Receitas de bombons veganos vira fonte de renda da bióloga "good vibes"
Conhecido por ahimsa, a receita lembra o sabor de uma paçoca mais aveludada
Com a cestinha cheia de jacarandás secos e dos bombons veganos conhecidos como ahimsa, a bióloga Dabini Dantas Soares, de 27 anos, segue pelas ruas da cidade levando filosofia de vida e bom astral aos clientes tão “vibes” quanto ela.
Vendedora ambulante desde que precisou complementar a renda enquanto cursava Biologia na UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados), ela precisou manter o trabalho pesado quando se mudou para a Capital há dois anos e não conseguiu ser aprovada no mestrado em etnobotânica.
Hoje, ela trabalha produzindo saúde, como gosta de se referir ao ahimsa, um bombom feito, basicamente de fibras, de sabor próximo à uma paçoca. Uma vez por semana, Dabini prepara cerca de uma receita e meia, feita com farinha de amendoim torrado, gergelim preto e branco, linhaça marrom e dourada, cacau e melado.
E este processo de produção exige toda uma preparação do ambiente, que é limpo com muito zelo, além da interiorização de conectar-se consigo mesma, mantendo-se em paz, geralmente acendendo um incenso e ouvindo um mantra.
“Vai muito da minha energia nos bombons então eu procuro estar sempre em paz quando vou produzir”, diz. O sabor é mais aveludado que o das paçocas e a receita foi ensinada a ela por uma amiga ainda de Dourados.
Pelas ruas de Campo Grande, cada "sim" é uma vitória. Os "nãos" acabam desanimando, mas ela tem um bom motivo para continuar. "As pessoas que estão na noite já estão bebendo, consumindo várias drogas, lícitas, fumando. Se eu for oferecer um bombom doce é mais um fator que fará mal a ela, por isso eu costumo dizer que trabalho com o que vai contribuir pra saúde das pessoas, vai alimentá-las e dar saciedade.
Na hora de oferecer os ahimsas, Dabini chega de finininho explicando como é o doce, quais ingredientes e quando não recebe logo o não como resposta, diz o preço: um por R$ 3,00 e dois por R$ 5,00. Tem muita gente que leva, mas outros viram a cara só por se tratar de algo "vegano".
"Também tem muita a questão étnica mesmo. Uma vez eu ofereci a uma roda de pessoas e uma senhora virou e falou logo pra mim: 'eu não quero bala baiana'. Isso porque eu estava de turbante, que uso por higiene mesmo, aí eu expliquei a ela e acho que acabou comprando por ter ficado envergonhada de sua resposta".
Para manter a força de vontade como ambulante e não desanimar com os nãos que a vida literalmente dá a ela, Dabini agarra-se à aromoterapia, à cromoterapia e à produção de mandalas.
Como estudo e como terapia pessoal, os aromas naturais ajudam na rotina, a realmente manter a energia positiva, e mesmo estando em outro estado de espírito, na hora de vender, Dabini parece estar sempre em paz. "Acho que as pessoas são espelhos. Se me vêem assim tem muito mais a ver com elas né? Eu agradeço", diz, tímida.
As mandalas são fonte de renda para o mês e também terapia. "Como o custo dela é maior eu costumo usar a venda delas e os cursos que promovo como renda pro mês todo, enquanto que os bombons são para a semana".
Sem ser vegana por ainda não ter tido oportunidade suficiente de mudar radicalmente a dieta e a rotina, Dabini é pontual ao dizer que não compactua com o sistema e vê a pecuária como algo muito agressivo. "Já fui muito séria e fiquei 5 anos sem comer carne, hoje dentro de casa não consumo mas se vou, por exemplo, em um almoço na minha família, de origem nordestina e mineira, eles ficam extremamente chateados, então eu como um pedacinho, experimento".
Sem desistir do sonho do mestrado, ela vê no trabalho com esses artigos uma fonte de renda digna e agora se planeja para aceitar encomendas dos bombons. Quem tiver interesse entre em contato pelo telefone (67) 996581030. Às segundas, Dabini está no Sarau na Praça, costuma ir ao Bar Genuíno e na área externa do Sesc Morada dos Baís.