“Coisa do demônio”: em 2 dias, gastei trezentão com cigarro eletrônico
Além da ruína financeira, esse negócio cria dependência e faz um mal danado para a saúde
Não é novidade a venda de cigarros eletrônicos em conveniências e tabacarias de Campo Grande. Mas nos últimos anos houve um “boom” desse tipo de produto, principalmente, no modelo descartável, sem necessidade de recarga para uso. O problema é, justamente, essa facilidade: é o só enfiar a mão no bolso, sem dó do pulmão.
Aos 27 anos, mulher envergonhada pela fraqueza diante do que virou "modinha", prefere não ser identificada, mas mostra a foto do último fim de semana: 5 cigarros vazios e R$ 300,00 a menos na conta bancária. “Parece coisa do demônio, você não consegue parar”, expressa.
Ela diz que começou a fumar ao experimentar o de uma amiga e gastou uma grana alta logo no primeiro fim de semana. De lá pra cá, já perdeu as contas do dinheiro que jogou fora comprando o tal cigarro, que de menos nocivo não tem nada.
O dispositivo eletrônico, famoso como “pod”, traz em sua composição 5% de nicotina em 2,2 ml de essência que vicia, faz mal à saúde, segundo especialista, e ainda é descartado de forma incorreta, contribuindo para uma tragédia ambiental, já que o cigarro possui uma bateria interna, que pode liberar substâncias que contaminam o solo, por exemplo.
E apesar de muitos acharem que o cigarrinho eletrônico é tranquilão, o próprio rótulo do fabricante expõe que a força da nicotina contida em cada unidade equivale a cerca de 2 maços de cigarros convencionais. Ou seja, para quem consumiu cinco unidades em dois dias, a conta para a saúde e o bolso foi cara.
Um funcionário público, de 35 anos, que também anda com vergonha depois de ser derrotado pelo cigarro eletrônico, contou que, recentemente, ele e mais seis amigos consumiram 18 unidades em uma semana durante viagem à praia. Os efeitos colaterais vieram pesados. “Tosse seca, garganta seca, pigarro e rouquidão”, revelou. Além disso, ele percebeu que o cigarro causa uma ilusão de que se fuma menos. “Na verdade, com o cigarro convencional, você ainda tem intervalos, mas com esse você continua segurando algo na mão e traga a todo o momento, até acabar”, conta.
Por não deixar aquele cheiro intragável como os cigarros tradicionais, o eletrônico tem sido usado até mesmo em locais fechados no Brasil.
No entanto, o médico pneumologista Henrique Ferreira de Brito, da Unimed Campo Grande, é enfático. “Cigarros eletrônicos fazem mal à saúde, sim”, diz. “É diferente do cigarro convencional, porque não tem a queima do tabaco, mas ele tem uma bateria, que aquece os ingredientes, como a nicotina e aromatizante, e libera substâncias nocivas”.
Não há pesquisas aprofundadas sobre o nível de danos à saúde, conforme o uso a curto ou longo prazo, no entanto, o médico expõe que, além da nicotina, o uso do cigarro eletrônico pode causar doenças respiratórias.
O médico também explica que os sintomas recorrentes em jovens e adultos que utilizam o dispositivo eletrônico têm a ver com a aspiração do vapor aquecido. “Quando você aspira um vapor aquecido, ele agride a mucosa respiratória, então, esse pigarro nada mais é do que um muco protetor que a via respiratória produz para se proteger daquele ar aquecido entrando. Também com esse excesso de muco, o paciente começa a tossir, tentando expelir também substancias nocivas que são levadas por esses dispositivos”, detalha o médico.
Ainda é proibidão - Muitos não sabem, mas no Brasil, a comercialização, importação e propaganda de cigarros eletrônicos são proibidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária. A justificativa é de que não existem estudos que comprovem a segurança na utilização, além de serem extremamente atraentes para os mais jovens, que tendem a aderir ainda mais ao produto.
No entanto, o produto é consumido livremente, já que não há nenhuma proibição de consumo. Isso tem ocasionado um aumento do descarte dos cigarros em lixo comum, destino incorreto, explica o biólogo Gleidson Melo, que elaborou um e-book sobre resíduos de equipamentos eletrônicos e a informação ambiente.
“Temos uma legislação que obrigada revendedores a receberem os equipamentos eletrônicos de volta, no entanto, como o cigarro eletrônico não é regulado no Brasil, logo, não há fabricante legal para recolher esse material”, explica o biólogo, sobre o Decreto nº 10.240, de 12 de fevereiro de 2020, que regulamenta a implementação de sistema de logística reversa de produtos eletroeletrônicos e seus componentes de uso doméstico.
Ou seja, serve como um instrumento para viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada.
Por isso, ele analisa com crítica o descarte irregular dos dispositivos eletrônicos “As baterias, por exemplo, podem liberar componentes químicos como mercúrio, chumbo, cobre, zinco, cádmio, lítio, elementos químicos que podem provocar alteração no solo, acabar em um curso de água, contaminar água subterrânea, causando prejuízo para os peixes e até um total descontrole”, finaliza o biólogo, que disponibiliza o livro gratuitamente para informações sobre destinação correta de eletrônicos (clique aqui).
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