Amigos saem do bar, “criam” guerra, matam dragão e libertam mago
O Lado B acompanhou uma jogatina do grupo “Mais que burro”, que toda semana encara a brisa do RPG
O RPG, que significa “Role-playing game”, é algo complicado de entender se você não tem nenhuma referência ou alguém para te explicar. O Lado B acompanhou uma partida entre seis amigos, do grupo “Mais que burro”, que jogam religiosamente às quintas-feiras, para tentar compreender a brisa do jogo. Afinal, o que motiva essa galera a ficar mais de quatro horas entretida com esse rolê? Acredite, tem gente que até amanhece jogando.
Deuses, gênio nobre, goblin inventor, minotauro, esqueleto clérigo, fada, sereia, homem-lagarto, bárbaro, homem bardo, medusa, elfo e anão são alguns dos personagens do “Tormenta 20”, o sistema que o pessoal joga. Nele, existem regras, classes, raças, poderes, terrenos, magias e instituições que se distinguem de outros formatos.
No universo do RPG, os psicólogos, Amadeu Nantes, 26 anos, Gabriel Moreno, 25 anos, Luis Maior, 25 anos, além do gestor de tráfego online, Felipe Augusto, 36 anos, o estudante, Leonardo Leite, 25 anos e a administradora Maria Eduarda Lacerda, 21 anos, assumem outra identidade, aparência e personalidade com direito a poderes e habilidades fora do normal.
Na última partida, o grupo tinha a missão de juntos matarem um dragão e assim, fortalecerem os laços da amizade. Mas, antes, enfrentaram o dilema de como sair de um penhasco. Alguns perderam a visão temporariamente, o esqueleto encontrou a deusa que venera, o meio-gênio tentou motivar os colegas, enquanto o goblin, que não podia andar, era carregado pela bárbara. O bardo observava os companheiros e mal sabia qual seria o próximo passo.
Presos no penhasco, a cada hora surgia um novo desafio e o cenário ia ficando cada vez mais caótico. Em certa altura do jogo, teve personagem querendo pular sem saber a altura da queda e restou aos outros lembrarem que ele poderia se machucar. O mais interessante de tudo, é que o pessoal entra de cabeça na história e muda, inclusive, o tom e a forma como se comunicam.
Desempenhando a função de mestre, Felipe Augusto é o responsável por guiar o jogo, conduzir a narrativa onde os jogadores vivem, explicar os detalhes do cenário, impor regras e interpretar figuras coadjuvantes. Dentro da história, o homem, que na vida real tem 1.93 de altura, se transforma em uma fada maga pequenininha.
É comendo pizza, tomando cerveja, rindo e conversando sem parar, que os amigos vivem as aventuras mais estranhas e legais que alguém pode imaginar. O RPG pode parecer bagunça, mas o pessoal leva a coisa a sério e vive anotando na ficha informações individuais sobre habilidade, magia, ataque, danos, defesa, pontos de vida e outros itens relevantes para a condução do jogo.
O fascínio pelo rolê é tão grande, que nem a pandemia impediu o desenvolvimento do jogo. A galera se organizou e deu um jeito de continuar jogando através de reuniões virtuais durante mais de um ano. Só foi depois de todo mundo ser vacinado, que o RPG voltou a ser presencial. Eles garantem que é bem melhor jogar assim e vivenciar toda essa loucura dividindo a mesma mesa.
Jogando há dois anos, os seis amigos já libertaram 700 magos prisioneiros, guerrearam, quase morreram inundados, conquistaram territórios, derrotaram puristas e chegaram a participar de uma farra com fadas. Isso tudo é um pequeno resumo de vários episódios que ocorreram nas noites de quinta-feira.
O psicólogo Luís conta um pouquinho mais do que vivenciou como o personagem meio-gênio. “Já fui atacado na cidade dos viajantes e coloquei fogo no mercado inteiro. Acabei na cadeia e tentando fugir, fui parar no esgoto, onde tinha um monstro querendo me comer”, diz.
Apaixonada pelo jogo, a administradora Maria Eduarda deu um jeitinho de encaixar o assunto no Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). “Eu falei sobre o perfil do consumidor do RPG e foi um negócio que tive vontade de fazer, ir atrás e, no fim, gostei bastante”, conta.
E qual é a brisa do RPG? - Quem olha de fora e vê um monte de adultos interpretando criaturas lúdicas, fugindo, lutando e montando estratégias de invasão, pode não entender o motivo do deslumbramento.
Exercitar a capacidade de imaginação, é uma das coisas que o Gabriel Moreno curte. “Eu gosto de desenvolver minha criatividade e poder viver nesses mundos alternativos com esse bando de loucos”, afirma.
Já o Leonardo Leite garante que gosta mesmo de poder jogar e infringir as regras. A possibilidade de quebrar normas e não ter consequências é algo que também deixa tudo mais divertido para Maria Eduarda.
A ideia de poder passar um tempo com a turma é algo que agrada o Amadeu Nantes. “Tudo que envolve fantasia e inclui os amigos é algo divertido”, comenta. O Felipe Augusto concorda com essa questão de poder inventar novas histórias. “Eu gosto da ideia de criar mundos, viver neles e vivenciar experiências", conclui.
Além dessas qualidades, o grupo garante que ser jogador de RPG contribui para a melhora na comunicação, raciocínio lógico, capacidade de socialização, foco e trabalho em equipe.
Então, é isso, se você quiser conhecer mais o RPG, é só juntar uma galera animada como o grupo “Mais que Burro” e se jogar no rolê. Alguns sites, vídeos, manuais e podcasts sobre o assunto podem ajudar nessa aventura, que promete muita diversão.
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