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Consumo

A BMW está na garagem, mas é pela Rural verde e branca que seu José é conhecido

Paula Maciulevicius | 07/07/2016 07:55
A cena de seu José dirigindo pela cidade chega a ser surreal, do encontro do passado com o presente. (Foto: Marina Pacheco)
A cena de seu José dirigindo pela cidade chega a ser surreal, do encontro do passado com o presente. (Foto: Marina Pacheco)

"Nunca passou por outra mão. Comprei em São Paulo, zerada, em janeiro de 1976. Ela veio rodando de lá para cá, foi a maior viagem que ela fez". As palavras saem com o mesmo afeto que ele acaricia a Rural 76, verde e branca. Seu José circula pelo bairro Cabreúva em Campo Grande, de vez em quando, com a relíquia. Apesar de ter uma BMW na garagem, é pela Rural que ele é conhecido na cidade. 

Caminhoneiro, comerciante e hoje aposentado. São 40 anos de amor à Rural. A cena dele dirigindo pela Avenida Tamandaré chega a ser surreal. De um velhinho, com muita história pra contar. Parece até o encontro do passado com o presente. "Ela é toda novinha, olha aqui o motor dela", mostra José Gomes, de 80 anos. 

Pernambucano, enquanto era caminhoneiro conheceu o então Mato Grosso. E quando sentiu que precisava dar um futuro melhor aos filhos, vendeu o veículo e deixou a chave de casa com a sogra. Se nada desse certo, eles voltavam. A chave e a casa permanecem lá, mais de 40 anos depois.

BMW está na garagem, mas a Rural está no coração do dono. (Foto: Marina Pacheco)
BMW está na garagem, mas a Rural está no coração do dono. (Foto: Marina Pacheco)
Por dentro, ela é ainda mais bonita, se gaba seu José. (Foto: Marina Pacheco)
Por dentro, ela é ainda mais bonita, se gaba seu José. (Foto: Marina Pacheco)

Ao chegar em Campo Grande, seu José largou a estrada e trocou o caminhão pelo comércio de redes e sapatos. Foi assim durante três décadas de vendas na 14 de Julho. "E foi nessa época que eu comprei ela, tinha a loja e carregava a mercadoria. Era um carro mais para trabalho e passeio, mas era o da época, o que o pessoal todo comprava", conta.

A cada quatro anos, o aposentado troca de carro. Hoje a garagem guarda uma BMW, mas é na Rural que ele se realiza. A relíquia tem até um salão à parte, num terreno próximo, para ser armazenada com todo cuidado. "Carro para andar eu sempre troco, mas dessa aqui eu gosto e vou ficar. A família às vezes fala para vender, mas não deixa aí... A cor é original, ela era mesma verdinha e branca", descreve.

Ao Lado B ele fez um convite para olhar por dentro e até conferir o motor. Na última reforma, feita um ano atrás, seu José gastou R$ 25 mil. Lhe ofereceram o dobro para comprá-la. "Eu nem olhei pro lado. Me falam que ela dá um bom dinheiro, eu respondo que não dá não, porque eu não quero vender".

"Tudo original", garante motorista. (Foto: Marina Pacheco)
"Tudo original", garante motorista. (Foto: Marina Pacheco)

Sobre o que significa a Rural, seu José não tem nem palavras. Na verdade tem, até em livro ela já saiu. Em 2012 o aposentado resolveu escrever as histórias de caminhoneiro. A obra deu mais de 700 páginas, onde a Rural aparece três vezes.

"Esse carro participou da minha vida. Me marcou muito... As pessoas me param para perguntar. Eu tenho carro novo e bom, mas ninguém sabe que sou eu nele, já neste aqui, todo mundo sabe, pergunta, me para".

Sobre a preferência, ele não esconde. "A Rural, é nela que eu fico tranquilo, para mim é mais gostoso de dirigir do que qualquer outro carro", brinca.

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Rural foi parar até no livro que seu José escreveu. (Foto: Marina Pacheco)
Rural foi parar até no livro que seu José escreveu. (Foto: Marina Pacheco)
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