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Consumo

Rosani tem peças do século XIX e uma delas será cuidada a vida toda

No meio de um acervo de raridades à venda, Rosani guarda muitas histórias e amor à manufatura

Thailla Torres | 21/03/2022 07:57
Coleção de pratarias de Rosani. (Foto: Nelson Corrales)
Coleção de pratarias de Rosani. (Foto: Nelson Corrales)

Rosani Maciel é fonoaudióloga por formação e trabalha há anos no ramo de transportes na empresa da família, mas herdou da mãe o gosto pelas artes manuais e raridades. Hoje, ela tem dezenas de peças antigas e coleções de porcelana que despertam atenção não só pela estética, mas pelo tempo, história e delicadeza de cada peça.

Ela conta que sua mãe atuou em Campo Grande modelando vestidos de noivas exclusivos e bordados à mão com pedrarias e rendas vindas da França. “Das quatro filhas, fui única que desde cedo manifestei essa paixão. Isso se estendeu a artesanatos diversos, culinária, objetos de decoração e mesa posta.”

Em casa, uma coleção de cerâmicas que ela vai pesquisando e comprando. (Foto: Nelson Corrales)
Em casa, uma coleção de cerâmicas que ela vai pesquisando e comprando. (Foto: Nelson Corrales)

Com o aval de todas as irmãs, ao completar 20 anos, Rosani ganhou a máquina alemã, à manivela, a qual pertenceu à avó e foram nela os primeiros pontos que sua mãe fez o curso de corte e costura. O objeto funciona  até hoje.

“Além da máquina, eu acabei garimpando da família muitas peças de cozinha, na sua maioria de porcelanas, as quais me encantam e me estimulam a querer conhecer um pouco mais desse universo.”

Rosani diz que sempre gostou de casa cheia, de fazer pequenos jantares para amigos e isso fez com que sua arrumação não passasse despercebida. “Logo queriam saber de onde era, quanto paguei... Todas as vezes, não me faltavam conselhos para que eu vendesse. Na minha última viagem, antes da pandemia, eu acabei comprando várias peças e, então, resolvi que essas seriam disponibilizadas.”

Ela então organizou o Chá das Cinco para várias amigas e, no final, não havia sobrado sequer uma peça.

Dos jogos que herdou da mãe: um jogo de chá, Rosani era fascinada, olhava e pensava: “Não é possível que foi fabricado em 1940. Toda boa manufatura que se preze deixa no fundo da peça um carimbo com o nome da fábrica e data”, descreve.

Com esses dados, ela chegou a um site chamado porcelanas brasileiras. “Quando coloquei o olho na foto, vi o jogo de sobremesa mais lindo até aquele momento. Esse jogo, segundo o site, era do acervo pessoal da Sra. Maria Therezinha Ferrara Lemos, presente esse dado pelo seu pai: João Ferrara. Fundador e criador das porcelanas mais finas e delicadas que eu já tinha visto, a Manufatura São Pedro de Jundiaí.”

Rosani saiu da página com uma única certeza: queria muito um jogo daqueles. A busca era árdua, o último a ser colocado à venda foi em meados de 2000. “Fui falando a todos os contatos e um belo dia, me liga alguém (amigo) do Rio dizendo: colocou o jogo a venda. E sabe qual deles? O acervo da filha”, conta.

Jogo de sobremesa que Rosani comprou e diz que vai cuidar enquanto viver. (Foto: Nelson Corrales)
Jogo de sobremesa que Rosani comprou e diz que vai cuidar enquanto viver. (Foto: Nelson Corrales)

Ela arrematou a peça e na hora de pagar, era um misto de alegria e um nó na garganta. “Imaginava o quão difícil estaria sendo esse momento para ela”, diz. Por isso, resolveu escrever uma carta dizendo:

Querida... Hoje senti um misto de alegria e dor, então gostaria que soubesse que esse conjunto jamais será vendido... Pelo menos enquanto aqui eu estiver. Terá um lugar de destaque na minha cristaleira e será do nosso acervo pessoal para sempre: meu e seu. Só existe uma compradora possível: você. Saiba que todas as vezes que servir algo especial nesse conjunto eu vou primeiro mostrar a todos quem foi o criador dessa raridade tão linda: o seu pai.

Dias depois, Rosani recebeu outra cartinha:

Querida Rosani, quando precisei colocar em prática pedi a Deus que fosse parar nas mãos de alguém sensível... Deus não só ouviu minhas preces como também multiplicou por 30 a parte da sensibilidade. Hoje sei que o nosso acervo não poderia estar em outras mãos...

E assim foi o início de um negócio que envolveu busca pelas peças mais lindas, raras, com histórias e cheias de coisas mágicas, segundo Rosani.

“Meu acervo hoje é composto por mais de 300 peças: as quais garimpo em viagens, indicações de visita a famílias tradicionais que estão desfazendo-se de acervos. Busco sempre oferecer peças assinadas por grandes marcas, como, por exemplo: a EBERLE, Christofle, Fracalanza, Porcelanas KPM (Polonesa), Indústria Royal-Limoges (Francesa), Haviland , Le Creuset, etc...”

Máquina de costura que era da avó e virou herança. (Foto: Nelson Corrales)
Máquina de costura que era da avó e virou herança. (Foto: Nelson Corrales)

Atenta aos detalhes, ela diz que preza pela qualidade, método de fabricação, marca da manufatura, beleza única e raridade. “Não tem como não se apaixonar”.

Tirando a máquina de costura, que é de meado do século XVIII, Rani conta que tem uma sopeira inglesa do século XIX, jogo de jantar polonês de 50 anos atrás e está intacta como se estivesse saindo da fábrica agora.

“Além da experiência que você vai adquirindo no acerto da compra, essas peças exigem um trabalho específico de higienização para o qual a nossa equipe já conhece todos os protocolos. Ou seja: o cliente irá receber uma peça que só ele terá e impecavelmente limpa e pronta para o uso”, diz.

Rosani também avalia que o diferencial das peças está no fato das obras terem sido fabricadas em uma época muito mais calma. “Por isso, a beleza da pintura manual, a delicadeza do torneado em ondas, a riqueza dos detalhes e a qualidade que buscavam colocar em cada uma delas. O tempo permitia tudo isso.”

Quem se interessa ou apenas quer conhecer um pouco mais das peças raras, ela compartilha detalhes no @cicilie_casa.

Rosani mantém sua peças antigas com todo cuidado em casa. (Foto: Nelson Corrales)
Rosani mantém sua peças antigas com todo cuidado em casa. (Foto: Nelson Corrales)
Cada peça tem uma história especial. (Foto: Nelson Corrales)
Cada peça tem uma história especial. (Foto: Nelson Corrales)
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