Vó Conga incorpora na mãe da noiva e celebra casamento em terreiro
Cerimônia foi cheia de significados para o casal, que casou no dia 31 de outubro em uma tenda de umbanda
Um casamento bem diferente do convencional, mas igualmente emocionante foi o da artista plástica Oryan Ottoni Borges Cordeiro de Barros e do desenvolvedor de sistemas Jean Carvalho Ortiz, que estão juntos há 12 anos. No último domingo, dia de Halloween, os dois casaram no terreiro da família da noiva, que teve sua cerimônia celebrada pela Vó Conga, que incorporou na mãe de santo da casa que também é mãe de Oryan.
Os dois se conheceram nos eventos de cultura pop nerd. Ele não é religioso, mas sempre participou de tudo na tenda de umbanda que fundada pelo seu Marcílio, pai de Oryan, que faleceu ano passado. Hoje a casa é comandada pela mãe dela, Carla. Por isso, quando decidiram ter um casamento, nunca foi cogitado outro local para cerimônia que não fosse o terreiro.
Oryan conta que precisou ser muito sincera também aos fornecedores. “Por conta do preconceito que as pessoas têm com a religião”, explica. “Mas todos os de fora foram ótimos, principalmente o fotógrafo Stank. E muitas coisas foram realizados por nós e amigos muito queridos, como o buffet feito pela cozinheira profissional e amiga de longa data Valdirene”, conta a noiva.
No terreiro, a cerimônia começou dias antes, preparando o ambiente para o dia especial dos noivos. Tem desde banhos de ervas que os noivos tomam a dia em que a entidade vem para benzê-los.
As guias – colares sagrados da religião – são confeccionadas especialmente para os noivos, mas eles só as veem na cerimônia. No dia do casamento a correria é bem tradicional, mas o noivo fica de castigo à espera da noiva.
Um dos padrinhos do casal é ogã – médium responsável pelo canto e pelo toque – que fez questão de cantar para a entrada dos noivos. Oryan entrou no terreiro com a irmã, representando a família, já que o pai e avó faleceram.
Já a celebração teve um significado importante. Carla, que é mãe de Oryan, foi quem recebeu a entidade celebrante e madrinha do casamento, a Vó Conga Sereia, que já era madrinha espiritual de batismo do noivo.
“Ela [entidade] quem atribuiu alguns significados ao casamento. Cada flor do meu buquê estava representada com um significado nas madrinhas, na minha sogra e na minha irmã. Os padrinhos, como guardiões de sentimentos de paz, alegria, prosperidade, fé e amor como guerreiros de São Jorge”.
Oryan também fugiu do branco comum nos casamento. “Vó Conga falou que na cultura dela o branco é uma cor triste para noivas e pediu que eu escolhesse minha favorita”. A escolha do azul ajudou Oryan a se destacar, uma vez que o uniforme dos médiuns é branco, explica.
Com a mãe incorporada, ela também precisou gravar toda a cerimônia. “Fiz questão de gravar para que ela pudesse assistir depois”.
Tudo foi feito pelas mãos dos noivos e familiares com carinho. “Desde cada borboleta pregada, parede pintada até comida feita. Tive a presença de amigos, mesmo um casal que mora no Japão e assistiram tudo por ligação no WhatsApp, além de família de sangue e de santo”.
No final, as entidades dos outros médiuns também surgiram na cerimônia para abençoar e consagrar a união do casal.
Quanto a data escolhida, 31 de outubro não foi por acaso. “É um dia onde o véu entre o nosso mundo e o outro fica mais tênue, o que facilita aos meus convidados do outro lado estar aqui. Meu pai, minha avó e os avós do Jean”, finaliza Oryan.
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