Amon saiu de Campo Grande para vencer desafios em Cuba e voltou em 1º lugar
O sonho de curtir a formatura nunca conquistou o militar Amon Ravazzano José de Castro, de 24 anos, que agora tem o diploma de Ciências Contábeis. Por isso, resolveu ter uma experiência maior. A convite do irmão que olhava passagens baratas para vários lugares do mundo, eles e um amigo decidiram encarar uma jornada de 9 dias em Cuba.
Mais do que turismo, Amon foi pra lá vencer desafios. Ele é minero, mas vive em Campo Grande desde 2013 quando foi transferido pelo Exército. Aqui, ficou inspirado a praticar o ciclismo e como a corrida de rua também já fazia parte da rotina, a viagem foi a chance de disputar o Triathlon de Cuba.
Intensificou os treinos em pouco menos de 2 meses, colocou as bicicletas da mala e foi viver uma experiência transformadora. Nesta semana, ele tirou um tempinho e escreveu seu relato ao Voz da Experiência, para inspirar leitores a fazerem as malas.
Partimos para uma viagem de 10 dias, 9 em Cuba e 1 em Miami. Fomos em três: eu, meu irmão e um amigo. O plano era fazer o Triathlon de La Habana, uma combinação de natação, ciclismo e corrida, além de aproveitar a passagem pelo país.
Já tinha vontade de andar de bicicleta e praticar triathlon mas não tinha tanta disponibilidade em Belo Horizonte. Quando vim para cá e vi as ciclovias e grupos de ciclismo achei um clima ótimo pra começar. Com 1 mês na cidade já comprei uma bicicleta mais simples para me transportar e, no final de 2013, comprei uma bicicleta de estrada, para treinos mais sérios.
Chegamos em Cuba, na capital Havana, no dia 22 de fevereiro, pegamos um táxi maior para caber as bicicletas e fomos para uma casa particular que havíamos reservado. Em Cuba uma das hospedagens mais baratas é na casa de cubanos que tem autorização do governo para alugar quartos para turistas. O custo da diária do quarto para os três era em média R$ 133,00, o equivale a R$ 16,00 pelo café da manhã farto com suco, leite, café, ovos, frutas e pães.
As descobertas começaram ao retirar os kits do triathlon no mesmo local da largada e da chegada da prova, no Hotel Nacional de Cuba.
O prédio é um ponto turístico repleto de história. Foi palco, por exemplo, da batalha entre militares que eram contra e os que apoiavam Fulgêncio Batista após o golpe de 1933, foi nacionalizado após a revolução cubana de 1959 e em 1962 durante a crise dos mísseis de Cuba, foi guarnecido com canhões de artilharia antiaérea e foram construídas trincheiras, que podem ser visitadas e abrigam hoje um museu nos jardins do Hotel.
Depois de pegar o kit voltamos para a casa, mas antes fizemos um tour de conversível durante uma hora por alguns pontos turísticos da cidade. Passeamos de "Coco Taxi", uma espécie de tuk-tuk em formato de coco, que vale a pena pegar pelo menos uma vez.
No dia da prova, fomos cedo para a Marina, nadamos os 750 metros, pegamos as bicicletas e pedalamos por 20 quilômetros pelas principais vias com asfalto liso e muito bem bloqueada pelas autoridades de Cuba. Na frente do Hotel Nacional, no Malecón, avenida que acompanha a orla, deixamos e corremos os 5 quilômetros finais, com chegada nos jardins do Hotel.
Meu irmão ficou em 3º lugar na categoria 30-34 e eu 1º lugar na categoria 25-29, com direito a troféu e tudo. O que foi bonito de ver é desempenho de muitos cubanos jovens, fazendo tempos bem mais baixos e pedalando forte com bicicletas simples e sem sapatilha, mostrando que mesmo em um esporte onde não se há limites para o investimento em equipamento, principalmente na bicicleta, o que faz diferença de verdade é o treinamento e a dedicação, de nada adianta ter uma bicicleta de ponta “se não tiver perna“ pra levá-la.
Após a prova, conhecemos a cidade antiga de Havana, visitamos o Museo de La Revolución, tomamos um mojito no alto do luxuoso Gran Hotel Manzana Kempinski, famoso por ser o hotel mais caro da cidade e por possuir uma vista linda do terraço, fomos ao Cristo de La Habana e na Fortaleza de San Carlos de La Cabana.
Em um domingo partimos para Varadero, que fica a 160 quilômetros de Havana. Em um táxi coletivo que custa, pagamos aproximadamente R$ 66,00 por pessoa. Dessa vez ficamos hospedados em um resort e o plano era curtir toda a mordomia.
