Ciclistas e pedestres são 'vilões' para quem quer se exercitar no parque
Com opiniões divididas, há quem ache que é preciso ter mais paciencia durante a disputa por espaço
Na hora de se exercitar, ciclistas, pedestres e grupos de aquecimento são vistos como ‘vilões’ por aqueles que querem usar a pista sem nenhum obstáculo. O Campo Grande News esteve no começo da noite desta quinta-feira (25), no fim da tarde desta sexta-feira (26) e ainda retornou no quarta-feira (07), no Parque dos Poderes para ouvir os frequentadores da região.
No primeiro dia conversamos com o educador físico, Aislan Felício Miranda, de 34 anos, que estava responsável pelo grupo que realizava exercícios funcionais. O grupo é composto por funcionários do Tribunal de Justiça da Capital, e realizam os exercícios utilizando parte da pista da caminhada para se aquecerem antes de começarem a correr.
“Antes a gente fazia na ciclovia por ser mais larga, mas o pessoal reclamava muito, aí mudamos pra cá e não atrapalha ninguém caminhando”, disse Aislan.
Ainda foi possível observar muitos ciclistas disputando espaço em meio aos carros em vez de utilizar a ciclovia que há ali. Alguns, chegam a pegar carona com motociclistas para tomar um fôlego durante a caminhada.
No dia seguinte, durante o fim da tarde, a disputa por espaço se repetiu, mas desta até a área dos pedestres foi invadida pelos ciclistas. A situação foi vista por pelo menos cinco vezes durante o tempo em que a reportagem esteve observando o movimento do local.
Entre aqueles que utilizam o espaço para caminhar as opiniões se dividem, mas foram poucos os que reclamaram das invasões dos ciclistas. “Nunca tive problemas nenhum aqui não. Isso nunca aconteceu, comigo não. Costumo caminhar ou pela manhã ou no final do dia, quase todos os dias. Nos horários que eu ando, não observo isso não, está todo mundo no seu cantinho, bicicleta lá e a gente aqui, se respeitando”, contou Arilson de Mores, de 30 anos.
Outro idoso, que preferiu não se identificar, diz que caminha na região há anos, mas fez uma pausa nos exercícios por algum tempo. “Minha esposa caminha todos os dias aqui e ela nunca falou nada para mim. De um mês pra cá eu parei e estou voltando hoje, inclusive ela já está voltando e nunca reclamou de nada”, relatou.
Elizete Nogueira, de 60 anos, também diz não encontrar nenhum obstáculo durante o tempo que está ali, mas reclama dos motoristas que não respeitam as faixas de pedestres e as sinalizações e ainda levantou melhorias que poderiam ser feitas no local.
"A gente não encontra aqui sanitários, se der vontade de fazer um xixizinho vai parar aonde? Não tem nada, não tem nenhum apoio para os pedestres. E assim é um trecho longo, eu saio lá da frente do Hospital Cassems, dou a volta e passo por dentro do parque”, contou Elizete.
Pela falta de banheiros públicos na região, foi visualizado pela reportagem duas pessoas que aproveitaram da mata que há ao redor para fazer as suas necessidades.
A advogada também relata que já presenciou ciclistas invadindo a pista de caminhada. Apesar de dizer que eles entram com cuidado, desviando dos pedestres, Elizete se mostra incomodada com a situação. “Agora eu não vejo pedestres lá. Por que que ciclista vem aqui, mas pedestres não vão lá, né? Acho que não sei, talvez pelas curvas que tem [na pista deles]?”.
Durante o retorno da reportagem foi visto que as invasões de pistas também são realizadas pelos pedestres. Como presenciado com a aposentada Margarida Rabelo, de 70 anos, que adotou a ciclovia para realizar as suas caminhadas. Mesmo sabendo estar no lugar errado, a mulher argumenta que prefere usar a pista dos ciclistas por “nunca haver ninguém ali”.
“Olha essa pista aqui era pra ser de ciclistas, mas só quem anda é pedestres, porque é ruim pra eles andarem por aqui, os comentários que a gente ouve é esse. Então quando fecham eles andam por ali [pista de pedestres] ou por de lá [na rua], porque aqui é horrível para eles andarem. Então o que aconteceu, trocou, muitas vezes os pedestres andam aqui e eles lá. Não é acordo, é simplesmente um funcionamento normal, tem acontecido e nunca vi um ciclista aqui”, explicou.
Outro “invasor”, Eurico Teixeira, de 57 anos, diz optar andar pela ciclovia por falta de um local adequado para poder caminhar com seu pet. “Aqui no parque só final de semana que fecha para podermos andar, mas no final de semana a gente não tem muita opção para andar com os pets e os bichinhos, então tem que ser por aqui mesmo”, disse.
O servidor público também comenta que vê muitos ciclistas invadindo as ruas da região e da Capital. A situação é descrita por ele como uma irresponsabilidade. A solução, sugerida por ele, para o problema seria a realização de mais ações de educação no trânsito para todos os públicos.
Ainda é apresentado por Eurico, os tipos de ciclistas que costumam não usar as ciclovias. “Tem ciclistas e ciclistas, né? Aquele ciclista que é ciclista e quer andar na bicicleta em velocidade X, essa pista não é em linha reta, né? Então é complicado. Mas agora quem usa no lazer, pra voltar pra casa e ir no trabalho, eu não vejo nenhum empecilho de andar nessas curvas”.
Por estarem em uma velocidade mais alta, a reportagem sentiu mais dificuldade para conseguir parar um ciclista. Porém depois de algum tempo, conseguimos conversar com Deomar, de 72 anos, que seguia em um ritmo mais lento.
Quando questionado se o motivo das ‘invasões’ dos ciclistas na pista dos pedestres se dava por conta das curvas, o idoso respondeu: “Bom eu ando aqui né? Eu ando na pista de ciclistas, eu não sei, eu não posso te dizer isso, né? Pra mim tá bom”.
Segundo Deomar, o que falta para as pessoas que frequentam a região é paciência. “Pra mim é só no final de semana que isso acontece. Aqui por exemplo é uma pista de ciclismo e aqui anda cachorro, pedestres, anda todo mundo aqui no sábado e domingo. Mas você também precisa ter tolerância, né?”, explicou.
O ciclista ainda conta que no início chegou a se incomodar com os pedestres que invadiam a pista de quem estava pedalando, mas resolveu deixar para lá. “Não tem nem o que falar aqui, a pista está boa, o parque também. Tá gostoso de andar aqui, né? Dá para conviver tranquilamente aqui, os estressados só tem a perder”, enfatizou.
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