Um dos temperos mais tradicionais de Campo Grande agora é servido na praça
Receita de feijoada é o que faz filha de Madá se lembrar da mãe sempre
O Bar da Madá foi um importante ponto de encontro de estudantes, músicos e artistas da cidade durante muitos anos em Campo Grande. Todo mundo que chegava lá, na avenida dos Andradas ou em algum dos endereços anteriores era recebido com carinho e pelo sorriso caloroso daquela que dava o nome ao bar.
Há dois anos ela faleceu. A filha Tânia Regina, hoje com 59 anos, não continuou no mesmo lugar. Talvez por não querer se lembrar sempre dos tantos momentos bons que viveu ali com a mãe ou para deixar essas lembranças intactas por lá.
Fato é que tem oito meses que ela está tomando conta da lanchonete da Praça dos Imigrantes e todos os sábados, como a mãe, ela serve a feijoada que é herança de família.
A receita, segundo Tânia, a mãe aprendeu há cerca de 50 anos atrás quando trabalhava na casa de uma família de libaneses. “Eles a ensinaram a fazer, mas com o tempo ela deu o toque especial dela, era uma cozinheira de mão cheia”, afirma.
Depois de deixar o emprego Madá ficou um bom tempo sem reproduzir a receita que aprendera. Um dia, há cerca de 25 anos, sem pretensão nenhuma, Tânia sugeriu à mãe que fizessem uma feijoada no almoço. Na hora, como um estalo, surgiu a antiga receita que não era feita há anos. “Tinha chamado alguns amigos para almoçar em casa, falei pra ela fazer a feijoada e ela lembrou”, recorda.
Desde então a feijoada nunca mais foi esquecida. Começaram a fazer esporadicamente até que no fim da década de 90 passaram a cozinhá-la todo sábado. “No início sempre chamávamos os amigos, aí foram pagando e chamando mais gente, até começarem a tocar nos almoços. Isso lá na vila Nhanhá, em casa, foi assim que começou”, reflete.
Logo surgiu a oportunidade de abrir um restaurante na vila Carvalho. Animada que só, Madá batalhou e conseguiu abrir o espaço. Então, como fazia em casa, passaram a servir a feijoada todos os sábados e agora faziam um sarau.
“Naquela época só tinha feijoada com pagode, acho que até hoje. Com a gente tinha MPB, blues, rock, além de poesia, performance, palco e microfone aberto”, relata. “Ela passou a fazer esse evento que era diferente das coisas que rolavam na época e eu a ajudava sempre”, frisa.
A moda do sarau pegou rápido e o restaurante ficou cheio rápido, de gente que curte uma boa música, estudantes universitários e artistas. Foi assim até o fim da vida de Madá, uma festa só. E no meio disso tudo sempre estava sua famosa feijoada.
Agora é Tânia e sua prima, Jane Epifânio, que fazem a feijoada todos os sábados. Às vezes as lembranças da mãe afloram bastante. “Tem dia que é difícil, não dá vontade de fazer porque lembro muito dela, sempre que faço me vem essas memórias, mas é por isso mesmo que acabo fazendo, ela era só alegria, não ia gostar de me ver assim”, acredita.
Outros momentos também trazem lembranças da mãe no estabelecimento. Como a maior parte da clientela é de amigos, alguns muito antigos, outros feitos com o passar do tempo nos bares da família, muitos ainda chamam a própria Tânia de Madá. “Eu não ligo, respondo, às vezes até fico feliz já que ela é uma inspiração pra mim”, declara.
A receita do ‘legado’ da família ela não revela, mas fazer é bem difícil. Os ingredientes são comprados na quinta-feira, começam a ser cortados e preparados na sexta para no sábado de manhã irem para o fogo por quatro horas, até começar a ser servido ao meio-dia.
“Não fazemos na panela de pressão, é um processo especial”, ressalta. Tânia e sua prima também deram um toque pessoal à receita, a servem, além dos acompanhamentos tradicionais como arroz, farofa, couve cozido e torresmo frito, com uma pimenta dedo de moça empanada.
Quem quiser provar o famoso prato da Madá, agora feita por sua filha e sobrinha é só aparecer na feira dos Imigrantes no sábado. Ele custa R$ 22. Atualmente quem anima os almoços é o músico Laurinho Balejo.