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Lado Rural

Associar fungicidas e práticas de manejo é capaz de controlar a ferrugem da soja

Fundação Chapadão e Fundação MS fazem parte de rede científica para encontrar medidas eficazes contra a doença

José Roberto dos Santos | 17/07/2023 14:45
Estufa de cultivo da Embrapa-Soja testa variedades precoces e mais resistentes à doença. (Foto: A. Neto/Embrapa Soja)
Estufa de cultivo da Embrapa-Soja testa variedades precoces e mais resistentes à doença. (Foto: A. Neto/Embrapa Soja)

Mato Grosso do Sul faz parte de uma rede composta por 32 cientistas brasileiros de 23 instituições, que realizaram uma pesquisa contundente sobre o controle da ferrugem-asiática da soja, uma doença que é uma verdadeira dor de cabeça para os agricultores todas as safras. Os pesquisadores concluíram que apenas o uso dos chamados fungicidas multissítios (atuantes em mais de um processo metabólico do fungo) e associar esses defensivos a um pacote de estratégias, entre elas o vazio sanitário, é capaz de reduzir a severidade da ferrugem da soja.

Nesta última safra de verão, o MS registrou 57 ocorrências da doença, atrás somente do Paraná, com 83, segundo o Consórcio Antiferrugem.

Os estudos se deram durante a safra 2022/2023 e os resultados acabam de ser publicados na Circular Técnica 195.  A publicação é resultado de ensaios cooperativos realizados por 23 instituições de sete estados brasileiros (Mato Grosso do Sul, Bahia, Goiás, Mato Grosso, Paraná, Rio Grande do Sul e São Paulo) e do Distrito Federal. De MS participaram a Fundação Chapadão e a Fundação MS.

“Os resultados obtidos e compartilhados anualmente pela rede vêm sendo utilizados para auxiliar técnicos e produtores na determinação de programas de controle mais eficientes para a ferrugem-asiática, a mais severa doença da soja”, destaca a pesquisadora da Embrapa Soja, Cláudia Godoy, uma das autoras da publicação.

Pacote de estratégias 

De acordo com Godoy, o fungo causador da doença é capaz de se adaptar às estratégias de controle, seja pela perda da sensibilidade aos fungicidas ou pela “quebra” da resistência genética presente em algumas cultivares de soja. “Para atrasar o processo de seleção de resistência e aumentar a eficiência dos fungicidas, devem ser adotadas todas as estratégias de manejo, incluindo a adoção do vazio sanitário, a semeadura no início da época recomendada com cultivares precoces ou com gene de resistência, a utilização dos fungicidas preventivamente ou nos primeiros sintomas, sempre com a rotação de fungicidas e a inclusão de multissítios nos que não tiverem na sua formulação”, recomenda a especialista.

Campo experimental da Embrapa Soja, onde são testadas as estratégias de controle da ferrugem da soja. (Foto: Cláudia Godoy/Embrapa Soja)
Campo experimental da Embrapa Soja, onde são testadas as estratégias de controle da ferrugem da soja. (Foto: Cláudia Godoy/Embrapa Soja)

O vazio sanitário é o período de pelo menos 90 dias sem plantas vivas de soja no campo. A estratégia reduz o inóculo do fungo que necessita de plantas vivas para sobreviver e se multiplicar. Isso ainda reduz a presença do fungo no campo e, associado à semeadura no início da época, compõem uma estratégia de “escape” da doença. Mais informações sobre o vazio sanitário da soja, a calendarização da semeadura e estratégias de manejo da doença, estão disponíveis aqui. O Comitê de Ação a Resistência a Fungicidas (FRAC) também traz informações sobre a questão”.

Além do vazio, são preconizados no Brasil: a adoção de cultivares com genes de resistência e de ciclo precoce, a preferência pela semeadura no início da época e o respeito ao calendário de semeadura, estabelecido por normativas definidas em cada estado. A pesquisadora da Embrapa explica que a definição dessas janelas de semeadura colabora para reduzir o número de aplicações de fungicidas, ao longo da safra. “Isso ajuda a atrasar a seleção de populações do fungo resistentes ou menos sensíveis aos fungicidas”, esclarece.

Monitoramento da lavoura

Os pesquisadores da rede recomendam ao sojicultor monitorar a lavoura, desde o seu início de desenvolvimento, para definir o melhor momento do controle químico, evitando atrasos nas aplicações, uma vez que os fungicidas presentes no mercado apresentam baixa eficiência curativa.

Algumas regiões que utilizam cultivares precoces e fazem uma segunda safra com milho ou algodão, por exemplo, têm conseguido “escapar” da doença ou apresentar incidência tardia, o que facilita o controle. “Em regiões que semeiam mais tarde, as cultivares com gene de resistência e o uso dos fungicidas têm proporcionado um bom controle, desde que não ocorram atrasos nas aplicações e se utilize fungicidas com maior eficiência, associados aos multissítios”, explica Godoy.

A pesquisadora informa ainda que nas últimas safras, as mudanças de sensibilidade do fungo da ferrugem aos fungicidas do grupo dos triazóis têm influenciado o controle da doença com os ingredientes ativos protioconazol e tebuconazol (sendo os dois ativos do mesmo grupo). “A presença de novas mutações e a variação de eficiência de ativos do mesmo grupo, como protioconazol e tebuconazol, reforça a necessidade de rotação de ingredientes ativos dentro de um mesmo grupo em programas de controle da ferrugem-asiática”, ressalta.

A ferrugem-asiática da soja

A doença foi identificada pela primeira vez no Brasil em 2001. De acordo com a Embrapa-Soja, os sintomas iniciais da ferrugem são pequenas lesões na folha, de coloração castanha a marrom-escura. As plantas severamente infectadas apresentam desfolha precoce, que compromete a formação, o enchimento de vagens e o peso final do grão.

Segundo levantamentos do Consórcio Antiferrugem, a doença pode levar a perdas de até 80%, se não for controlada, enquanto, os custos com o controle da ferrugem e de outras doenças para os agricultores no Brasil, excedem US$ 2 bilhões por safra.

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