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Diversão

Noite de desfile teve incêndio, história, tecnologia e amor ao samba

Apesar do clima instável, público compareceu e assistiu ao desfile comemorado como o retorno à alegria na rua

Mariely Barros | 21/02/2023 07:20
Ala da Vila Carvalho repleta de cores encantou o público. (Foto: Kísie Ainoã)
Ala da Vila Carvalho repleta de cores encantou o público. (Foto: Kísie Ainoã)

A chuva que atingiu Campo Grande durante a tarde e permaneceu como garoa até o início da noite desta segunda-feira (20) não impediu o público de ir até a Praça do Papa, no primeiro dia de desfile das escolas de samba. Apesar do clima instável, as apresentações arrancaram muitos sorrisos e aplausos do público.

No ano passado, após as restrições da pandemia, as escolas desfilaram em abril, fora do calendário regular da folia.

O primeiro dia de apresentações na Avenida do Samba teve participação da Herdeiros do Samba, Unidos do Cruzeiro, Vila Carvalho e Igrejinha. Prevista para começar às 20h, a noite de desfiles foi aberta por volta das 20h40. Além do atraso, algumas escolas enfrentaram grandes imprevistos com os carros alegóricos e de som durante o desfile.

Crinças levaram o enredo "Bate, bate coração Joaquim Murtinho 100 anos de Educação” para avenida. (Foto Kísie Ainoã)
Crinças levaram o enredo "Bate, bate coração Joaquim Murtinho 100 anos de Educação” para avenida. (Foto Kísie Ainoã)

Iniciando os desfiles, a escola de samba mirim Herdeiros do Samba, composta por crianças e adolescentes, levou para a avenida o enredo "Bate, bate coração Joaquim Murtinho 100 anos de Educação”. Ainda nos primeiros passos na avenida o carro de som que acompanhava a escola teve um princípio de incêndio, que foi combatido rapidamente pelos brigadistas. Foram necessários alguns minutos para que escola iniciasse novamente apresentação ao lado do carro.

Ainda tentando se recuperar do incêndio que atingiu o barracão da Escola de Samba Unidos do Aero Rancho, no dia 8 de fevereiro, a escola entrou sem carros alegóricos, contando com a graça e animação das crianças, que encantaram o público. O local também era usado pela Herdeiros do Samba para guardar as alegorias.

Antes de entrar na avenida, a presidente da Herdeiros do Samba, Fátima Luz, de 69 anos, que também desfilou, contou sobre a preparação. “É emocionante mais uma vez estar aqui, estamos sem carro de som outra vez, mas não faz diferença, eu confio nas crianças, a chuva atrapalha um pouco, duas alas com 25 crianças não puderam vir por conta da chuva, mas continuo muito feliz, este é o nosso ano de libertação da pandemia, disse.

Unidos do Cruzeiro

Fantasia em alusão aos povos onde se criou o perfume (Foto: Kísie Ainoã)
Fantasia em alusão aos povos onde se criou o perfume (Foto: Kísie Ainoã)

Com o enredo “Per Fumum: O Mágico Cheiro do Carnaval, a Essência Que Me Seduz”, a escola Unidos do Cruzeiro pisou na avenida exatamente às 21h20. A agremiação apresentou a história do perfume. A comissão de frente da escola trouxe fantasias em homenagem à egípcia Tapputi, considerada a primeira mulher química do mundo e perfumista.

Em seguida, na 1° ala, o carro alegórico da escola trouxe uma pirâmide do Egito, fazendo alusão aos povos que criaram o perfume. A Bahia também foi lembrada nas fantasias, representado pelas baianas que, com água de cheiro, fazem a lavagem das escadarias da Igreja Senhor do Bonfim, celebrada por católicos e candomblecistas.

A escola vermelha, branco, laranja e amarela também levou muitos elementos dourados nas suas alas e carros alegóricos, como na terceira alegoria “Per Fumum Frasco de perfume”: o carro alegórico com o desenho de vários frascos de perfume foi usado para fechar a 7º ala da Unidos do Cruzeiro.

Vice-presidente da Unidos do Cruzeiro, Meryellen Guedes, de 40 anos. (Foto: Kísie Ainoã)
Vice-presidente da Unidos do Cruzeiro, Meryellen Guedes, de 40 anos. (Foto: Kísie Ainoã)

À frente dos desfiles da escola há anos, a vice-presidente da Unidos do Cruzeiro, Meryellen Guedes, de 40 anos, comentou sobre como a escola se preparou para o desfile. "A gente veio para avenida para fazer um grande Carnaval, assim como em todos os anos, a gente vem lutando por essa herança, que no meu caso vem do meu avô, dos meus tios e mãe, e a gente vai seguindo e lutando para colocar a escola na avenida, para fazer um espetáculo. A história foi montada para contar a história do perfume, de onde vem, quando chegou no Brasil e nos dias de hoje. Com a gente desfilou hoje 350 pessoas, contamos com o apoio da prefeitura, mas tivemos que tirar do nosso bolso também, porque a verba saiu faltando duas semanas para o desfile", contou.

