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Lado Rural

Arroba do boi "derrete" e fecha agosto abaixo dos R$ 200,00 em MS

Ainda não é o fundo do poço; segundo analistas de mercado tem margem para cair ainda mais

José Roberto dos Santos | 04/09/2023 14:15
Rebanho bovino criado a pasto em propriedade rural de MS; Estado passou de 5º para 3º lugar em exportações. (Foto: Arquivo/Semadesc-MS)
Rebanho bovino criado a pasto em propriedade rural de MS; Estado passou de 5º para 3º lugar em exportações. (Foto: Arquivo/Semadesc-MS)

O mês de agosto fechou registrando o valor da arroba do boi gordo a R$ 197,00 em Mato Grosso do Sul. Desde 25 de junho de 2020, segundo cotações levantadas no Estado pela Scot Consultoria, a arroba não era comercializada por preço tão baixo. Somente no mês de agosto deste ano, a queda acumulou 12,2%.

Se considerarmos o período de um ano – entre agosto de 2022 a agosto de 2023 – a queda acumula absurdos 28%. E essa conta tem um resultado ainda mais desastroso para o setor se considerarmos os últimos 2 anos: em 24 de agosto de 2021 a arroba do boi gordo em MS valia R$ 310,00. Comparada com as cotações fechadas no último dia de agosto (arroba a R$ 197,00) a queda atinge 36,5%.

Ruralistas e pecuaristas ouvidos pela coluna Lado Rural são unânimes em afirmar que o excesso de oferta causou a queda dos preços. O excesso de oferta começou com a entrada da pecuária na entressafra, que coincide com a chegada do inverno – que em Mato Grosso do Sul é sinônimo de clima seco e escassez de pastagens.

O excesso de oferta obrigou a indústria a encurtar cada vez mais as escalas de abate. Com escalas curtas e freio de mão puxado para as compras, os frigoríficos mantêm margem de abates confortáveis, o que acaba fomentando a tendência baixista das cotações.

Por outro lado, os pecuaristas na pressão continuam enviando vaca e boi gordos para as indústrias, o que explica o aumento nos abates, mesmo a preços escandalosamente mais baixos. Afinal, do lado de dentro das porteiras, produtor precisa recolher impostos, quitar folha de pagamento, encargos sociais, suplementar o gado, manter a infraestrutura funcionando e não aguenta manter o boi no pasto à espera de preços melhores.

Nesse sentido campanha promovida por entidades ruralistas vem ganhando força nas redes sociais incentivando o pecuarista a segurar o gado no pasto e só vender o necessário.

Para o vice-presidente da Acrissul (Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul), Dácio Queiroz, o achatamento dos preços é resultado de décadas de monopólio dos frigoríficos no Estado. Uma situação agravada com a falta de crédito paras pequenos e médios frigoríficos. "Quando você tem poucos compradores, vigora o monopólio, facilitando a manipulação dos preços", avalia ele.

Pressão incessante

E a pressão não para por aí. Com período das águas se aproximando, as chuvas recuperam os pastos, os custos de produção podem até cair, o boi continua engordando, vem a safra, e tudo começa de novo. É um efeito cascata que empurra o preço da arroba do gado para o fundo do poço – ou além.

Em outras praças não é diferente

Em São Paulo, a capital, a arroba do boi é cotada a R$ 196. Em Goiânia, a indicação é de R$ 192 por arroba de boi gordo. Uberaba registrou um preço de R$ 203 por arroba, enquanto em Dourados, a cotação foi de R$ 198. Em Cuiabá mantém a arroba a R$ 180.

Segundo relatório de pesquisadores do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) , a pressão sobre os valores do animal vem tanto da oferta quanto da demanda. No campo, além do já maior volume de boi gordo e de fêmeas prontos para o abate, pecuaristas, temendo novas desvalorizações, passaram a ofertar mais lotes de animais no mercado nacional.

Do lado da demanda, muitos agentes de frigoríficos consultados pelo Cepea vêm reduzindo o ritmo de aquisição de novos lotes, devido ao alongamento das escalas de abate e também aos menores preços pagos pelos chineses pela carne brasileira.

Queda nas exportações

O volume movimentado teve aumento de 15,31% frente ao total embarcado em julho/23, que ficou em 160,7 mil toneladas.  A média diária foi de 8,05 mil toneladas, um recuo de 8,8%, frente a agosto do ano anterior, com 8,83 mil toneladas. Para o analista da Safras & Mercado, Fernando Henrique Iglesias, “todos os indicadores pioram muito e temos um preço médio no patamar de US$ 4.000 mil por tonelada que dificulta os frigoríficos conseguirem uma boa margem de rentabilidade”, disse.

O preço médio até a quinta semana de agosto/23 ficou em US$ 4.510 por tonelada, queda de 26,40% frente agosto de 2022, com preços médios de US$ 6.132 por tonelada. O valor negociado ficou em US $ 836 milhões, contra agosto do ano anterior, com US$ 1,245 bilhão. A média diária ficou em US$ 36,3 milhões, queda de 32,90%, frente a agosto do ano passado, com US$ 54,1 milhões.

Soma-se a este quadro, para agravar, o fato de que no primeiro trimestre deste ano o Brasil ficou exatos 30 dias sem exportar carne bovina para a China, que embargou o País após registro de mal da vaca louca atípico num animal em Marabá (PA). Lembrando que a China é o principal destino dos produtos agropecuários brasileiros.

Segundo o Rally da Pecuária, nos dois primeiros meses de 2023, o Mato Grosso do Sul tornou-se o terceiro maior exportador de carnes, totalizando US$ 171 milhões e 48,3 mil toneladas embarcadas.

Efeito negativo na arrecadação de ICMS

Segundo relatório do Sindifiscal/MS (Sindicato dos Fiscais Tributários do Estado de Mato Grosso do Sul), divulgado em julho deste ano, o setor primário (agricultura e pecuária), cuja participação na arrecadação foi de 10,54%, fechou o primeiro semestre deste ano com um total acumulado de R$ 834,157 milhões em ICMS, uma queda de 14,85% em relação ao mesmo período do ano passado, quando contabilizou R$ 979,629 milhões.

VBP atesta desmoronamento

O VBP (Valor Bruto da Produção) da pecuária, segundo previsões de julho do Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária) terá seu faturamento achatado em 7,7% neste ano em relação ao ano passado. A arroba do boi gordo em Mato Grosso do Sul, com projeções feitas a partir de cotações levantadas pela Scot Consultoria, deu leve sinais de recuperação no mês de junho último, com um aumento de 2,1%, abrindo o mês com a arroba a R$ 229,50 e fechando a R$ 234,50. Entretanto, considerando o semestre todo, a arroba do boi gordo sofreu uma retração de 9,1%. Em janeiro deste ano a arroba abriu a R$ 258,00. Desde então foi só ladeira abaixo.

Para os pecuaristas mais acostumados a lidar com a dinâmica do mercado, a queda é debitada ao ciclo da pecuária, muito por conta da alta oferta de fêmeas para abate, que no futuro pode causar a falta de bezerros e a consequente valorização do gado de reposição, reiniciando nova fase nesse ciclo.

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