinção entra para seleto rol de bichos que viraram memes na internet, junto com a cobra naja que picou o playboy e a ema, que bicou o presidente Jair Bolsonaro.
Isso porque, segundo o Banco Central, o lobo-guará vai estampar a mais nova nota de R$ 200, anunciada recentemente pelo órgão e que deve entrar em circulação em breve.
A explicação do Banco Central é que a decisão pela nova nota, aprovada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), foi tomada para "atender ao aumento da demanda por dinheiro em espécie que se verificou durante a pandemia de covid-19".
O anúncio pegou muita gente de surpresa e causou alarde, pois seria um valor alto para única nota, assustando assim pessoas que viveram períodos hiperinflacionários como os anos 80 e a primeira metade dos anos 90.
Em postagem do Facebook, o servidor público aposentado Adão Matias lembrou, de forma bem-humorada, que a nota de R$ 200 reais não é nada para quem ganhava 1.183.410,00 (um milhão cento e oitenta e três mil e quatrocentos e dez) cruzeiros em 1985.
“Era tudo ilusão. A inflação era muito alta, os preços dos alimentos e bens de consumo subiam todos os dias. Você entrava no mercado e passava pela prateleira, o preço do produto era, por exemplo, dois cruzeiros, quando voltava para o caixa, o valor já era outro. O remarcador de preços trabalhava o dia todo”, lembra Adão.
E, incrivelmente, Adão passou, não pela criação de uma nota com valor mais alto, mas pela desvalorização absurda de uma nota que já existia, a ponto de o Banco Central, durante a transição de cruzeiro para cruzado novo, na década de 90, carimbar a de dez cruzeiros para informar que naquele momento ela valia um centavo de cruzado novo.
Na época, o cruzado novo chegou a ter nota de de 1000, 500 e também de 200. "O pagamento vinha em envelope, direto do departamento pessoal".
Sobre a nova nota de R$ 200 reais, Adão acha que não vai adiantar muita coisa. “A nova nota de 200 reais acho que é 'uma cortina de fumaça' para encobrir alguma coisa mais grave que está por vir. Não vai, na minha opinião, resolver nada. Será menos volume na carteira”.
Quem também lembra muito bem como era receber milhões por mês é o diretor de televisão Silas Alencar. “Em 1982 eu ganhava 1.200.000,00 (um milhão e duzentos mil) cruzeiros, se fosse em reais, pra você vê, estaria milionário. Quando eu fui pra TV Educativa, onde estou até hoje, ganhava 2.600.000,00 (dois milhões e seiscentos mil) cruzeiros”.
Silas ainda lembra de momentos que quando fala, nem acredita. “Quando eu trabalhei na construção civil com meu finado tio, lembro que ele pegava serviços de 32.000.000,00 (trinta e dois milhões) de cruzeiros, não dá nem pra acreditar que um serviço valia 32.000.000,00 de algum dinheiro hoje em dia”.
Também tendo passado maus bocados com a inflação das décadas finais do século passado, Silas não vê com bons olhos a nota de R$ 200. “Acho que só vai dificultar mais pra quem mexe com troco, quem ganha salário mínimo não vai nem ver uma nota dessa, pra mim não agrega nada”.
Segundo o Banco Central o modelo da nova nota já está em fase final de confecção e ainda passa por alguns testes de segurança, tendo previsão inicial de começar a circular no fim de agosto.
Guarda essa pra gente também Adão!
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