Cientistas desenvolvem inseticida sustentável contra praga dos laranjais
Produto reduz uso de pesticidas pela metade, mas precisa passar por novos testes antes de chegar ao mercado
Um inseticida mais eficaz e sustentável foi desenvolvido pela Embrapa Meio Ambiente (SP) em parceria com o Unicamp (Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas), com o uso de nanotecnologia, para combater o inseto (Diaphorina citri) responsável pela disseminação do greening, também conhecido como huanglongbing e HLB, causado pela bactéria Candidatus Liberibacter spp. A doença atinge todas as plantas cítricas e não tem cura. Uma vez contaminada, é preciso erradicar a plantação afetada.
“Os resultados indicaram que as nanoestruturas foram eficazes com uma dose aproximadamente duas vezes menor em comparação às formulações comerciais”, explica a analista da Embrapa Marcia Assalin , coordenadora do estudo, que contou com apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
Além de aumentar a eficiência, o novo produto pode levar a uma redução do número de aplicações, atenuação no desenvolvimento de resistência das práticas ao inseticida, e redução do impacto ambiental e dos custos associados.
A aplicação de pesticidas na citricultura é semanal. Atualmente é utilizado o tiametoxam, um dos princípios ativos utilizados no controle da doença, que pertence a uma classe relativamente nova de inseticidas, os neonicotinóides, no mercado desde o início dos anos 1990 e integram a lista dos produtos agrotóxicos mais vendidos.
A infestação pelo greening no estado de São Paulo tem incentivado citricultores a migrarem para o Mato Grosso do Sul, que tem previsão de implantar 20 mil hectares de laranja nos próximos anos. Inicialmente se falava em 15 mil hectares. O MS tem 2 mil hectares cultivadas com laranja.
Investimentos em MS
Em maio deste ano, o Grupo Cutrale (conglomerado de empresas que lidera as exportações brasileiras de laranja) anunciou investimento no valor de R$ 500 milhões no plantio de 5 mil hectares de laranja na Fazenda Aracoara, propriedade localizada às margens da rodovia BR-060, na divisa de Sidrolândia com Campo Grande.
A previsão, segundo o diretor agrícola da Cutrale, Valdir Guessi, em nota publicado pelo portal da Semadesc (Secretario de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação ), é iniciar o projeto ainda em agosto.
Produtores de São Paulo pretendem plantar 5,1 mil hectares de laranja no município de Três Lagoas, costa leste de MS. O plantio começará com 760 hectares e vai sendo ampliado gradativamente; todo o pomar será irrigado, o que aumenta o potencial produtivo das plantas.
Os investimentos seguem em outras cidades. O Grupo Junqueira Rodas começou em abril o projeto de citricultura em Paranaíba, com a intenção de plantar em 1,5 mil hectares, e já anunciaram que vão produzir em Naviraí neste segundo semestre, mais 2,5 mil hectares.
Os grupos envolvidos nos projetos falam em produzir as mudas dentro do próprio Estado e não trazendo de fora, o que reduz consideravelmente o risco de disseminação do greening.
Quinze mil ou 20 mil hectares de plantio, o fato é que o Mato Grosso do Sul abre uma demanda para produção entre 8,5 milhões e 12,5 milhões de mudas, considerando o plantio de 571 mudas por hectare, como se tem estimado.
Como é a nanotecnologia utilizada
Nanopesticidas referem-se a formulações que utilizam nanomateriais em sua composição e que apresentam elevada eficiência de aplicação e menos efeitos tóxicos ao ambiente em comparação com as formulações convencionais do mesmo ingrediente ativo. Nesse trabalho, o método de formulação utilizado foi o nanoencapsulação do ingrediente ativo treinado, resultando em uma liberação sustentada pelas nanopartículas, elevada estabilidade e especificidade.
De acordo com Ljubica Tasic, professora da Unicamp, o nanoinseticida representa uma das maneiras pelas quais a nanotecnologia pode promover práticas agrícolas mais sustentáveis. A agricultura, para ser considerada sustentável, deve garantir às gerações futuras a capacidade de suprir as necessidades de produção e qualidade de vida no planeta. Para isso, deve ser capaz de aumentar o rendimento agrícola, utilizando menos recursos, ao mesmo tempo que reduz o seu impacto ambiental e assegura a saúde dos ecossistemas de apoio, de forma a garantir a continuidade e a qualidade dos recursos naturais necessários para a produção de alimentos. .
* Com informações da Embrapa Meio Ambiente e da Semadesc.