Na cidade mais arborizada, a diversão é colher frutas
De férias na escola, Vagner Benites, de 13 anos, saiu do Dalva de Oliveira, bairro onde mora, para ir passear com os amigos ao Parque das Nações Indígenas, nos altos da avenida Afonso Pena. A bicicleta, companheira inseparável, foi deixada de lado, enquanto o garoto se empenhava para arrancar algumas mangas verdes de um dos pés carregado da fruta.
“Aqui tem jaca também”, avisou, apontando para o outro lado do parque. Mas a fruta está em falta. Não é época. A vez é das mangueiras. A espécie parece dominar Campo Grande. “A gente acha em qualquer esquina”, confirma o garoto, que prefere comer a fruta verde, com sal.
Na Capital, considerada a cidade mais arborizada do país – segundo pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), é comum encontrar frutas à disposição, de graça.
Quem não tem paciência para cultivar em casa, pode procurar as que nascem no meio do mato, nos canteiros ou nas áreas que acabaram virando praças. Na avenida Afonso Pena, a principal da cidade, as bocaiúvas garantem a beleza do cartão postal.
Em frente ao Shopping, um pé de manga carregado se destaca em meio às outras espécies. No final da mesma avenida, a rotatória que dá acesso ao Parque dos Poderes, é um mini-pomar. Tem 7 pés de amora, 1 de bocaiúva e outro de goiaba carregado. As frutas, pequeninas, ainda estão verdes.
Proprietária de uma picoleteria especializada em sabores regionais, Darli Castro Costa, de 54 anos, aproveitou essa característica da cidade para impulsionar o empreendimento que resolveu tocar depois que se aposentou da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), onde trabalhou por mais de 30 anos no setor de tecnologia de alimentos.
A irmã resolveu entrar no negócio. “Acabamos nessa onda dos frutos regionais, da valorização do meio ambiente”, contou. Hoje, 5 anos depois, Darli colhe os frutos do próprio esforço.
A lista de clientes fixos da picoleteria tem cerca 500 nomes. A procura aumentou tanto que a produção, como tempo, teve de ser redobrada. Hoje, a empresa produz, em média, 1,5 mil picolés por dia.
Para dar conta da demanda e dos 40 sabores que a casa oferece, Darci tem de correr atrás dos frutos. Ela mesma sai à procura. Para minimizar os custos aproveita o que a natureza oferece, sem qualquer custo. Só quando na encontra de graça é que compra.
Os fornecedores são daqui mesmo. Moram em sítios, acampamentos ou reservas espalhadas por Mato Grosso do Sul. Muitas das frutas que colhe, Darci encontra em Campo Grande.
O cumbaru, por exemplo, é facilmente encontrado nas praças do bairro Carandá Bosque, assim como os jatobás. Ao contrário da mangaba, que ela diz estar em “extinção”, a oferta de bocaiúva é generosa.
Em Campo Grande, além do canteiro central da Afonso Pena, a fruta é comum no campus da UFMS. De óculos escuros e chapéu para resistir ao sol quente, Darli sai da picoleteria e vai a campo, em busca da matéria-prima.
Mas as espécies também vem de fora. O pequi e a guavira que costuma comprar são cultivados nos assentamentos de Nioaque e Anastácio. A laranjinha do pacu sai do Porto da Manga, em Corumbá.
Para a proprietária da picoleteria, assim como as cidades do interior, a capital Sul-Mato-Grossense tem opções de sobra para encontrar frutos de graça. A experiência e a necessidade em manter o negócio provaram isso. Basta procurar.
“Às vezes fico 2,3,4 horas catando. Levo bolsada, sacolas e mais sacolas”, enfatizou.
Cidade mais arborizada - Com 113 anos e quase 800 mil habitantes, Campo Grande recebeu o título da cidade mais arborizada do país, deixando Goiânia para trás, segundo pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), divulgada este ano. O estudo aponta que de 100 residências, 96 são arborizadas.
De acordo com o PDAU (Plano Diretor de Arborização Urbana) da Capital, realizado entre 30 de outubro a 29 de dezembro de 2009, há 153.122 mil árvores nas vias urbanas da cidade.
O maior número é encontrado no bairro Aero Rancho, que registra 5.024 mil espécies, seguido dos setores da Moreninha, Centro-Oeste, Universitário e Nova Lima.
Considerando o número de árvores por habitantes, a melhor situação foi registrada na Chácara dos Poderes, com 0,92 árvores/habitantes. A situação mais crítica foi encontrada no setor do Caiobá, que possui 0,10 árvores/habitantes. Segundo o estudo, são quase 10 habitantes para cada árvore.