Jamila aprendeu a cozinhar com o grande amor e hoje faz até comida árabe vegana
Cozinheira há 35 anos, ela faz pratos árabes tradicionais e veganos sob encomenda
Os ingredientes na cozinha são árabes, mas não pense que só tem quibe cru ou arroz com lentilhas na mesa. A cozinheira Jamila Ghandour Taha, de 56 anos, filha de libaneses, apresenta uma gastronomia diferente dos livros de receitas da família. Depois de aprender a cozinhar com o marido, ela usou a criatividade para fazer versões veganas, sem abandonar as especiarias e nem os ingredientes típicos do Oriente Médio.
A criação é resultado de 35 anos de experiência com a cozinha e o incentivo da família para continuar surpreendendo à mesa. Acostumada com pratos típicos, como o quibe cru, esfirras, charutos, cordeiro e pastas especiais, nem ela imaginava que seria capaz de comer uma receita árabe totalmente vegana, ou seja, sem nenhum ingrediente de origem animal.
Ela viu a possibilidade depois de estudos e testes no modo de preparo, principalmente, porque o objetivo era continuar usando matéria-prima da gastronomia árabe. "Comida vegana com quinoa, por exemplo, tem aos montes, é saborosa, mas não é árabe. Eu queria usar os nossos ingredientes e, por isso, decidi estudar", conta Jamila.
Diferentes temperos e muitas tentativas passaram a fazer parte da rotina de Jamila até ela encontrar o ponto ideal para cada receita. O quibe cru, por exemplo, é feito com babata e farinha de quibe. O recheio da esfirra e do rocambole vai Zatar, uma mistura de especiarias pra lá de saborosa, e a massa é feita apenas com água e óleo vegetal. Tem também o quibe frito que ao invés de ser recheado com carne, leva castanhas típicas do Oriente Médio.
Apesar do gosto pela culinária árabe tradicional, o marido Taha Hussein Taha não nega que fica maravilhado com as novas versões da companheira. "É maravilhoso e muito saboroso, não perde para nenhum prato que aprendemos a fazer no Líbano. Afinal, tem amor e a presença dos nossos temperos típicos", comemora o libanês.
A experiência de Jamila na cozinha nasceu da história de amor dos dois. Ela o conheceu e se casou com em plena viagem à Colômbia, em 1982, durante o período que ela e a família fugia da guerra que assolou o Líbano em junho daquele ano. "Lembro como se fosse hoje daquele bombardeio enquanto eu dormia. Senti a cama tremer e minha avó nos colocou correndo dentro de um carro, subimos para um morro enquanto víamos pessoas sofrendo", começa antes de contar como saiu d Campo Grande para o Líbano naquele ano.
"Vivíamos tranquilamente em Campo Grande quando meu pai muito rigoroso, queria voltar ao Líbano. Mas nem eu e nem minha irmã queríamos, então, educadamente, ele programou uma viagem e fomos. Lá minha irmã casou dentro de um mês e eu não quis deixá-la sozinha".
Com o casamento da filha, o pai de Jamila voltou ao Brasil para vender os bens e voltar ao Oriente Médio. Mas quando chegou aqui, a guerra começou por lá. "Por isso ele deu um jeito de nos levar para a Colômbia, país que meu avô estava naquele período".
Jamila narra que conheceu Taha em uma quarta-feira, noivou no sábado e na outra semana chegou ao Brasil casada. "Não foi amor à primeira vista, mas a gente sabia que um seria o amor do outro para sempre. Eu e ele sentimos isso na primeira conversa sincera. Parece mesmo improvável, mas já comemoramos 37 anos de casados, bem casados".
Foi logo após o casamento que ele ensinou Jamila a cozinhar. "Eu era filhinha de papai, confesso que não sabia fazer nada. Queimei muito arroz e feijão até acertar uma receita, mas sempre fui muito curiosa. Ele, muito paciente, me ensinou de tudo. Mas me apaixonei mesmo é pela culinária árabe".
Com sorriso largo e uma simpatia na voz, Jamila é o tipo de pessoa que conquista de primeira. E não é preciso muito tempo para entender o porque. Além de cozinheira de mão cheia, é daqueles que não dá um passo fora de casa sem amor, garante. "Tudo que eu faço na cozinha, em casa ou fora daqui, eu faço com amor. Sem ele a gente não vai longe e nada dá certo".
Em sua casa, um banquete posto à mesa é só um aperitivo, segundo ela, dos pratos que ela sabe fazer. "Experimenta esse aqui, diga se é parecido", pede mostrando o quibe preparado com batata ao invés da carne crua. E realmente, não há como negar que o sabor e a textura são muito parecidos e o que fica é a vontade de repetir o prato. "Muita gente que é vegano nem imagina que é possível fazer uma receita como essa".
Os pratos feitos por Jamila são vendidos por quilo. O quibe custa R$ 49,90 e as pastas como homus, coalhada e babaganushi saem por R$ 39,90 o quilo. Já as esfirras custam R$ 3,00 e o quibe frito R$ 3,50 a unidade.
Além dos pratos mais tradicionais, Jamila prepara berinjela recheada, abóbora, uma diversidade de arroz árabe, com lentinha, cabelo de anjo, amêndoas e outras especiarias. Tudo é feito sob encomenda e o pedido precisa ser feito com um dia de antecedência.
Quem quiser fazer encomendas, basta ligar no telefone: (67) 99105-4714