Relação de mãe e filho pequeno é a mais descarada da vida. Aproveite!
Com quem mais você mantém tal grau de intimidade a ponto de conseguir dizer que ama olhando nos olhos?
Talvez a saudade tão falada por pais que já passaram há muito tempo pela primeira infância do filho seja da relação mais íntima e genuína que tiveram com alguém nessa vida.
Pensem comigo, com quem mais neste mundo você se relaciona como com seu bebê? Quem você beija, abraça, aperta, cheira, diz: eu te amo muitas e muitas vezes por dia sem qualquer cerimônia?
Com quem mais você mantém tal grau de intimidade a ponto de conseguir dizer que ama olhando nos olhos e sem sentir o receio que nos trava quando queremos expressar afeto por alguém?
Filhos pequenos são o ápice do amor declarado de forma límpida. Sem rodeios, sem vergonha, sem pensar. Quando a gente vê, já falou, já agarrou, já beijou.
E aí conforme o tempo vai passando, eles vão crescendo, entendendo e não nos enxergando mais como único e total porto seguro. Junto com as fases, as dificuldades se transformam.
O excesso de colo vira ausência de toque. As histórias imaginárias e contadas repetidas vezes dão lugar ao silêncio, e quando percebemos já estamos estacionados numa relação em que a espontaneidade das palavras aparece só quando olhamos no retrovisor.
Bem, eu não tenho ainda filhos grandes, mas, além de mãe, sou filha e repassando o que lembro da infância fica evidente que crescer traz inúmeros benefícios, mas também naturalmente nos endurece e distancia. Quando foi, por exemplo, que você disse (ou ouviu) 'eu te amo' para seus pais?
A adultice tem dessas, né? De fazer a gente pensar que as coisas já estão implícitas e não precisamos verbalizar ou demonstrar nada de maneira óbvia, e aí os muros ou abismos vão sendo construídos.
Então, assim como nos dizem 'aproveita pra dormir agora' quando estamos grávidas, bora aproveitar essa troca de afeto sem titubeio porque, assim como o sono, infelizmente, amor não se estoca.
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