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Comportamento

Para serem 'vistos' eles tiveram de emagrecer e diminuir a numeração das roupas

Paula Maciulevicius | 06/11/2013 06:16
As roupas do antes e depois de Tathiana Ajala. Do manequim 54, em dois anos ela já chegou no 44.
As roupas do antes e depois de Tathiana Ajala. Do manequim 54, em dois anos ela já chegou no 44.

Para ser atendido em loja, conseguir comprar roupa e ser reparado na balada eles tiveram de emagrecer. Hoje o Lado B conta a história de dois personagens que viveram boa parte do tempo como coadjuvantes na própria vida. Se escondendo atrás das roupas que lhe serviam, não as que gostavam, e dizendo para si mesmos uma falsa verdade, de que não se importavam em ser gordos.

A estilista Tathiana Ajala, de 31 anos, nunca foi magra e viveu a discriminação de perto. Era a moça do rosto bonito. Tinha os elogios voltados somente à parte do corpo que não estava acima do peso. Não usava vestidos, saias curtas e o guarda-roupa se resumia às calças jeans e blusas pretas. Apesar da formação em moda, a satisfação em montar um look era voltada aos amigos. Para ela mesma, não havia nem graça em se vestir.

Com 126 quilos, o peso que chegou a ter, na hora de comprar roupas, já saiu muitas vezes chorando das lojas. “Se você pergunta, a vendedora olha para você e fala não tem nada do seu tamanho. Acontece que quando você é gordo, se entra numa loja os vendedores olham de cima embaixo”.

Uma das experiências foi quando ela e uma prima, magra, foram às compras. “As duas vendedoras foram atender ela. E eu fiquei só olhando e a loja tinha roupa que me servia e eu ainda poderia comprar acessório, uma bolsa. Mas ninguém veio me atender”.

De 2011 até 2013. Tathiana pesava 126 quilos e hoje tem 79. (Foto: Roberto Ajala)
De 2011 até 2013. Tathiana pesava 126 quilos e hoje tem 79. (Foto: Roberto Ajala)

Quando ela pediu à funcionária do caixa para ser atendida, recebeu a resposta de que deveria esperar porque todas estavam ocupadas. “Saí da loja chorando, é muito ruim. Você se sente discriminado para tudo. Se senta para comer em local público, os olhares já são ‘mas olha como ela está comendo’, é muito dolorido isso”.

Na balada, na noite ela era só a gorda amiga dos homens. Recebia abraços e beijos, mas na visão masculina, não representava perigo algum. “Você é a gordinha da turma, ninguém nunca vai querer você. Você é a amiga de todos”, relembra.

Há três anos, com o apoio da família e dos amigos, ela ingressou na bateria de exames para fazer a cirurgia de redução de estômago. Em agosto de 2011, com 126 quilos, Tathiana entrou na sala de operação. Hoje, o jogo inverteu e ela pesa 79, cinco quilos são de massa magra.

“Quando emagrece muda completamente. O olhar masculino é outro. Agora olham primeiro a aparência e depois o resto. As mulheres me elogiam e quando eu digo que fui gorda, as pessoas ficam pasmas”, conta.

Do manequim 54 ela passou a usar 42, 44. O pé diminuiu e os sapatos tamanho 38 já ficam grandes. Ir às lojas não é mais problema. E o guarda-roupa deixou as calças jeans e blusas pretas de lado. O look da estilista ganhou vestidos, saias curtas, shorts e até uma blusa branca. “Para mim isso foi muito bom. Eu nunca tina vestido roupa branca na minha vida. Hoje eu compro o que eu quero, escolho, provo e dá certo”.

A imagem de não poder comprar roupas que queria ficou para trás. Como magro, a primeira coisa que ele fez foi ir às compras.
A imagem de não poder comprar roupas que queria ficou para trás. Como magro, a primeira coisa que ele fez foi ir às compras.

Ter cabelo azul virou um mero detalhe na aparência. O que ela ouve hoje é “olha que linda aquela menina de cabelo azul. Percebi que comecei a chamar muito mais atenção. Muda o olhar da sociedade com você”.

Tathiana nunca havia cruzado as pernas. Sabe, se sentar e cruzar pernas? Coisa que se faz no automático, sem nem ao menos perceber e notar que é possível que alguém não consiga fazer isso. “Como eu nunca fui magra, eu achava que era feliz. Quando eu emagreci, eu vi que não era feliz”.

Os quilos a mais que um final de semana de pé na jaca trariam, a ela não faria diferença. Um exemplo disso eram as saídas entre amigas, quando uma dizia que tinha de emagrecer e não podia comer tal coisa e Tathiana de pronto respondia que 2 ou 10 quilos a mais a ela não fariam diferença.

O dilema não é vivido apenas por elas. Em 2011, Bruno Duim, com 22 anos, entrou na sala de cirurgia para também fazer a redução de estômago. Na época, os 155 quilos pesavam muito mais no consciente do que na balança.

Ele não saía de casa, não comprava roupas, não ia à lojas. “Não tem seu número, então fica constrangedor. Você gosta daquela marca e infelizmente não tem”.

Na balada, a lembrança que ele tinha eram dos cumprimentos por educação. “Você sabe que não vai acontecer nada. Sua autoestima é tão baixa, que eu saía de casa com essa ideia, de me divertir. Você prefere ficar em casa, no seu mundo”.

A imagem de não poder comprar roupas que queria e o olhar torto dos vendedores foi a primeira coisa que ele quis deixar para trás. Como magro, ele foi às compras.

“Eu entrei numa loja e comprei roupa. Vesti um número diferente, me olhei no espelho e falei, agora eu sei que estou magro”.

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