De vatapá da vovó ao arroz de mãe, merendeiras vivem momentos de Masterchef
Cinco foram selecionadas para o primeiro concurso de alimentação escolar de Campo Grande
Cinco mulheres, cinco histórias e uma paixão em comum: a culinária. Gracilene, Fabíola, Maria Olinda, Débora e Cláudia protagonizam o primeiro concurso de alimentação escolar de Campo Grande, quando a melhor receita será premiada. Hoje, é a final do concurso, o momento Masterchef de preparar receitas que foram finalistas.
Ninguém é formada em Gastronomia, nem passou anos estudando técnicas na cozinha, mas carregam na bagagem experiência e talento de casa, naturalmente inspiradas na família onde aprenderam a cozinhar desde à adolescência.
A seleção que começou com 17 merendeiras de escolas municipais inscritas chegou a semifinal com 10 pratos. Cada finalista precisou movimentar a comunidade para ficar entre as cinco melhores.
Fabíola Maria Nocrato, que trabalha na Escola Municipal Nelson Pinheiro não pensou duas vezes em participar do concurso com a receita que aprendeu aos 10 anos de idade. O vatapá feito em casa, pela avó, é prato que nunca saiu da memória, por isso, arriscou participar do concurso com nova versão feita de carne. "Ela sempre foi feita com peixe ou camarão, alguns adaptaram com frango e eu resolvi fazer com carne", conta a merendeira.
Nascida em Fortaleza, mas viajante por causa da profissão do marido, ela já passou por muitas cidades e onde chega vai se reinventando na cozinha. "Sempre tento fazer algo diferente, gosto muito de cozinhar e como o vatapá é receita de família, ele não pode faltar, por isso, a gente vai inventando".
Fabíola está sentindo a verdadeira Masterchef ao cozinhar para jurados profissionais e está confiante graças aos alunos. "Eles são meus jurados diários", brinca. "Tudo que eu cozinho eles adoram e ainda coloco um pouco do meu tempero nordestino".
Aos 49 anos, Cláudia Beatriz Araújo, tem pouco tempo de experiência como merendeira, mas carrega no coração a vontade de ganhar os olhares dos alunos com receitas de casa. Autora do "Charuto de frango com cenoura", a receita chegou quando ela menos imaginava. "Eu estava na dúvida sobre o concurso, mas a diretora me incentivou muito e acabei me inscrevendo. Depois fiquei pensando no que faria".
Como o prato deveria ser com ingredientes que estão presentes na cozinha e com base numa alimentação saudável, Cláudia viu a solução em um repolho. "Eu estava manipulando um repolho para um salada e pensei no charuto".
Como a receita feita com carne é comum, ela optou pelo frango e os legumes que costuma preparar na merenda. "De frango eu nunca tinha provado e nem visto. Então resolvi juntar tudo e criar meu charuto".
Dona Maria Olinda Floriano, de 56 anos, tem um talento inegável, mas ela não imaginava dar de cara com a profissão de merendeira há alguns anos. "Uma merendeira entrou de licença maternidade e surgiu uma vaga como merendeira. Era para eu ficar apenas um mês e já completei 11 anos de profissão".
Orgulhosa, Maria é pura animação com o concurso que a fez se sentir importante com uma receita simples, mas feita com todo amor do mundo. "É um omelete. Muita gente fica perguntando porque eu fiz uma receita tão simples, mas me diga quem não ama omelete?", questiona.
A ideia da receita nasceu em um dia chuvoso, dentro do Ceinf em que trabalha, conta a merendeira. "Naquele dia tinha pouca criança e comecei cenouras que tinha na geladeira. Fui fazendo, todo mundo gostou e assim nasceu meu omelete de legumes".
Cozinha e educação andam juntas na vida da merendeira Débora Ferreira Brites, de 30 anos, que é formada em Pedagogia mas não abre mão das panelas e do brilho no olhar dos alunos toda vez que uma receita nova agrada. Ela terminou a faculdade, mas confessa que ainda tem um caminho longo com a merenda. "Aprendi a amar a cozinha por causa da minha filha pequena. Quando passei no concurso para merendeira, resolvi deixar o tempo a vida como pedagoga e continuar na cozinha. É um trabalho que eu amo igual", diz.
Ela chegou a final com o arroz em camadas com açafrão ao molho de legumes, um prato elaborado pensando no arroz da mãe que sempre fez um sucesso à mesa. "O arroz com açafrão é uma coisa da minha mãe, aprendi usar com ela esse tempero e temos até horta de açafrão em casa".
O ofício de merendeira não só trouxe experiência como diversão à vida de Débora. "Aprendi rir das coisas mais simples e até aceitar ser chamada de tia aos 26 anos. Hoje meu maio orgulho é fazer os pratos que eles mais gostam, por exemplo, a galinhada com tomate e o arroz carreteiro".
Graucilene Aparecida, de 49 anos, também reinventou o bobó de galinha criando a receita "Bobó de abóbora com batata doce", que apesar da diferença, não causa estranheza entre os alunos. "Fica muita saboroso, é impossível não gostar".
Ela trabalha na merenda há um ano e nove meses, é apaixonada pela cozinha e sua maior alegria é receber elogios dos alunos. "Gratificante é chegar na fila do supermercado e encontrar um aluno elogiando minha comida. Isso me deixa muito feliz, só me dá mais vontade de cozinhar".
As três primeiras colocadas terão as receitas incorporadas no cardápio das escolas municipais de Campo Grande, além de ganharem uma televisão de 40 polegadas, um smartphone e uma bicicleta, respectivamente.