Pão caseiro une terenas que sonham com padaria própria e autonomia
Em Aquidauana, projeto foi criado para que as mulheres tivessem renda própria e se valorizassem
A vontade de ajudar mulheres a terem independência fez Danieli Luiz de Souza, de 39 anos, criar a “Associação das Mulheres Solidárias Indígenas Terena” na aldeia Bananal, em Aquidauana, a 135 km de Campo Grande.
Ao todo são 11 mulheres que integram o grupo, mas desde que a associação começou em 2018 várias outras manifestaram interesse em participar. Isso foi possível através de Danieli, que conta o motivo que a fez apoiar mulheres indígenas como ela.
“Sempre quis trabalhar com mulheres pelas experiências particulares sobre violência doméstica. Superada essa fase da minha vida, esperei poder fazer alguma ação para ajudar as mulheres indígenas que também passaram por isso. Numa roda de conversa com algumas mulheres surge um grupo para fazer ação social na comunidade. De início foram pequenas ações que logo ganharam forças, onde chegamos a efetivar uma associação com muito sacrifício e esforço”, diz.
Com tudo formalizado, o trabalho social deu os primeiros passos há quatro anos. A princípio, Danieli precisou quebrar a resistência que algumas mulheres tinham em participar da associação.
“Não era possível trazer de imediato as mulheres para a roda de conversa, porque a maioria são casadas, bem submissas ao esposo e que ninguém nunca tinha feito essa conversa sobre o direito dela, o direito dela ser feliz praticamente”, explica.
Um dos caminhos que ela encontrou para se aproximar foi a produção de pães, que desde 2022 é uma das principais atividades do coletivo. “Foi uma das maneiras que conseguimos montar para trazer para a comunidade e deu certo. Não foi planejado, foi algo que aconteceu naturalmente”, pontua.
A produção de pães as ajudou a enxergar o potencial que têm e também a conquistarem a própria renda. Com muita luta, a associação conseguiu profissionalizar a produção, oferecer curso de manipulação e se cadastrar no PAA (Programa de Aquisição de Alimentos).
Das 11 participantes, oitos estão diretamente envolvidas na produção e uma é responsável por fazer a entrega das encomendas. Daniele e outra voluntária da associação ficam responsáveis por coordenar o trabalho. Os pães caseiros são feitos conforme a demanda em sabores variados, desde o francês ao enriquecido de abóbora que tem tudo a ver com a cultura do povo terena.
Os pães produzidos pelas mulheres terenas também chegam às escolas e creches da região. A idealizadora comenta que levar a produção artesanal para esses espaços está relacionado aos valores do coletivo. “Acreditamos que a educação é o caminho para o conhecimento e o nosso trabalho chegar até a alimentação dos alunos é sensacional. Contribuir sempre”, frisa.
Padaria própria - Um dos entraves que a produção enfrenta, conforme Danieli, é a falta de um lugar adequado e que pertença a associação. “O problema hoje nosso é não ter recurso para montar nossa padaria. A gente loca um espaço que não é nosso porque a gente não tem, mas tem vontade de trabalhar. O plano hoje é fazer uma padaria comunitária dessas mulheres”, pontua.
Neste ano, a associação ganhou um terreno de uma das mulheres da comunidade e os maridos de algumas participantes da associação estão responsáveis pela limpeza. A questão agora é o recurso financeiro. “Estamos no aguardo do Pronaf que tentaremos fazer para investir na padaria”, diz.
A criação da padaria própria irá possibilitar que mais mulheres façam parte do projeto. “Várias mulheres querem entrar no projeto e não é que não temos demanda, nós não temos um espaço que seja nosso. Eu acredito muito que isso possa crescer bastante, que essas mulheres vão achar o valor delas. Os desafios são grandes, mas em 2024 a gente acredita que vamos realizar o sonho da padaria”, destaca.
Além da padaria, outro sonho é ver a produção das mulheres terena chegarem à mesa de famílias de todo o Estado. No fim, Danieli reforça que o coletivo tem papel fundamental no crescimento e valorização das colegas de aldeia.
“Através desse trabalho coletivo fazer com que as mulheres sejam ouvidas e seus direitos garantidos. Temos o direito de ser feliz e ter uma vida digna. Não queremos espaço de ninguém, queremos o nosso que é por direito”, finaliza.
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