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Comportamento

Para 85%, Campo Grande não sabe se “comportar” sem toque de recolher

Os outros 15% acreditam que o campo-grandense é sim capaz de respeitar os protocolos de covid-19 – mas isso sem ficar em casa

Raul Delvizio | 18/10/2020 11:20
Na avenida Afonso Pena, "rolezeiros" se aglomeraram em frente ao Parque das Nações com muita bebida alcoólica e música alta na madrugada de sábado adentro (Foto: Direto das Ruas)
Na avenida Afonso Pena, "rolezeiros" se aglomeraram em frente ao Parque das Nações com muita bebida alcoólica e música alta na madrugada de sábado adentro (Foto: Direto das Ruas)

Pergunta: o campo-grandense é capaz de ter "bom comportamento" agora que não há mais restrição de horário do toque de recolher? A enquete do Lado B de ontem (17) fez exatamente esse questionamento. Para 85% dos internautas, um coro solene de vários "nãos", isto é, não temos competência em fazer retorno gradual e cidadão na madrugada da Capital.

E quais seriam as justificativas? Nas redes sociais, conversamos com alguns seguidores o motivo de terem respondido negativamente à nossa pergunta.

"Se nem durante a pandemia, que tinha tudo restrito em lojas, comércio, baladas, havia respeito, imagina agora sem o toque", comentou uma jovem. Outro se questionou qual seria a razão do poder público em "ter liberado tudo".

"Caso seja a redução na porcentagem de leitos usados em hospitais, de quase 100% para os 30% de agora, é uma justificativa muito fraca. A pandemia é real, ela ainda existe e nos afeta diariamente", afirmou.

Ainda, um terceiro falou que considera "muito feio esse retorno", pois "não tem nada de gradual, é no sistema bruto mesmo, como se estivesse tudo normalizado".

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Para o sociólogo Victor Miranda, o resultado da enquete não condiz com a realidade presente nas ruas.

"É fato que a aglomeração aumenta o risco de contágio. Portanto, ninguém deveriam estar saindo e abusando na Afonso Pena ou qualquer outro lugar. Mas me parece que é como se a medida proibitiva do toque de recolher fosse resolver todos os nossos problemas", considera.

"Talvez seja aquela expressão 'lei que não pega'. Por um lado, as pessoas são descuidadas com o vírus – é só observar nas ruas. Por outro, são as mesmas que cobram o poder público pelo toque de recolher, afirmando que 'isso aqui é uma palhaçada'. Vivemos o que eu chamo de 'modernidade inacabada', uma paralisia em termos de aperfeiçoamento de valores coletivos. Aqui é na base do 8 ou 80, uma dualidade social".

Mesmo em horário anterior ao toque de recolher, tinha dias que até o Centro ficava super movimentado (Foto: Henrique Kawaminami)
Mesmo em horário anterior ao toque de recolher, tinha dias que até o Centro ficava super movimentado (Foto: Henrique Kawaminami)

Sobre os 15% que afirmaram o "sim" – que o campo-grandense é capaz de se "comportar" nas ruas agora que o toque de recolher foi revogado –, alguns usuários também quiserem opinar.

"Eu acredito que o campo-grandense esteja preparado pra ficar sem o toque de recolher, mas é que algumas pessoas abusam, e aí ferra pra todo mundo", disse um rapaz.

"Não digo que não sabia que rolava muitas e muitas festas clandestinas justo no horário do toque. Mas eu só tenho saído por agora, e acredito que tem como fazer isso em segurança", comentou outro jovem.

Cartão postal de Campo Grande, a reabertura do Parque das Nações Indígenas ficou cheia de gente (Foto: Henrique Kawaminami)
Cartão postal de Campo Grande, a reabertura do Parque das Nações Indígenas ficou cheia de gente (Foto: Henrique Kawaminami)

Segundo Miranda, o Brasil – o que inclui o povo sul-mato-grossense – ainda preserva uma cultura de “complexo de vira lata”.

"É como se fossemos o pior do mundo, e isso não tem nada a ver. Sabe o "jeitinho brasileiro"? Pois digo que seria mais adequado dizer "jeitinho humano". Na pandemia, tiveram sociedades com maior ou menor entendimento das causas e consequências que o isolamento social proporcionaria ao país. Então o brasileiro não foge à regra. Apenas não levamos em consideração o coletivo, apenas os nossos atos individuais", finaliza

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