Com espetáculo de amor, plateia chora na 1ª peça de teatro presencial
Espetáculo “A Moça da Cidade” foi a primeira apresentação presencial desde fevereiro de 2020 do Sesc Cultura
A essência do teatro é a reação imediata do público e a proximidade com os atores. Desde fevereiro de 2020, atores e plateia não sabiam mais o que era a sensação de ver as emoções um do outro em uma sala fechada e ali, ao vivo, até ontem. Fortes emoções não faltaram na estreia da peça “Uma moça da cidade”, do ator e diretor Anderson Bosh, que aconteceu na sala de teatro do Sesc Cultura e marca a retomada, ainda que cautelosa, do setor teatral, um dos mais afetados durante a pandemia.
Esse foi o primeiro espetáculo presencial deste ano no Sesc. A sala para as apresentações ainda tem a quantidade de pessoas reduzidas, com permissão para apenas 25 espectadores. O espaço é arejado antes do espetáculo, permanece fechado durante toda a peça e só é reaberto no final. O uso de máscara continua obrigatório e as cadeiras são organizadas com espaçamento, inclusive, com uma distância segura do próprio palco. Os únicos sem máscara são os atores.
“É esquisitíssima. A máscara já faz parte da gente, parece que eu estou pelado”, respondeu Anderson ao ser questionado sobre a sensação de subir no palco sem máscara. “Até para cumprimentar as pessoas, a gente vai recuando para a parede, é muito estranho”, acrescentou.
Mas a magia do teatro não falha e após 1 ano e 6 meses sem espetáculo presencial, com número de pessoas reduzidas e todos com máscara, os atores recebem as reações que tanto sentiam falta, como as risadas e expressões de espanto.
A atriz Liliane Souza, de 17 anos, inclusive, não conteve as lágrimas. Ainda durante o espetáculo, chorou de soluçar, o que em uma sala em silêncio e com poucas pessoas, foi impossível passar despercebido.
“Eu comecei a pensar em tudo. Eu participei das oficinas oferecidas pelo grupo antes e eles falaram que a gente precisava vir para ver como tudo acontecia. Eu me emocionei por causa da peça, mas também porque fiquei pensando que estou aqui de novo, sentindo tudo de novo, foi muito bom. Foi muito difícil ficar sem isso, de sentir, de chorar, de rir e se emocionar desse jeito. Espero que tudo volte ao normal, pra gente poder abraçar também, demonstrar essa admiração pelos artistas com carinho, o abraço, o toque. Mas assim, do jeito que está, ainda com todas as restrições, já compensa”, expressou.
A professora de educação infantil Edna Alves Revoredo, de 58 anos, ainda comentou que se sentiu segura com as medidas de restrição. “Me emocionou muito a forma como ele contou a história, a sensibilidade, é um roteiro muito bem escrito. Me senti muito confortável, com todas essas precauções, me senti muito segura e o vírus nem se passou pela minha cabeça na hora. Eu amo o teatro e já fazia muito tempo que não ia, realmente faz muita falta”, detalhou.
A fisioterapeuta Liliane Ribeiro, de 53 anos, também pontuou a emoção que o teatro presencial proporciona. “Na hora, me lembrei da emoção que foi assistir uma peça ao ar livre, que acredito ter sido a última que tinha visto antes dessa. Fazia tempo demais que a gente não tinha esse contato, essa emoção”, comentou.
Se a plateia já estava emocionada, os artistas, que vivem da arte, também não contiveram os sentimentos. “A pandemia obviamente ainda não acabou. Mas a gente precisa desse contato, esse calor humano. É um sentimento muito doido, porque ao mesmo tempo que a gente tem que se adequar a essa “nova realidade”, a gente fica muito nostálgico. A gente até chegou a realizar algumas coisas em formato de live, mas nada se compara com esse agora. E o teatro precisa da presença, é uma necessidade, uma característica e qualidade dessa arte, essa troca”, comentou.
O ator Douglas Moreira, de 34 anos, também acrescentou que, durante a pandemia, chegou de realizar uma peça por drive-in. “Foi assustador, foi algo completamente diferente de tudo o que eu já tinha feito. Assim, essa volta fica algo muito maior, a gente sente uma gratidão muito grande pela vida, de estar vivo em momento desses em que muitos infelizmente se foram. E ainda por cima fazendo arte, falando de amor, tocando o coração das pessoas mesmo que distante ainda”, expressou.
A estreia da peça foi também a primeira atuação com o Grupo UBU do ator Edner Gustavo Cardoso Bezerra, de 23 anos. “Foi o primeiro espetáculo que pensamos sem incluir a internet, sem se preocupar com essas coisas. Inclusive, adiamos a estreia, que era para ter acontecido no final do ano passado, justamente por causa disso, pra gente não ter que pensar em live ou transmissão, porque simplesmente não é a mesma coisa. Esse sentimento, essas emoções só acontecem em encontros assim”, reforçou.
Agosto é mês de festa para a peça “Uma Moça da Cidade”, que celebra 21 anos. A temporada de apresentações acontece no Sesc Cultura da Avenida Afonso Pena, ainda nos dias 19, 24, 25 e 26 de agosto, com duas sessões por dia, uma às 16h e a outra às 19h. O público é limitado e os ingressos devem ser reservados com antecedência pelo whatsapp, nos números (67) 9 8170-6824 ou (67) 9 9339-5734.
O espetáculo foi feito com um conto escrito por Anderson. A trama conta as desventuras de uma moça do interior chamada Ambrosina, na cidade grande. Ela se apaixona, mas não tem o amor correspondido.
A peça acontece em Campo Grande, na década de 50 e traz elementos regionais da cultura da Capital, que inclui a forte presença de nordestinos. Os diálogos trazem bordões icônicos, no gênero da comédia. Os atores fazem uma performance em sincronia perfeita, com risadas garantidas.
O investimento é do Programa Municipal de Fomento ao Teatro - Fomteatro 2018 da Sectur (Secretaria Municipal de Cultura e Turismo).
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