Sem representante de MS, mineira usa faixa do Estado e fica em 2º no Miss Surda
O prazo para inscrição no Miss Surda Brasil, segundo a comissão organizadora, foi de pelo menos 8 meses. Mesmo assim, nenhuma candidata de Mato Grosso do Sul se inscreveu. O jeito foi “encaixar” uma garota de outro Estado, que acabou ficando em segundo lugar. O evento aconteceu neste sábado (2), em Fortaleza, no Ceará.
A vencedora foi a farmacêutica Thaisy Paio, de 25 anos, que desfilou pelo Paraná. A terceira colocação ficou com Isabel Maia, do Rio Grande do Norte.
Nascida e criada em Minas Gerais, Laís Gonçalves, de 22 anos, queria mesmo era representar a terra natal, mas não teve jeito. Larissa Gonçalves, de 19 anos, já havia garantido a vaga.
A única forma de participar foi se inscrever como representante de Mato Grosso do Sul, o único Estado que, até a última hora, não tinha um cadastro sequer.
“Não teve. Infelizmente. Ninguém se inscreveu e também não conseguimos contato com nenhuma candidata surda que quisesse participar ou tivesse perfil”, afirmou, em entrevista por telefone, a bancária aposentada Eudoxia Lima, de 55 anos, porta voz da organizadora, Vanessa Lima Vidal, que é surda.
“Vai ver que os pais não incentivam. Aí deve ter tanta menina bonita, mas o pessoal não se interessa. E existe aquela velha história: o preconceito”, declarou.
Laís disputou o título com outras 18 candidatas, de Estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Rondônia, Rio Grande do Sul, Paraná e, inclusive, Minas Gerais, cidade onde nasceu.
Lala, como é conhecida entre os amigos mais próximos, fez bonito na passarela e acabou levando o segundo lugar. Do Estado que representou ela não sabe muita coisa. O máximo que fez foi pesquisar pela internet, com ajuda do irmão, que é turismólogo.
Por telefone, a mãe, Lindaura Gonçalves da Costa Chaves, de 54 anos, conta que a notícia surpreendeu a filha e deixou a família com vontade de conhecer Mato Grosso do Sul.
“É meu sonho. Eu sempre tive muita vontade de conhecer, mas o marido é meio resistente a viajar de avião. Agora acho que ele vai”, disse, ao comentar que não tem qualquer vínculo com o Estado. Laís, afirmou, também já manifestou interesse.
Em entrevista ao site oficial do evento, a jovem, que é estudante de Ciências Contábeis e Nutrição, disse que é “diferente, não melhor nem pior que ninguém” e que tem orgulho de ser surda.
“Todos os seres humanos nascem diferentes e iguais em dignidade e direito. Sou feliz e sou surda”, afirmou.
Com a classificação, a estudante que subiu na passarela levando a bandeira de MS vai representar o Brasil em outra duas competições: O Miss Deaf World, em Praga, na República Tcheca, e o Miss Surda Internacional, nos Estados Unidos. Já a campeã representará o país no concurso internacional dedicado a deficientes.
Evento - O concurso é coordenado por deficientes auditivos. Na equipe técnica composta por surdos, estilistas, fotógrafos, coreógrafos e produtores de moda. Havia ouvintes que prestaram apoio. Todas as participantes desfilaram com traje típico, de gala e de biquíni.
As apresentações artísticas do evento contaram com shows de mágica, teatro de sombras e dança. Tudo planejado para os deficientes auditivos.
Edições Anteriores – Em 2012, a vencedora foi a estudante de Letras – Libras, Bruna Barroso, que representou o Ceará. O segundo lugar ficou com Reany Oliveira, do Mato Grosso. Na terceira posição este Amanda Molter, que representou São Paulo.
O concurso – O Miss Surda Brasil é uma das várias versões do Miss Brasil. O evento, organizado pela ASCE (Associação dos Surdos do Ceará), está em sua segunda edição e já é considerado o concurso de beleza surda mais importante do país.
A iniciativa é de Vanessa Lima Vidal, surda, sócia da ASCE e responsável direta pela organização concurso no Brasil.