O desabafo de um professor que não desiste de sonhar com a educação
Estava eu à procura de inspiração para escrever sobre um assunto que há um tempo vem me incomodando: a forma como os professores estão sendo tratados no Brasil. E não digo apenas por governantes, mas também por próprios cidadãos e até por pais de alunos, que, na minha opinião, deveriam ser os primeiros a tratá-los com todo o respeito que merecem.
E a minha busca cessou quando me deparei com um desabafo do meu próprio pai, que é professor. Pensei em usar algumas partes do texto dele para me expressar, mas entre um rabisco e outro, não me convenci de que superaria as palavras dele, escritas com tanta verdade e sentimento. Por isso, aqui vai na íntegra o desabafo de um educador:
"Sou professor e, como um profissional da educação, acredito que os sonhos de proteger, defender e ensinar nossas crianças ainda não acabou.
É ultrajante ver um professor, que mesmo sendo desvalorizado, exerce um trabalho de qualidade, que é seu dever, enfrentando enormes desafios para levar ensino de qualidade e formação ética e moral para nossos adolescentes.
Enfrentamos salas de aula com mais de 30 alunos, em um desafio de fazê-los cidadãos do bem, com futuro promissor. Muitos alunos vindos de lares despreparados, com famílias desestruturadas, convivendo com situações que ocorrem nas escolas e em seus lares que nos causam cada vez mais perplexidade e angústia, encontram professores que muitas vezes precisam se articular, fazer verdadeiros milagres, trabalhando valores e condutas além do conteúdo para serem intitulados de incompetentes.
Será que essa situação é realmente necessária? A educação não está entre as prioridades de nossos governantes? Como transformar pequenos cidadãos em pessoas ilustres, solidárias, educadas, competentes, guerreiros, lutadores por seus ideais, se a classe está à mercê de total depredação?
Meu sonho não acabou, não acredito que nos que estão tentando destruí-los.
A educação brasileira enfrenta o dilema de lidar com alunos provindos de lares conflituosos, onde os parâmetros morais e éticos são insuficientes e acarretam dificuldades de aprendizagem, fazendo com que a escola tenha mais uma função: a de servir como rota natural para o desenvolvimento individual e social da criança e do adolescente.
Amo minha profissão. Tenho orgulho de ser professor, mas tudo tem um limite e o preço que temos que pagar, para mim não vale a pena. Não desejo ser herói, que morre por seus ideais. Quero ser um professor que vive e contribui para ajudar o próximo a alcançar o sucesso.
Tenho fé! Deus está com os seus. Alguém muito especial, com certeza, irá salvar a educação em nossa cidade, em nosso estado e no nosso Brasil".
Por Álvaro Roberto Benedito Ferreira
(professor de Educação Física e meu melhor professor da vida)
*Mariana Lopes é jornalista e colaboradora do Lado B.