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Comportamento

Tradicional churrasco de Luiz vira marmita para família matar saudade

Ele assou a carne, separou em marmitas e deixou em cima de uma mesa que está próxima ao portão, para cada um pegar o seu

Alana Portela | 05/05/2020 06:23
Luiz Mori segurando um pedaço da carne que assou para a família. (Foto: Arquivo pessoal)
Luiz Mori segurando um pedaço da carne que assou para a família. (Foto: Arquivo pessoal)

Para manter a tradição, Luiz Mori resolveu fazer o churrasco de domingo e separar em marmitas para a família buscar. “Deixei em uma mesa, que está perto do portão. Eles abriram, pegaram o seu e levaram para almoçar, cada um na sua casa’, diz.

Essa foi a maneira que Luiz encontrou para transmitir um pouquinho do amor pelas filhas, genros e netos que não vê há quase dois meses. Isso porque, desde que o coronavírus se espalhou em Campo Grande, ele tem seguido à risca as recomendações dos médicos e se isolado.

“Tenho 66 anos, estou na área de risco por conta da idade de por ser hipertenso. Minha esposa, Arlete Marta Mori, também é hipertensa e tem 65 anos. Estamos conversando com a família apenas por chamada de vídeo, foi aí que uma das filhas falou que estava com saudade da carne assada”.

As três marmitas feitas para às filhas, Vanessa, Anita e Alessandra foi colocada em cima de uma mesinha.(Foto: Arquivo pessoal)
As três marmitas feitas para às filhas, Vanessa, Anita e Alessandra foi colocada em cima de uma mesinha.(Foto: Arquivo pessoal)

Num bate-papo com o Lado B, ele contou que o churrasco de domingo é tradição familiar. Antes da quarentena, todos se reuniam na casa de Luiz para matar a saudade e comer aquela carne assada suculenta. “É nossa confraternização, isso já acontece há mais de 20 anos”, conta o patriarca.

No entanto, foi só o vírus chegar na cidade que a família precisou parar com as reuniões. Luiz é contratado como gerente de uma lotérica, porém também teve que se afastar do serviço por questão de segurança. Sua rotina mudou drasticamente e os dias passam devagar. Em casa, é do quarto para sala, de lá para cozinha ou banheiro.

“Está sendo complicado. Não tenho muito o que fazer, minha distração é assistir televisão e falar com a família por chamada de vídeo. Mas, não é a mesma coisa de quando estamos juntos”, destaca. E foi durante uma conversa por telefone que uma das filhas comentou que estava com saudade de comer o churrasco feito pelo pai.

No domingo, 3 de maio, ele pulou cedo da cama, acendeu a churrasqueira e separou a carne. No tempero, os ingredientes tradicionais, misturado com uma porção de amor e algumas pitadas de saudade. “Fiz porque assim, todos iriam sentir o gosto do nosso churrasco, mas sem as reuniões. Foi prazeroso, cada um levou um pouquinho de carinho”, fala Luiz.

A esposa Arlete Marta também ajudou o marido nas preparações. “O churrasco sempre foi maravilhoso e fazer para enviar às filhas é um acalento, pois, pelo menos, estamos fazendo algo para elas e isso é um prazer enorme. Esperamos que tudo acabe logo, assim a gente pode se reunir novamente”, diz a mãe.

Ela comenta que os domingos eram reservados para a família conversar, falar sobre a semana e manter a união. “Estamos com muita saudade de todos. Apesar de nos falarmos pelo WhasApp ou se ver por chamada de vídeo, ainda assim sentimos falta. Por isso, deixamos tudo arrumadinho, nomeei as marmitas e deixei na mesa para pegarem”.

Adriano Bernardi do Prado é um dos genros que foi pegar a marmita. (Foto: Arquivo pessoal)
Adriano Bernardi do Prado é um dos genros que foi pegar a marmita. (Foto: Arquivo pessoal)

De todos os churrascos do pai que já comeu, aquele na marmita tinha um gosto pra lá de especial para Alessandra Satie Mori. “Acho que cada uma das filhas deve ter tido uma reação diferente. Meus pais são muito carinhosos e cuidadosos. Estávamos, todas as filhas e netos, com saudade do tempero do meu pai, então foi delicioso e acalentador no meio de tudo que estamos vivendo. Ao mesmo tempo, pra mim, foi meio triste não ver meus pais e irmãs, está sendo difícil e a saudade aperta”.

Ela é farmacêutica, tem 43 anos e relata que, quando começaram as notícias e orientações para evitar o coronavírus a família toda entendeu o recado e decidiu entrar em quarentena. “Conversamos sobre nossas preocupações e resolvemos que não íamos mais lá, presencialmente”.

No começo, elas ficaram preocupadas com a reação dos pais. “Não sabíamos como seria, se aceitariam bem. Então, falamos no grupo de WhatsApp da família, que seria melhor. Explicamos que era perigoso e que teriam que se cuidar”.

Contudo, apesar do isolamento a família continua unida. “Uma das minhas irmãs mora com eles. Ela está trabalhando a distância, ficou encarregada de fazer as compras e resolver tudo fora de casa. Meus pais só saem em caso de urgência mesmo”, explica Alessandra.

Enquanto o vírus não parar de circular na Capital, a família segue as recomendações médicas e aguenta firme e forte a saudade que aperta o peito todos os dias. O sacrifício vale a pena, afinal é para o bem de todos. Agora, a vontade maior é que tudo volte ao normal para que possam se abraçar e matar a saudade nas confraternizações de domingo.

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Imagem feita antes do isolamento, com a família toda reunida na varanda da casa de Luiz. (Foto: Arquivo pessoal)
Imagem feita antes do isolamento, com a família toda reunida na varanda da casa de Luiz. (Foto: Arquivo pessoal)


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