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Diversão

No aniversário da Umbanda, parabéns foi para cacique Mata Virgem e mãe de santo

A celebração aconteceu ontem e transformou a tenda verde numa aldeia indígena com espíritos de guerreiros que desciam brandando

Alana Portela | 16/11/2019 08:01
A mãe de Santo, Eva Marina Capli recebeu o cacique Mata Virgem (Foto: Danielle Matos)
A mãe de Santo, Eva Marina Capli recebeu o cacique Mata Virgem (Foto: Danielle Matos)

No aniversário de 111 anos da Umbanda, o “parabéns” foi para a entidade do cacique Mata Virgem, que chegou com cocar na cabeça e charuto na mão para coroar a nova mãe de santo, Iracy Duarte Vilela. Os filhos da casa formaram uma corrente de energia, enquanto os gritos e batidas de pés no chão anunciaram a chegada de outros espíritos para a comemoração.

A cerimônia aconteceu na Tenda Umbanda Cacique Mata Virgem, localizada no Parque dos Novos Estados, em Campo Grande. A mãe de santo do terreiro é Eva Marina Capli de 70 anos que convidou o Lado B para acompanhar as celebrações. Ela estava na correria cuidando dos últimos detalhes da festa, se preparando para incorporar o cacique da casa e conversou pouco.

“Hoje comemoramos os 111 anos da Umbanda. A festa também é uma homenagem ao cacique Mata Virgem e a mim, pois completo 30 anos na religião. Lembro que minha coroação para sacerdote da casa foi emocionante e o papel de uma mãe de santo é guiar e preparar os filhos. Agora será coroada outra, uma filha pequena para mãe de santo”, disse Eva.

O salão foi decorado com folhas e o altar com as imagens foi preparado para a celebração (Foto: Danielle Matos)
O salão foi decorado com folhas e o altar com as imagens foi preparado para a celebração (Foto: Danielle Matos)
Carlos Júlio de Souza fala sobre a importância do evento para os umbandistas (Foto: Danielle Matos)
Carlos Júlio de Souza fala sobre a importância do evento para os umbandistas (Foto: Danielle Matos)
Os filhos deitados no chão ao lado do altar antes da cerimônia começar (Foto: Danielle Matos)
Os filhos deitados no chão ao lado do altar antes da cerimônia começar (Foto: Danielle Matos)

Quem guiou a equipe pela casa foi o iniciante a ogã, Augusto Galen, 25 anos. Ele é umbandista desde que nasceu e comentou sobre a religião. “A Umbanda surgiu no Brasil em 1908, através de Zelio Fernandino de Moraes, que recebeu o caboclo das 7 Encruzilhadas. Ele revelou em sua manifestação que sua última vida material foi como um caboclo no Brasil, porém anteriormente a essa vida, foi um missionário português que viveu e Lisboa chamado Gabriel Malagrida", explicou.

Durante o ano as celebrações são para várias etnias, começando com a festa para Preto Velho, em comemoração à libertação dos escravos. Na metade do ano é celebrado a etnia cigana, depois baiana que festeja a cultura nordestina e neste mês a indígena.

O evento aconteceu num salão, que recebeu um tapete verde com folhas de São Rafael espalhadas no chão e decorando o teto, junto com as moringas penduradas. A festa começou com os umbandistas formando uma corrente no meio do espaço, com as mãos pra trás e segurando uma rosa.

Em seguida os ogãs tocaram os atabaques e fizerem os seguidores cantarem as músicas para iniciar a celebração. As canções exaltavam Mata Virgem, falavam sobre a Umbanda e teve até o “parabéns pra você” cantado para o anfitrião da casa, antes “descer” para abençoar os filhos.

Mata Virgem é um espírito indígena, que não costuma falar do passado. Quando incorpora usa um cocar na cabeça, cobrindo quase todo os olhos e fuma um charuto. A voz da médium muda com a incorporação, fica um som mais grave e rouco. Ele perambulou pela tenda e foi responsável pela coroação.

O seguidor recebendo a benção no altar santo(Foto: Danielle Matos)
O seguidor recebendo a benção no altar santo(Foto: Danielle Matos)
A mãe de santo Eva sendo abençoada pela santidade (Foto: Danielle Matos)
A mãe de santo Eva sendo abençoada pela santidade (Foto: Danielle Matos)
Os seguidores se vestiram de indígenas e dançaram na cerimônia (Foto: Danielle Matos)
Os seguidores se vestiram de indígenas e dançaram na cerimônia (Foto: Danielle Matos)

A cerimônia aconteceu nos moldes indígenas, com gritos de guerra e danças em círculo. Os médiuns se aproximavam para o passe e recebiam as entidades que já chegavam brandando e batendo o pé, como uma forma de apresentação. Depois andavam para reconhecer o local e os seguidores. A cada pessoa por quem passavam, eram três batidas no peito e o cumprimento com as mãos fechadas.

Após as apresentações, as entidades retornavam para o centro da corrente, onde fumavam charuto e estalavam os dedos para “purificar” o ambiente. Cada espírito que descia colocava um cocar na cabeça para avisar os filhos e quando sentiam-se à vontade, falavam algumas poucas palavras.

No evento não teve cachaça e a diversão das entidades que desciam era rodar e dançar como fizeram na vida passada, nos rituais das tribos. Eles ficaram pouco tempo e foram embora durante os rodopios dos médiuns no centro do salão.

Mais de uma hora após começar a festa, foi realizado a coroação da filha pequena Iraci que passou a ser mãe de santo. Ela estava se preparando para subir de “cargo” e ficou confinada por uma semana numa choupana até a cerimônia.

Durante o evento, foi guiada pelos seguidores até o altar, onde recebeu a benção de Mata Virgem. O cacique conversou e passou a mão em sua cabeça, para abençoar a nova etapa da vida da filha.

O cacique Mata Virgem coroando a filha Iraci em mãe de santo (Foto: Danielle Matos)
O cacique Mata Virgem coroando a filha Iraci em mãe de santo (Foto: Danielle Matos)

O pai pequeno, Carlos Júlio de Souza explicou a importância da religião na vida dos seguidores. “A Umbanda nos ensina a praticar o bem, ajuda os filhos a levantar e seguir o caminho correto. Estou na casa há 18 anos e em 2020 serei graduado em pai de santo”.

Marlen da Conceição Francisco também é a mãe Marlen da Tenda de Umbanda São João Batista, que fica no bairro Los Angeles. Ela foi visitar a casa de Mata Virgem e comentou sobre as comemorações. “É uma conquista quando tem a coroação de um caboclo. É um passo a mais a tudo que é bom e diz respeito a ser humano. É importante quando os pais e mães de terreiros se reúnem para louvar o sagrado, pois é uma forma apoio e de dizer que estamos juntos”.

Luciana dos Santos tem 29 anos, não é umbandista, mas participou do evento por conta do marido e da filha seguem a religião. Tem um olhar mais amplo para a Umbanda e acredita que as celebrações são forma de quebrar o preconceito. “Aprendo muito quando venho nas festas, é um conhecimento a mais. Sou médium também e quando meu filho de 3 anos crescer pretendo entrar na casa”, afirmou.

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