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Sabor

Da música para a cozinha: chamamé ganha versão em prato com carne e mandioca

Paula Maciulevicius | 20/12/2014 07:34
Das notas musicais para os ingredientes e o modo de fazer: chamamé virou prato. (Foto: Alcides Neto)
Das notas musicais para os ingredientes e o modo de fazer: chamamé virou prato. (Foto: Alcides Neto)

Como a música, a dança e o ritmo podem ser transferidos para a gastronomia? Das notas musicais para os ingredientes e o modo de fazer, em Campo Grande, o Centro Cultural do Chamamé, no bairro Chácara Cachoeira, estreou o estilo num prato. O chamamé agora leva o ritmo argentino para o paladar de um modo bem sul-mato-grossense: através da carne e da mandioca.  

Conhecido como Ramão Martins, o doutor do chamamé, o médico Ramão Anis Martins, de 62 anos, responde que precisa, primeiro, pensar um pouco, antes de dizer de que forma o chamamé poderia virar um prato. Sanfoneiro, a tradução do que ouve da música pela qual é apaixonado para a culinária o faz viajar pela história do ritmo e dar uma pequena aula também.

Ramão Martins, o doutor do chamamé, caracteriza ritmo como algo sublime. (Foto: Alcides Neto)
Ramão Martins, o doutor do chamamé, caracteriza ritmo como algo sublime. (Foto: Alcides Neto)

"O chamamé uma coisa tão nobre, uma música traz tantos valores, qualidades, eu diria que é sublime. Ele traz dentro do seu bojo muito sentimento, emoção e amor. Para colocar o chamamé num prato tem que pensar um pouquinho", justifica.

Segundo Ramão Martins, ele nasce na França, mas foi na Argentina que se enraizou. "É uma especialidade de Corrientes, daí vem o nome chamamé correntino. Por influência da nossa proximidade, aqui ele é muito forte. Só que o chamamé do Brasil, vamos dizer assim: o ritmo é o mesmo, mas a forma de tocar que é diferente. Acho que o chamamé daqui é carne no espeto e na brasa. Vai mandioca também? Sim, acho que é meio por aí", brinca.

Criador do Centro, Orlando Rodrigues explica que precisava também resgatar o sabor da cultura. (Foto: Alcides Neto)
Criador do Centro, Orlando Rodrigues explica que precisava também resgatar o sabor da cultura. (Foto: Alcides Neto)

Criador do Centro Cultural, seu Orlando Rodrigues, de 72 anos, é quem explica o motivo da homenagem. "O Centro tem uma função de levantar toda a tradição cultural, musical do antigo Mato Grosso e tem a gastronomia, o costume do campo: de curtir o couro e fazer artesanato e uma das coisas que eles cobravam era que precisava resgatar algo bem mato-grossense, precisava reunir num prato típico o que poderia ser o chamamé", descreve.

À cabeça lhe vem: mandioca da boa, a carne de sol, o arroz com guariroba. "E fomos unindo as tradições. O que a gente poderia fazer que fosse daqui? A mandioca é daqui mesmo", aponta para a plantação.

Há um mês ele testou o chamamé em prato e nessa sexta-feira, chamou a irmã para fazer a degustação aos amigos. "Dia 19 de setembro tem a celebração do chamamé, então a gente sempre se reúne dia 19 de todo mês e hoje é a nossa última comemoração antes de embarcarem na excursão a Puerto Tirol", conta. Em breve, campo-grandenses saem de ônibus para o festival do ritmo na cidade argentina.

"Aqui reunimos músicos que não são da mídia, que estão começando ou idoso que já não tem espaço para tocar. São pessoas, não o conjunto musical, pessoas que vem para tocar aqui, para confraternizar, rememorar o que fizeram durante a vida", discorre seu Orlando.

O chamamé agora leva o ritmo argentino para o paladar de um modo bem sul-mato-grossense: através da carne e da mandioca. (Foto: Alcides Neto)
O chamamé agora leva o ritmo argentino para o paladar de um modo bem sul-mato-grossense: através da carne e da mandioca. (Foto: Alcides Neto)
Massa de mandioca 'descansa' até virar purê. (Foto: Alcides Neto)
Massa de mandioca 'descansa' até virar purê. (Foto: Alcides Neto)
Depois de dessalgada, carne é frita e desfiada. (Foto: Alcides Neto)
Depois de dessalgada, carne é frita e desfiada. (Foto: Alcides Neto)

Ingredientes - E para fazer o chamamé virar prato, o Centro Cultural usou arroz, guariroba, carne seca, mandioca, leite, alho, cebola e pimenta bodinha.

Quem explica o passo a passo da receita é a irmã do seu Orlando, a produtora rural, Sônia Rodrigues, de 64 anos. "É assim: a carne soleada, você dessalga e desfia toda ela. Vai fritando a cebola e quando dourar o alho, joga a carne e faz aquele refogado. Tempera com pimenta bodinha e depois deixa tampado. Mas a pimenta tem que ser essa, não usa do reino, essas não, que estraga", alerta Sônia.

A mandioca entra para ser o purê. O primeiro passo é cozinhá-la. "Mas ela tem que ser boa, não pode ser congelada e também não dá para deixar nem muito duro e nem muito mole. Aí passa na máquina de moer carne, não é no processador, é de moer e pronto", ensina. Quando a massa tiver pronta, a panela vai dourar o alho e fritar a cebola e ferver o leite. Assim que começar a ferver, é a hora de colocar a massa para fazer o purê.

Já o arroz, Sônia explica que segue o método normal. "O detalhe é na hora que for por água, aí já mistura a guariroba cortada em tirinha, em filetinho, põe sal normal e cozinha".

O prato pode ser montado como quiser. "Dá para misturar, fazer um escondidinho com o purê e a carne ou tudo separado, assim como o chamamé, fica muito bom", resume. 

O prato típico deve ganhar vez nos próximos eventos do Centro Cultural do Chamamé, que fica na Rua Alfazema, 33, no Bairro Chácara Cachoeira.

"Dá para misturar, fazer um escondidinho com o purê e a carne ou tudo separado, assim como o chamamé, fica muito bom", resume Sônia, que nos ensina a receita. (Foto: Alcides Neto)
"Dá para misturar, fazer um escondidinho com o purê e a carne ou tudo separado, assim como o chamamé, fica muito bom", resume Sônia, que nos ensina a receita. (Foto: Alcides Neto)
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