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Comportamento

“São como nossos filhos”, diz quem trocou a Angola pelo Brasil

Da arte até comportamento, Zátula conta que heranças são vistas no cotidiano e, por isso, escolheu o Brasil

Aletheya Alves | 24/11/2022 07:35
Zátula é poeta e se apresentou com declamação na Comunidade Quilombola Tia Eva. (Foto: Divulgação/Sarau do Parque)
Zátula é poeta e se apresentou com declamação na Comunidade Quilombola Tia Eva. (Foto: Divulgação/Sarau do Parque)

Há 9 anos, Zátula Monteiro escolheu deixar Luanda, na Angola, para começar uma nova vida no Brasil e acabou chegando até Campo Grande. Apesar de sentir o nordeste brasileiro mais próximo dos costumes angolanos, ele conta que Mato Grosso do Sul também guarda as similaridades e traz uma atmosfera de lar.

“Nós olhamos para o Brasil como filhos nossos pela nossa descendência por aqui. Então o Brasil tem essa particularidade”, conta Zátula sobre o motivo de ter escolhido o Brasil e não Portugal, por exemplo.

Em 2013, ele saiu do país de origem para ampliar seus estudos na área da Química, mas desde então também recuperou o gosto pela declamação de poesia e comprovou suas teorias sobre o Brasil. “Quando a gente vem para cá, tem muita coisa que nos lembra a Angola. Desde a música até alimentação, acredito que tudo tenha muito da nossa herança”.

Zátula em Luanda, na União dos Escritores Angolanos. (Foto: Arquivo pessoal)
Zátula em Luanda, na União dos Escritores Angolanos. (Foto: Arquivo pessoal)

Antes de se mudar, Zátula já havia visitado o Brasil algumas vezes, mas para realmente morar foi a primeira. Na época, ele tinha deixado de lado o destaque em compartilhar suas poesias, mas foi em Campo Grande que realmente fez a retomada.

“Eu não tive o problema de me adaptar no sentido de comportamento. Essa alegria que o brasileiro tem também é uma herança. Você não vê o africano triste, ele pode estar passando por situações difíceis, mas sempre tenta retomar a felicidade”, diz Zátula.

Enquanto Luanda era uma cidade movimentada, ele conta que viu em Campo Grande a calmaria que precisava e percebeu que aqui seria seu lugar. “Mesmo com o nordeste do Brasil tendo um pouco mais de semelhança, eu vejo um pouco da Angola em todo canto. O gosto pela farinha com feijão, a diversão em cantar e dançar, tudo isso é muito parecido”.

Sobre o caminho profissional, ele narra que viu a mudança como necessária, “eu vim para estudar Química, mas acabei mudando para Bioquímica. No meu país eu era professor, mas vi que no Brasil esse campo era maior, mais desenvolvido”.

Ele conta que sempre uniu poesia e química. (Foto: Arquivo pessoal)
Ele conta que sempre uniu poesia e química. (Foto: Arquivo pessoal)

Até então, a ideia era deixar seu lado artístico guardado, mas em Mato Grosso do Sul as mudanças chegaram. “Eu sempre escrevi, comecei com 12 anos, mas já fazia poesia com 9 anos. Depois que eu vim, quis deixar isso só para mim, mas conheci escritores daqui e eles começaram a me dar mais força. O Rubenio Marcelo e Ádemir Santos foram quem me impulsionaram”.

Agora, além de seguir no caminho da Bioquímica e ter retomado a declamação e escrita de poesias, Zátula também traz seus conhecimentos sobre diversas questões sociais. “Para mim, ser poeta é viver os estados de espírito social, aquilo que é momentâneo e tudo o que nos circunda”, explica.

Unindo cada parte de si, ele conta que ingressou em alguns movimentos da escrita e que também são sociais. “Faço parte da Brigada Jovem de Literatura de Angola, Levarte Angola e Clube Nacional de Poetas e Trovadores”.

Aproveitando a união de temas, o angolano agora também participa de eventos culturais levando um pouco de tudo o que faz. “Eu participei do Sarau do Parque na Comunidade Tia Eva e foi muito bacana compartilhar lá. Levei minha declamação que é algo que tenho muito orgulho”.

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