Para aproveitar a praia caribenha na frente do resort, começamos logo com um treino de 40 minutos de natação no mar. No outro dia, fizemos dois mergulhos, bonitos, mas nada muito fora do comum. Aproveitamos o restante do dia no resort e fomos para o centro da cidade, nos hospedar em uma casa particular. A noite saímos e fomos em um bar temático dos Beatles, com show rock muito bom.
No quinto dia de viagem fui sozinho a Maria La Gorda, considerado um dos melhores destinos de mergulho de Cuba, peguei ônibus que saiu de Varadero para Viñales, um trajeto de de 330 quilômetros que custa em média R$ 73,00 na Viasul, companhia estatal que detém o monopólio de transporte rodoviário. Depois peguei um táxi para chegar ao mergulho, pela estrada ser muito ruim e cheia de buracos em um trajeto de 160 quilômetros.
Foram mais de 3 horas de estrada conversando com o taxista, que morava em Piar Del Rio mas trabalhava em Viñales por ser uma cidade turística. Pegar um táxi é uma excelente oportunidade de conversar com um cubano e tentar saber um pouco mais sobre o país pelos olhos de quem vive o cotidiano dali.
No total fiz sete mergulhos, um mais bonito que o outro, não estive em muitos lugares, mas conversei com vários mergulhadores experientes que já mergulharam pelo mundo todo disseram que Maria La Gorda é um dos melhores lugares para isso no mundo. As formações de corais são extensas e cheias de vida. Vi vários peixes-leões, barracudas, moreias, garoupas, lagostas, carangueijos bem grandes, arraias e uma arraia águia enorme, que passou por nós imponente, como se estivesse voando.
Cuba é um destino que engloba vários atrativos para todo tipo de turismo. Tem toda a parte histórica, desde a colonização, independência, ditadura de Fulgêncio Batista, a revolução cubana, a guerra fria e agora uma abertura do regime. Tem os tradicionais carros antigos, como os famosos Cadillacs, mas também os carros novos automáticos, que pertencem aos cubanos, não só de estrangeiros.
A cultura é ainda mais interessante, como tenho conhecimento razoável em espanhol, pude interagir bastante com os cubanos, o que enriqueceu a minha experiência. As praias são maravilhosas e preservadas. Em todos os mergulhos e treinos de natação só vi 2 latas de alumínio no mar. Enquanto em Salvador (BA), por exemplo, em cinco minutos você você encontra mais que o dobro de lixo. E essas latas eu achei em Varadero, que é um destino mais turístico de Resorts. Em Maria La Gorda, uma área de preservação ambiental, não vi nenhum lixo em mais de 5 horas de mergulho.
Acredito que toda preservação se dê por Cuba ter começado a se abrir para o turismo na década de 90 e por toda a exploração ser coordenada pelo Estado. As agências de turismo são todas estatais, se eu não me engano, tem um ou outro centro de mergulho privado que é concessão do governo a empresas estrangeiras.
Sem entrar em questões ideológicas ou politico-partidárias, me senti admirado com o povo cubano. Tanto no triathlon, ao ver os cubanos competindo, que confirmaram o que eu já sabia: que material de ponta nenhum sobressai o esforço e dedicação nos treinamentos. Quanto no dia a dia, conversando com pessoas que, mesmo com todas as dificuldades como salário baixo e a escassa oferta de mantimentos no mercado, levavam a vida tranquilamente, não conformados, mas agradecendo e buscando melhores condições.
Dicas - Em questão de valores da viagem, Cuba não muito cara, tudo vai depender das preferências do viajante. Recomendo viajar em grupo para diminuir os custos. No quesito hospedagem a casa particular é a opção mais barata e proporciona um contato mais próximo com os cubanos. Durante os 9 dias escolhemos andar de táxi e dividindo, os valores ficaram mais razoáveis.
Já que não fomos com um roteiro muito definido, a única reserva que fizemos foi da casa privada nos primeiros dias até o triathlon. As outras reservas e passagens compramos ao longo da viajem, sem complicações. Mas aconselho fazer uma boa pesquisa antes. Como a maioria das empresas e estabelecimentos são estatais e detém o monopólio, os preços são tabelados e não há margem para negociação ou desconto.
Sobre a compra da moeda só pode ser feita em Cuba nas "Cadecas", que são as casas de câmbio do Governo, mas elas não aceitam o real, na época em que viajamos, o mais vantajoso era levar euros porque o dólar americano é taxado pelo governo cubano.
Sobre os requisitos para entrar em Cuba é necessário ter uma certificado de vacina internacional de febre amarela, que pode ser conseguida na Anvisa. O visto Cubano é solicitado antes de embarcar no voo para cuba e nos custou 100 dólares por pessoa. Já que não existem voos diretos do Brasil para Cuba, o interessante é pesquisar a política de imigração do país de conexão antes da viagem. Como os mercados tem oferta escassa de mantimentos e quando tem são caros, é melhor levar salgadinhos, biscoitos, barrinhas e lanches aqui do Brasil.
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