Churrasco no pão francês com suco à vontade é recomeço para família paulistana
Bem recheado, sanduba tem pão com carne da hora do almoço até o jantar
Churrasco Grego é uma portinha simples em funcionamento há pouco mais de cinco meses no Universitário. Tão minúsculo quanto concorrido, é o tipo de lugar simples que vale a descoberta. Tem preço camarada no sanduba, suco de graça e o cliente leva para casa a gratidão de uma família paulistana que vê Campo Grande como recomeço.
Lá dentro o salão é pequeno, a maioria dos clientes fica na calçada, ao lado máquina que funciona até o último pedaço de carne. Todos os dias, são pelo menos 15 kg de miolo da paleta para servir. O lanche, apesar de simples, ganhou respeito pelo pão francês crocante, que vem muito bem recheado com carne e o sabor marcante das especiarias da família. No meio, um pouquinho de salada de repolho incrementa o lanche.
O sucesso não era para menos, das 11h até às 21 quem passa por ali come lanche bem recheado e bebe suco à vontade por R$ 6,50. Tem cliente que leva até garrafinha quando o pedido é para comer em casa.
Enquanto cuida do churrasco, Ivan Casemiro, de 39 anos, chora. A esposa Magda Silva da Cruz, de 43, também não aguenta e se deixa levar pela emoção no meio de todos. "Difícil não chorar ao ver que deu certo. Olho para trás e lembro que começamos a lanchonete com um banquinho de plástico, a máquina e só", diz Ivan.
Com sorriso que também transborda no rosto, o esposo não cansa de agradecer a Magda. Foi ela que antes de sair de São Paulo bateu o pé que deveriam trazer o churrasco grego para Campo Grande. Um jeito de recomeçar a vida longe da violência.
"Meus pais moram aqui há 20 anos e a gente sempre viveu em São Paulo. Mas chegou um momento que ficou insustentável. Não tínhamos tempo para os filhos, pra nossa casa, e a incerteza sobre ser vítima ou não da violência no outro dia era a única coisa que reinava", conta Magda que trabalhava como cabeleireira.
Ivan era de um centro automotivo e tinha esperança que o patrão montasse um negócio para ele aqui na cidade, a ideia o fez discordar por muito tempo de Magda. "Eu não via outra coisa, só pensava no centro automotivo, mas quando chegamos aqui isso não aconteceu. Foi quando finalmente decidi trabalhar com ele no churrasco grego".
Em São Paulo a família vendeu tudo o que tinha. "Viemos com o necessário, roupas, máquina de lavar roupa, alguns móveis e os filhos", lembra Magda. Duas semanas antes de pegar a estrada a família ainda viveu um pesadelo. "Sofremos um assalto na porta de casa, os bandidos apontaram arma na cabeça do Ivan".
"Achei que ia tomar um tiro, vi minha vida passar", acrescenta o marido. Naquele dia família tinha ido ao supermercado. Ivan estacionou com o carro do patrão na porta de casa com os filhos enquanto a esposa desceu para guardar as compras. Em questão de minutos veio o desespero. "Um deles apontou a arma na minha cabeça e me fez descer do carro. As crianças estavam de cinco no banco de atrás, foi quando eu segurei na cintura dele e impedi ele de entrar no carro até que meus filhos conseguissem sair", lembra.
Enquanto isso Magda ouviu o desespero da família e correu. Sem pensar no que viria pela frente, ela pulou em cima de um dos bandidos. "Só pensei em defender a minha família", diz. O que estava com a arma na mão conseguiu entrar no carro e arrastou a cabeleireira por poucos metros. As cicatrizes ainda estão no braço.
"A gente já tinha decidido mudar, mas depois disso, foi só a certeza", diz Magda. A distância não fez mudar o amor que sentem por São Paulo, mas viver em Campo Grande faz a família respirar. Cada fim de expediente, uma paz de toma o coração. "Aqui eu consigo terminar de vender e limpar as mesinhas com calma. Lá a gente não poderia fazer isso por conta da violência".
Ivan diz que fica até mais à vontade de passear na rua. "Aqui pelo menos eu tenho andado na rua e as pessoas me olham sem apressar o passo. Lá quando eu entrava no metrô, a primeira coisa que alguém fazia era agarrar a bolsa e sair de perto. Isso é muito triste".
Agora o desafio é trabalhar em família. "Eu e ele nunca trabalhamos juntos. É uma descoberta e um aprendizado. Tem dias que a gente discute uma coisa ou outra, mas o lanche nunca para, diz a esposa.
Enquanto Ivan fica no preparo do lanche, Magda cuida do atendimento, serve o suco e limpa a lanchonete. Nicole, a filha de 19 anos, é quem faz os bolos de pote para vender como sobremesa e ainda cuida do caixa para a família. No balcão, dois celulares para responder os clientes nas redes sociais, que elogiam o jeito simpático da família ao atender todos os dias.
"Nosso churrasco é o recomeço da nossa vida. Mas sempre acreditando que já deu tudo certo", finaliza Magda.
O Churrasco Grego fica na Rua Torixoréu, 3, Universitário (esquina com a Rua Pontalina). O horário de funcionamento é das 11h às 21h de segunda a sábado.