Pam traçou plano e foi ser feliz com amigos em comunidade diferente
Amigos compraram "pedaço de terra" juntos para viver longe da cidade e levar uma vida mais sustentável – e deu certo
A designer de moda sul-mato-grossense Pâmela Magpali, de 32 anos, já foi matéria no Lado B quando produzia sapatos artesanais e se destacava especialmente em São Paulo. Mas há alguns meses a vida tomou um rumo totalmente diferente. Quem a acompanha nas redes sociais vê Pâmela engajada na construção da própria casa e uma comunidade, ao lado de amigos que prezam por um estilo de vida mais sustentável. Uma mudança drástica para quem durante muito tempo viveu em cidades bastante movimentadas, e toda essa transformação ela descreve agora no Voz da Experiência.
"Parece clichê, mas tudo para mim começa a partir de um sonho, e eu sonho alto, pois a vida acontece no agora e todo meu tempo é dedicado a planejar soluções ao invés de achar empecilhos. Por volta de 2014 tive essa reflexão com o meu amigo Artur (um dos moradores da comunidade onde vivo), pois estava sempre falando que iria ser mais feliz se morasse no campo, vivesse em harmonia com a natureza, tivesse a liberdade de fazer minha própria casa, plantar minha comida.
Na época eu já estudava sustentabilidade e à medida que eu ia aprofundando tudo parecia muito errado, a produção excessiva de lixo, as pessoas sem teto, o horror da indústria alimentícia, a poluição das águas, e viver de outra forma parecia muito utópico. Foi quando pensei que se eu quisesse viver de outra forma deveria fazer algo para que isso acontecesse.
Então tracei um plano e cinco depois cheguei onde estou, vivenciando uma nova forma de viver e, às vezes, me pego tão feliz que quase não acredito que isso é possível. Na minha percepção nada se faz sozinho e, naquela época, sabia de outras três amigas que também estavam procurando sair da cidade e então decidimos unir forças".
"O dinheiro na sociedade que vivemos cria a ilusão que é a única forma de realizar os sonhos, mas se teus sonhos não são baseados no materialismo, como o desejo de rir mais do que ter um carro novo, você sai um pouco da caixa e encontra sempre outras formas de fazer.
Então a mudança começou assim: “não tenho dinheiro, mas tenho amigos” e se posso dividir esses custos por seis, tudo começa a ficar mais viável. Compramos então esse pedaço de terra na Serra Gaúcha e começamos a ficar mais perto de colocar em prática tudo que a gente acreditava.
Logicamente nem tudo são flores e, no Respiro das Flores, viver em comunidade tem suas inúmeras dificuldades, as diversas opiniões, as manias de cada um, mas saber ouvir e saber se expressar são imprescindíveis para tudo dar certo.
Quando descobri a permacultura e a agrofloresta um novo mundo se abriu. A permacultura te traz esse olhar de fazer tudo da forma mais eficiente, não só para você, mas para todo o meio que o cerca. Tudo é pensado de forma lógica e criativa, por exemplo, precisamos de um banheiro: então pedir para prefeitura trazer a água do outro lado da cidade para depois descartar um esgoto que vai poluir exatamente a água que eu preciso pra viver aqui? Ou posso coletar a água da chuva e fazer um sistema eficiente de filtragem com plantas e pedras, ou melhor, um banheiro seco que ainda gera um adubo potente para usar nas frutíferas?
É esse olhar atento e aplicado em tudo que traz a coerência. Eu começo a não só extrair da natureza, mas usar ela ao meu favor me dedicando também a ela, e nessa simbiose todo mundo sai ganhando. Para tudo isso é preciso compreender que somos um organismo vivo que precisa de cooperação. A matemática é simples, se você tira e não devolve depois não tem mais e a gente morre de fome, de sede, sem respirar (diante do cenário que vivemos esse ano, não dá mais para achar que isso vai demorar muito). Por outro lado, ao invés de tirar você planta e aí você colhe".
"É necessário inverter essa lógica do "preciso ganhar mais dinheiro", e sim se dedicar a como posso viver melhor e gastar menos dinheiro. Diante dessa lógica cheguei a incrível conclusão de que ganho o que preciso e o tempo é muito mais valioso do que a moeda.
Tudo isso tem a ver com acreditar que somos capazes, principalmente nós mulheres que crescemos não acreditando ser capaz de pregar um quadro na parede. Não temos que ter medo de errar, porque lógico que vamos errar, e tudo bem, é assim que se aprende. Vamos estudando formas melhores, ganhando habilidades e com isso confiança. O maior aprendizado que tenho tido nesses anos é observar que, quando saímos um pouco do automático, dessa engrenagem pronta que é o sistema que vivemos, temos a oportunidade de questioná-lo e assim nos questiona, e então achar melhores soluções".
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