Pet shops "gigantes" se espalham porque "mãe de cachorro" não economiza
Em dois anos, setor teve um "boom" em Campo Grande com redes nacionais chegando por aqui.
Campo Grande já teve a febre das farmácias, das lojas de colchão, das hamburguerias, das barbearias e agora o que salta aos olhos são as pet shops gigantes. O mercado está em expansão no Brasil e, principalmente, na cidade que em dois anos viu a construção das lojas que não são nada humildes no tamanho, na variedade e nos preços dos produtos. É até difícil saber se há cachorros e gatos suficientes para tantas lojas.
Os pet shops gigantes, que funcionam como supermercados de produtos para animais de estimação, tem algumas peculiaridades. Em dia de semana, não dá para entender porque as lojas são sucesso. O Lado B esteve em cinco delas e dava para contar nos dedos os clientes que faziam compras. O movimento só melhora um pouco no horário de almoço e no fim da tarde. Segundo quem trabalha nos pet shops, é aos domingos que as lojas ficam cheias e o faturamento de um dia compensa a paradeira dos outros.
Segundo os responsáveis, outro detalhe, é que quem mais compra e frequenta são as mulheres. O público é 70% feminino e também são elas que mais gastam com os animais. Uma ida ao pet shop pode ter compras que passam de mil reais, dependendo da cliente. Em dois pet shops. logo na entrada, há gôndolas com plantas, das suculentas que estão na moda e até às orquídeas, justamente, para agradar ao público feminino.
Na Afonso Pena são duas lojas a poucos metros de distância. A Petland é uma rede estadunidense e tem franquia em 19 países e 15 estados brasileiros. Em Campo Grande chegou no fim de 2017.
A Petz abriu em meados do ano passado e, segundo informações divulgadas na época da abertura, tem mais de 20 mil produtos nacionais e importados. A loja é uma filial da rede e faz parte do plano de expansão da empresa.
Na onda do dog money, outro grande pet está prestes a ser inaugurado na esquina da Rua 25 de Dezembro com a Antônio Maria Coelho. A mega estrutura será ocupada pela Pet Here, que aos pouquinhos foi crescendo do outro lado da rua, no Shopping Marrakech.
A Cobasi, principal concorrente da Petz, também estaria para entrar em Campo Grande, mas ainda sem data definida.
A Dog in Box foi a primeira loja do modelo big em Campo Grande. Desde 2014, quando foi inaugurada a primeira, já são três lojas, com mais de 17 mil itens à disposição. O proprietário era do ramo de clínica veterinária e decidiu há cinco anos entrar na área dos supermercados de produtos para pets.
“Em grandes centros, a tendência é essa de supermercado para pets. Até então, faltava isso em Campo Grande. Antes tinham os pets shops menores e não tinha esse autoatendimento e o cliente gosta de ficar à vontade. É um mercado que não parou e só cresceu”, explica Renata Toledo, gerente da loja.
Com relação aos valores, Renata diz que há coisas praticamente de grife para animais. As caminhas são um exemplo e podem chegar a R$ 500. “Tem cliente que chega a gastar R$ 1 mil, dois mil reais. Mas o ticket médio na loja é de R$ 250 a R$ 300 [para as mulheres]. Porque vem comprar um pacote de ração de R$ 200 e leva alguma outra coisa. Os homens não. Pedem a ração e levam a ração”.
A Outpet abriu em janeiro desse ano e fica na rua Luís Alexandre de Oliveira, na Via Parque. O prédio é suntuoso, mas tem produtos para todos os bolsos. São mais de 12 mil artigos. A empresa faz parte de um grupo tradicional de produtos para animais de grande porte de Mato Grosso do Sul.
“Em Campo Grande houve uma expansão muito grande no ramo. O Brasil pulou de quarto lugar para o segundo lugar no mundo em investimentos em produtos para pequenos animais. A gente só perde para os Estados Unidos e o faturamento da área cresceu mais de 27% de um ano para o outro”, explica Fábia Godoy, gestora comercial do Outpet.
Nos quesito preços e produto, os pet shop gigantes têm espaço para todo mundo. De ração comum com preço de mercado aos produtos que chamam a atenção. Perto do Carnaval, as lojas vendem até fantasia, tiaras para os pets e roupas que chegam a custar quase R$ 100 para o cão entrar no clima da folia.
Em duas lojas de grande porte há, inclusive, cerveja e vinho para cães. Os produtos são próprios para os animais e tem sabor de carne. Variar a alimentação também não é só dar um petisco. Tem até bolo de caneca para os pets.
Parte da resposta sobre o que faz o mercado prosperar está na mudança de comportamento de quem cuida do animal. Se antes todo mundo era dono de um cachorro e, muitas vezes, ele ficava preso no quintal, hoje, muitos não aceitam nem serem chamados de donos. São apenas tutores. Outros se denominam de “mãe ou pai de pets”. O animal é parte da família e muitas vezes tratado como gente ou até melhor do que isso.
“Vejo que muitos casais deixam de ter filhos ou enquanto não tem filhos pegam um animal de estimação, pessoas de idade para não se sentirem sós, famílias com um filho só. Hoje tanto o cão, o gato, assim como outros animais como pássaros, são agregados, são um ente da família. O cão e o gato já são chamados de filhos, meu filho de quatro patas, falam os clientes”, diz a gestora do Outpet.
Apesar da maioria das lojas do tipo estar na área central, o fenômeno já chegou aos bairros. Nas Moreninhas, embora menor se comparada às anteriores, tem a PET9 que ocupa meia quadra da rua principal do bairro e tem quase três mil produtos. O gerente, Vinícius Bravo, diz que a ideia do proprietário foi ficar na região mais populosa da cidade. “A gente acha que pode crescer, porque aqui é um bairro populoso. Uma casa com quatro ou cinco pessoas têm dois cachorros”.
Outro fator para o sucesso dos pet shops gigantes está no sistema de autosserviço. Elas funcionam como um mercado e, apesar de terem vendedores para auxiliar, a pessoa pode passear sem a pressão de alguém acompanhando.