Shopping não vinga, mas todo mundo diz que torce pelo Bosque dos Ipês
Campo-grandenses adoram as 2 lojas exclusivas do centro comercial, mas o consideram longe demais
Quantas pessoas você já ouviu dizendo: "Torço muito por este shopping". Pode ser sintoma de consumismo ou apego as lojas que só o Shopping Bosque dos Ipês tem, como Zara e Saraiva. O problema é que torcida não ganha jogo quando o assunto é econômico.
Há 4 anos, Campo Grande ganhava o pomposo empreendimento, inaugurado na região norte da Capital, com a promessa de trazer 160 marcas diferentes e gerar 2,5 mil empregos. Infelizmente, o que se vê hoje é um monte de lojas fechadas e nenhuma perspectiva de que isso mude. Se todos torcem tanto pelo empreendimento, porque as coisas não melhoram de uma vez?
Em uma rápida enquete, o Lado B obteve mais de 50 respostas de moradores e confirmou que para campo-grandense distância ainda é uma questão mal resolvida. “Eu acho um dos melhores em estrutura, mas é fora da rota”, explica o estudante Joilson Santana. E olha que o rapaz mora da região do Parque dos Poderes. “Tem várias atrações, mas acho muito longe”, ressalta outra consumidora, a psicóloga Priscilla Confortini, que vive na região central da cidade.
Em uma visita rápida pelo Bosque, na manhã de sexta-feira, encontramos alguns consumidores que falaram sobre a situação. “As pessoas aqui [da cidade] são muito acomodadas. É longe então não podem nem andar um pouquinho. Igual quando chove, não podem sair de casa. É cultural”, define a professora Maria do Carmo de Paula, 55 anos. “Mas esse shopping é ótimo, tem tanta loja boa, ótimo atendimento, várias promoções. Eu falo para todas as amigas que temos que vir mais aqui. Eu venho às vezes só pra passear, é tão tranquilo”, defende.
A dona de casa Irene Rosa Marques, 65 anos, visitava o shopping pela primeira vez, e ficou triste de ver as portas fechadas e o fluxo baixo de pessoas. “Eu decidi passar aqui hoje para conhecer, eu não vim antes porque acho muito longe. Moro perto do Rádio Clube. Dá dó ver tanta loja fechada”, pontua.
A atendente de fast-food Ritiele Maria, de 18 anos, trabalha em um restaurante na Praça de Alimentação do centro comercial e diz que é muito ruim ver várias pessoas perdendo o emprego. Ela conta que vários consumidores ficam surpresos ao ver o shopping vazio, ainda que haja um bom movimento nos finais de semana. “As pessoas perguntam se o shopping é sempre assim. Muita gente lamenta, mas não vem pra cá porque acha longe. Até quem mora perto, diz que é longe”, relata.
Entre as pessoas entrevistadas, muitas elogiaram a presença de algumas lojas exclusivas e muito famosas, como a livraria Saraiva, a loja de departamento Zara e o cinema UCI – considerado por muitos o melhor da cidade, por sua estrutura grande e moderna (apesar do excesso de filmes dublados e escassez de obras legendadas). São as marcas que ainda resistem no centro comercial, e mais atraem os campo-grandenses.
Mas, se a população não passar a valorizar mais o empreendimento, pode acabar perdendo de vez essas opções únicas da cidade.
Opinião profissional – O arquiteto e urbanista Ângelo Arruda acredita que o lugar da construção do shopping foi escolhido de maneira especulativa. “Os Jereissati [grupo responsável pelo shopping] compraram muito barato. Ali era um buraco. A prefeitura investiu milhões em drenagem, viabilizou a obra. O vizinho de alta renda, o Alphaville, não vai lá. Os vizinhos 'periférico'" baixam lá, mas circulam e não consomem. O acesso é ruim. O shopping não recapeou a avenida. Deixou para a prefeitura que não fez”, analisa. “O que tem de bom lá? O UCI o melhor da cidade; a Saraiva; a Zara e a praça da alimentação com uma comida árabe excelente. Ontem mesmo fui lá”, ressalta.
De fato, três campo-grandenses relataram que estouraram o pneu voltando do shopping, nas Avenidas Coronel antonino e Cônsul Assaf Trad. Talvez, para melhorar a situação do centro comercial, seja necessário também uma mãozinha do Município na manutenção das vias.
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