Sem poder tocar, que gesto é igual a um abraço caloroso?
Com a pandemia, um dos gestos mais calorosos entres seres humanos precisou ser deixado de lado: o abraço.
Em tempo de pandemia, a distância se fez necessária. Se for preciso estar no mesmo ambiente, recomenda-se o uso de máscaras e distância de um metro e meio entre uma pessoa e outra. Com essas e outras recomendações, necessárias até que se encontre algo definitivo contra esse vírus que tem assustado e matado milhares de pessoas pelo mundo, um dos gestos mais calorosos entre seres humanos precisou ser deixado de lado: o abraço.
Hoje, 22 de maio, é celebrado o Dia do Abraço, uma data simbólica que nasceu há alguns anos, com objetivo de trazer mensagem de paz e amor entre as pessoas. Mas como não é possível comemorar do jeitinho mais tradicional, o Lado B foi às ruas saber: que gestos são tão significativos como um abraço apertado?
Mas antes de encontrar pessoas na rua, recebemos nesta quinta-feira (21), uma homenagem que aqueceu o coração de uma família, que há meses tem lidado com a saudade e a distância dos avós, seu Benedito e dona Cidinha, uma casal que sempre gostou de ver a família unida e nunca dispensou um abraço apertado.
Quem detalha a história é a médica Giovanna Ricartes, neta do casal. “Nossa família sempre foi muito unida, lembro da infância em que íamos todos os dias tomar chá da tarde com a minha mãe na casa da minha avó. Depois que ela ficou doente, nos reuníamos todos as semanas para oração da família. Os anos se passaram e as orações ficaram para uma sexta-feira por mês, religiosamente, antes da pandemia”, lembra.
Com a chegada do coronavírus, se foram os calorosos almoços de domingo e as orações em família. “Tivemos que ensinar os avós a mexer no FaceTime para conseguirmos nos ver, mesmo que de longe. Idosos e com comorbidades, foram por mim e por todos preservados dos abraços e dos beijos em tempo de covid-19”.
Do portão da casa ou pelo celular, assim era a comunicação, até Benedito sentir dor no peito e ser encaminhado para o hospital. “Ficou internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) necessitando fazer dois cateterismos cardíacos. Como tinha falta de ar, até descartar o coronavírus, ficou em isolamento conforme protocolo”.
Os testes da doença deram negativos, porém Benedito passou por um novo procedimento e iniciou tratamento por causa de uma pneumonia. “Ficou sozinho e no restrito horário de visita sempre perguntava da véia dele, minha avó, e até fez um vídeo para ela. O amor deles é admirável, mais de 60 anos de cumplicidade e respeito”, lembra.
Benedito saiu do hospital na última terça-feira, 19 de maio. A chegada em casa rendeu mais emoção do que ele imaginava. A afilhada Roselene Ricartes e Rosenir, a filha, colocaram balões, cartazes e um “abraço com amor” para que a família pudesse chegar perto, mas sem riscos. “Era um abraço onde através de plástico colocávamos os braços e conseguíamos abraçar sem tocar a pele do outro”.
No dia, Benedito ainda se sentia fraco, e não conseguiu levantar para usar o abraço protegido. Mas, ontem, Giovanna, sozinha, pode dar o tão esperado abraço. “Ele conseguiu ficar em pé e o nosso abraço protegido funcionou. Foram mais de três meses sem sentir aqueles braços gordinhos de pele macia me abraçando e o calor do rosto no rosto com a minha avó. Foi uma alegria poder vê-lo com saúde e que felicidade indescritível poder abraçá-los”, descreve a neta.
Roselene, que preparou tudo com muito carinho, também se emocionou. “Essa reclusão nos distancia fisicamente, mas emocionalmente estamos muito unidos. O sentimento de amor nos aproxima”.
Para a família de Giovanna e de outros entrevistados, o significado de abraço vai além de um simples “ato de abraçar” ou “apertar entre os braços”, significa eu te amo, eu estou aqui, um bom dia e até mesmo um sorriso frouxo, sem que nenhuma palavra seja dita.
Nas ruas - Na companhia das filhas, a alegria de Bonifácio Marques, de 66 anos, ao falar da netinha define um abraço. “Quando eu escuto ela grita ‘vovô’, vovô’, meu Deus, é um amor tão lindo. Eu me sinto vivo”, conta. Ele diz que esse é um dos gestos que tem peso dentro de casa e alivia a saudade de apertar a família. “Nós sempre fomos muito carinhosos em casa, e ficar sem abraçar outros familiares tem sido um desafio, então ouvir a família é melhor gesto”.
Já para o seu Belarmino Pereira, de 76 anos, que há dois meses não tem o abraço de clientes queridos e amigos antigos, o que para ele é mais significativo se resume a uma “boa prosa”. “Gosto de gente que chega contando uma boa história. Que fala da família, da saúde, principalmente porque depois de uma idade uma conversa boa tem que ter alguém falando como está a saúde do outro”, ri.
Falar sobre abraço também diz muito sobre educação, pelo é o que pensa Paulo Roberto, de 67 anos, que admite não ser muito fã de contato físico, mas sente falta do famoso “bom dia” pelas ruas. “Eu não preciso abraçar, mas sinto falta de um bom dia bem dado, com educação, isso já me basta. E muita gente acha que um bom dia não faz diferença, mas quando você dá e recebe de volta, aquilo até anima”.
E você? O que já fez no dia de hoje para que o outro se sinta abraçado?
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