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Diversão

Ao desistir de voltar das férias, Malu foi de pedreira a assessora nos EUA

Maria conta como foi viajar de férias e desistir de voltar ao Brasil, para encarar um novo desafio

Thailla Torres | 28/03/2022 06:13
Era para ter sido só uma viagem de férias, mas campo-grandense resolveu ficar no país e agora, conta sua experiência. (Foto: Arquivo Pessoal)
Era para ter sido só uma viagem de férias, mas campo-grandense resolveu ficar no país e agora, conta sua experiência. (Foto: Arquivo Pessoal)

Esse mês, Maria completa três anos que foi passar férias nos Estados Unidos e decidiu ficar sem saber o que a esperava. Jamais imaginava passar por tudo o que passou. Conheceu pelo caminho a história de pessoas que migram para outro país em busca de dar uma vida melhor às suas famílias e provou de uma coisa que, segundo ela, é igual para todos: “A América não perdoa! E nem todos têm árvore de dólares plantada no quintal de casa”, diz.

Não é à toa que pessoas com graduação chegam lá e trabalham em diferentes setores, muitos até então desconhecidos. Maria escolheu não dizer “não” às oportunidades. Já foi faxineira, garçonete, pedreira, babá, cuidadora de idosos e agora, assessora do governo em três anos.

Em três anos, ela encarou diferentes empregos. (Foto: Arquivo Pessoal)
Em três anos, ela encarou diferentes empregos. (Foto: Arquivo Pessoal)

A decisão de viver por lá foi nas férias mesmo. Era sua quarta vez na Flórida, graças às amigas que já moravam em Orlando. “Desta última vez, minha amiga estava grávida e o plano era fazer o ensaio gestante e as fotos newborn. Mas o neném veio antes da hora, com 6 meses, e quando eu cheguei aqui, eles já estavam em casa e naquele “atropelo” por não ter a família por perto. Eu a ajudei por uns 20 dias - o plano era ficar 30 dias exatos.”

Depois, Maria foi a um restaurante brasileiro, a atendente da recepção não falava Inglês, foi então que ofereceu ajuda. “Eu a ajudei e o dono do restaurante viu e perguntou se eu gostaria de trabalhar no restaurante, pois eles precisavam muito de pessoas bilíngues. Ele me ofereceu o visto de trabalho pra ficar. E ali, eu decidi que ficaria e experimentaria a vida americana.”

Maria então ligou para a família e avisou que iria ficar. O que ela não imaginava era uma pandemia pela frente. “Com o restaurante fechado, os processos parados, não tinha para onde correr, a não ser as áreas de extrema necessidade, uma delas é a construção. Eu havia prometido pra mim mesma que eu iria experimentar todos os trabalhos, pois eu via como uma oportunidade.”

Depois de 40 dias sem trabalhar, Maria diz que foi se aventurar na construção. “O melhor Crossfit da vida real”, define. “Comecei trabalhando na demolição. Quebrando tudo literalmente. Depois, eu aprendi a fazer rejunte de todos os tipos. E por último, eu aprendi a assentar piso. Com isso, o tempo foi passando e as coisas foram abrindo de novo”. Depois, trabalhou como cuidadora e babá até voltar a trabalhar no restaurante.

O maior impacto para Maria foi perceber o tamanho da necessidade de pessoas que falam Inglês. “Se você fala, tem um visto de trabalho e não te falta emprego. E quanto mais você vive dentro da cultura americana, maior é o choque. Mas acho que isso acontece com todas as culturas, em todo o mundo.”

Depois, o maior desafio é saber qual rumo tomar. “Depois que você vê a facilidade de encontrar emprego em qualquer área, você realmente começa a pensar no que gosta de fazer e, então, o salário já não importa mais.”

Chance de trabalhar e conhecer lugares diferentes se deu ao deixar medo e saudade de casa de lado. (Foto: Arquivo Pessoal)
Chance de trabalhar e conhecer lugares diferentes se deu ao deixar medo e saudade de casa de lado. (Foto: Arquivo Pessoal)

Mas a maior quebra de paradigmas foi do senso comum de que o trabalho pesado é só para o imigrante. “Quando conheci mães americanas pegando no pesado para pagar a escolinha das crianças, mulheres sofridas pela vida, recém-divorciadas, mãe trabalhando 11 horas seguidas - pegando extraturno - para pagar festa de casamento do filho. Sim, eles são os americanos pobres da América, eles trabalham para ter o básico, aluguel, luz, comida e um carrinho velho pra ir para à praia nos dias de folga.”

Hoje, Maria segue na Flórida, durante a semana, em Melbourne (praia) e final de semana, em Kissimmee (Disney). “No momento, eu trabalho no tribunal do condado de Brevard, pro governo dos Estados Unidos. O cargo é de assessora do governador.”

Feliz com o novo emprego e casada, ela leva no peito a sensação de sonho realizado. “Eu sempre quis morar fora do Brasil, mas eu nunca soube onde. Naquele momento, a sorte me encontrou e eu não tinha nada na mala pra lembrar a cidade onde nasci. Então, eu me dei conta que a sua casa é onde o seu coração está. O meu estava aqui, eu estou em casa.”

No entanto, não nega que leva na mala itens para ter Campo Grande por perto. “Um doce de leite feito no tacho lá da fazenda Rio da Prata e uma erva de tereré Kurupy para refrescar os dias quentes na praia.”

Hoje, ela é feliz nos Estados Unidos, mas confessa que mata saudade de casa comendo doce de leite e tomando tereré.
Hoje, ela é feliz nos Estados Unidos, mas confessa que mata saudade de casa comendo doce de leite e tomando tereré.

Ao narrar sua experiência e a felicidade de ter desistido de voltar das férias, Maria deixa sete dicas para quem sonha viver uma vida fora daqui:

  • Procure dominar a língua. Eu sei que tem gente que se aventura, mas não tem comparação chegar em um país já podendo se comunicar e não precisar de ajuda. Infelizmente, o brasileiro abusa do brasileiro que não sabe a língua. Às vezes, o próprio americano abusa do imigrante;
  • Pesquise todos os tipos de visto que cabem a sua situação. Pense bem antes de trabalhar ilegal em um país. Se informe como funciona o sistema de deportação e se você está pronto pra passar por aquilo;
  • Se planeje;
  • Pesquise muito a cidade que você vai se aventurar;
  • Se prepare para lidar com todos os tipos de saudade, inclusive, aquele sentimento de perder um ente querido e não ter tempo de voltar;
  • Se prepare para conhecer os lugares mais lindos que você jamais pensou em conhecer;
  • Você vai colecionar momentos incríveis com pessoas incríveis que o futuro já reservou para você.

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