Vila Carvalho

A terceira escola a se apresentar, a Unidos da Vila Carvalho, entrou na avenida com o enredo "Carvalho numa nova era, em minha casa há vários moradas, nós não estamos sós", que levou os foliões para uma viagem aos elementos do universo, como suas galáxias, mundos, estrelas, habitantes e espiritualidade.

Cantando "Eu vou viajar, nas estrelas vou viajar. Quero voar nessa imensidão do universo com a Vila amor encontrar", a escola saiu com oito alas, a primeira fazendo a alusão à Via Láctea, a segundo inspirada na religiosidade, e a terceira trazendo um paraíso multicor, que representa a natureza e todos os seus aspectos.

Mestre-sala e porta-bandeira desfilam na ala "seres de luz". (Foto: Kísie Ainoã)  
Mestre-sala e porta-bandeira desfilam na ala "seres de luz". (Foto: Kísie Ainoã)

Já na quarta ala, a mensagem foi de paz e amor. Em seguida, a quinta trouxe fantasias inspiradas na constelação e carro alegórico representando o universo. A sexta ala trouxe o tema seres de luz, com seres iluminados, já a sétima foi a da evolução, com diversos elementos referenciando a descoberta do sentindo da vida. Também trouxe fantasias que simbolizavam a tecnologia trazida pelos povos antigos e nos oriundos de todos os planetas. No desfile, utilizou telões digitais, inovando na avenida.

Segundo presidente vitalício da escola, José Carlos de Carvalho, de 79 anos, a preparação da escola leva um ano todo para que as fantasias cheguem bonitas à avenida. Ele calcula que a escola investiu R$ 100 mil na apresentação deste ano. "A expectativa de todos anos é trabalhar para fazer um Carnaval bonito para população, todos os anos é o mesmo coração e a mesma alegria", finaliza.

Dançarinos apresentando performance na ala "paraíso multicor". (Foto: Kísie Ainoã) 
Dançarinos apresentando performance na ala "paraíso multicor". (Foto: Kísie Ainoã)

G.R.E.S Igrejinha 

Quarta e última escola a desfilar, a G.R.E.S Igrejinha foi a única que entrou sob chuva. Escolheu a infância como temática, com o enredo "UNI-DUNI-TÊ, a Igrejinha vem brincar com você”. A comissão de frente foi composta por guardiões da imaginação, que representam os responsáveis por levar a criança até esse mundo imaginário, em que personagens despertam sentimentos e sensações.

Personagem Pinóquio foi personagem da ala "Mundo da imaginação". (Foto: Kísie Ainoã)
Personagem Pinóquio foi personagem da ala "Mundo da imaginação". (Foto: Kísie Ainoã)

As nove alas da escola foram dividas em Arco-íris, O caminho imaginário, Dominó, Quebra-cabeça, Cavalinho de Pau, Malabaristas, Bela e a Fera, Mulher Maravilha, Visconde e Emília, Baianas e a última ala, A Eterna Criança que Existe em Você.

Cantando o refrão "Meu samba é para brincar, receita do bem viver, esperança pra sonhar, mas também pra proteger e a Igrejinha te faz Carnaval", a escola encantou a todos com diversos personagens de desenhos infantis, malabaristas, pernas de pau e cospe fogo.

A presidente da escola Marisa Fontoura, de 59 anos, disse que o desfile além de emocionante foi um reencontro da Igrejinha com o público, após uma fase difícil enfrentada pela organização. “A gente estava numa expectativa muito grande, passamos por momentos difíceis, mudamos a diretoria em dezembro, tudo isso influencia. Foi muito emocionante, todo mundo tá com vontade de levantar a Igrejinha novamente. Esse ano recebemos uma das maiores verbas já recebidas pela prefeitura, todas as escolas receberam uma verba muito boa, acho que é a primeira vez que o Carnaval tem uma verba dessa em Campo Grande, nossa escola investiu mais de R$ 200 mil.

Marisa ainda mandou um recado para aqueles que dizem que Campo Grande não tem Carnaval. “Existe Carnaval em Campo Grande e a prova são esses dois dias lindos de festa que a liga está promovendo, as escola se empenharam muito em todas as comunidades, basta todo mundo colocar fantasia e vir também”.

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