Nova coluna mostra antes e depois de quem resolveu enfrentar cirurgia bariátrica
Meu nome é Liziane Berrocal, sou jornalista, sou feliz (às vezes sou triste), mas tenho uma peculiaridade. Sou GORDA. Aliás, sou imensa. Sou muito gorda e, quando olho no espelho, tenho certeza disso. Então, resolvi mudar de vida e escrever sobre. E durante meu pré-operatório para a redução de estômago, vou escrever o Lado A e o Lado B de ser tamanho GG. Hoje, começo falando sobre como se descobrir gordo.
Para começar, peço a você leitor: acredite, ninguém é gordo porque quer. É uma frase clichê, que eu já ouvi muito, mas ao contrário. Mas tenha certeza, não está nos planos de ninguém pesar mais de 100 quilos e ser chamado de apelidos carinhosos como “chupeta de baleia”, “rolha de poço”, “próprio CEP”, “gorda baleia”, “lutador de sumô” e afins. Nem ser referência ou algo que o valha.
Eu por exemplo não escolhi. Nasci gorda, com quatro quilos, quase matei minha mãe no parto (segundo me contam) e desde pequena sempre fui a gordinha bonitinha. Meus tios me adoravam, eu recitava poesias, cantava no Mobral (pergunte ao seu pai se não souber o que é isso) e era a sensação da vizinhança. Um amigo da família me chamava de "bujão" e era uma “graça” aquilo.
O roliço vai crescendo... e é aí que o bicho pega, porque alguém se esqueceu de falar que ao crescer, você não é mais sensação. Um gordo ou uma gorda é sempre motivo de piada quando cresce. E nem venham dourar a pílula, porque pode até ser o engraçado da turma, mas é fuga, pura fuga.
Eu era a engraçadona da turma. A que brincava, a que achava graça das piadas que fazia de si mesma, e que metia mão na cara da gurizada quando era alvo de tiração de sarro.
Também era a mais inteligente (me esforçava muito para isso) e a mais popular, o que é uma façanha para uma gorda. Jogava handebol, tocava na banda, comecei a fumar muito cedo, brigava na rua, fui do grêmio escolar, tinha peitos, montei um jornal, tinha um programa às sextas-feiras no palco da escola, era a amigona das meninas, fazia piadas e contava piadas, enfim, tudo que pudesse me fazer popular e a alegria da turma. Mas tinha um lado ruim nisso tudo, hoje, eu percebo que era só uma máscara.
Eu odiava aquela gente, odiava o que eles faziam comigo. Toda vez que tinha qualquer discussão, qualquer briga, eu era de novo só a gorda. E aprendi a agredir, porque era agredida.
Duas situações me deixam isso muito claro. Primeiro me lembro de dois colegas, que também eram gordos, mas não eram populares. Theo e Mirela. Ele era gordo e muito alto, além de ser muito quieto e menos acelerado que eu. Ela era baixinha e usava umas roupas esquisitas, na verdade era meio brega. E eu? Gorda também tirava sarro deles, sem dó nem piedade.
Também me lembro quando todos estavam brincando de corredor da morte (uma brincadeira besta onde ficam pessoas de ambos lados dando chutes e socos em quem passa) e eu era a única menina que participava.
Hoje, mais adulta, eu fico me perguntando por qual motivo eu me submetia a tudo aquilo. Hoje, percebo que sim, era pelo simples fato de ser gorda e sendo assim, eu conquistava o respeito daqueles idiotas.
E você, achava realmente que alguém quer ser constante alvo de agressão? Imagine ser gordo?
*Liziane Berrocal é jornalista, decidiu enfrentar a cirurgia de redução de estômago e vai contar todo o processo aqui, do antes ao depois.